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Rosana Ricalde: Um vocabulário cartográfico

Artista carioca inaugura exposição Territórios Imaginários, na qual apresenta obras com temáticas espaciais no próximo dia 24, às 20h, no MAMM

Viver o cotidiano sem deixar que os mínimos detalhes não sejam banalizados é uma tarefa árdua para o exercício do olhar.  Em Territórios Imaginários, exposição que o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) inaugura dia 24 de maio, às 20h, na Galeria Retratos-relâmpago, a carioca Rosana Ricalde, uma das mais celebradas artistas contemporâneas do país, irrompe o cotidiano e toca o sensível em discussões que envolvem o espaço e as palavras. Com curadoria da jornalista e professora Mariana Lopes Bretas, a mostra revê trabalhos marcantes na trajetória da artista sob a ótica da utilização dos mapas como recurso poético. “As obras aqui apresentadas nos mostram diferentes mapas que se apropriam da cartografia oficial corrente e a deformam. Elas constroem mapas simbólicos que sugerem um novo sentido de lugar e criam novas relações entre os sujeitos e os espaços, seus entornos e suas representações”, aponta Mariana.

Formada em Gravura pela Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rosana Ricalde já expôs em países como Portugal, México, Espanha, Japão, São Tomé e Príncipe, Croácia, França, Porto Rico e Madri, além de dezenas de mostras, entre individuais e coletivas, pelo Brasil. Uma das vencedoras da terceira edição do Prêmio CNI Sesi Marcantônio Vilaça, em 2010, a artista integra as coleções de Gilberto Chateaubriand, Fundação Patrícia Phelps de Cisneiros, Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (MAMAM) e Sesc  Nacional. “Desde a universidade, venho trabalhando, estou sempre expondo. Para toda exposição, crio uma história. Interesso-me pelas narrativas”, comenta Rosana.

 

Arte feita de terras e mares

“A exposição é uma oportunidade de o artista ver o próprio trabalho de fora”, afirma a artista, evidenciando seu mergulho em cada obra que produz. De acordo com o crítico de arte Guilherme Bueno, a obra de Rosana é resultado de um exercício poético contínuo. “[Trata-se de] um desejo de não conformar a visualidade à banalidade bruta, instrumentalizada e alienante do olhar passivo”, reflete Bueno em texto para a exposição.

Os trabalhos selecionados para a mostra remontam o percurso da artista e evidenciam sua íntima relação com as palavras. Na série As Cidades Invisíveis, de 2009, Rosana recria mapas de cidades como Rio de Janeiro, Nova York e São Paulo, com frases do livro homônimo de Ítalo Calvino, cuja história trata de cidades imaginárias. Já na série Marítimo, de 2009, a artista desenha ondas com nomes de diversos mares. O livro As mil e uma noites também serviu à artista, que criou labirintos e uma bola com frases da obra. “Se as palavras formam literalmente imagens ou se estas últimas se espraiam em textos, o fato é que nas duas situações explicita-se o mecanismo do vislumbre de algo que parece não caber nos limites da forma”, conjetura Bueno, indicando a originalidade do trabalho de Rosana.

Resultado dos recentes estudos de Mariana Bretas – doutoranda em História e Teoria da Arte Contemporânea, na Universidad Complutense de Madrid –, a exposição focaliza os territórios como a poética contemporânea capaz de refletir as cidades e o próprio fazer artístico. “Esses mapas [de Rosana Ricalde] apresentam novas perspectivas, novas possibilidades de leituras, novas maneiras de ver o mundo. Tudo isso para que possamos refletir sobre nós mesmos diante dos fluxos e intercâmbios atuais”, aponta Mariana.