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O Brasil segundo a grafia de Glauco Rodrigues

MAMM abre, no próximo dia 9, às 20h, retrospectiva de um dos maiores artistas gráficos do país

A 32ª Bienal de Veneza, ocorrida em 1964, notabilizou-se na história da arte brasileira por inaugurar o pavilhão do país numa das mais relevantes mostras do mundo.  Convidado pelo setor de Divisão Cultural do Ministério das Relações Exteriores, Murilo Mendes colaborou na seleção dos artistas que representariam o Brasil na Bienal. Entre nomes já consagrados, como os de Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi, Murilo percebeu no trabalho de Glauco Rodrigues outra possibilidade de escrita da arte nacional. Segundo o poeta juiz-forano, o pintor alcançou “uma conceituação mais ampla da obra como sistema de representação autônoma”, fruto de passagens de Glauco por diferentes linguagens e questionamentos.  A trajetória do artista, nascido em Bagé e radicado no Rio de Janeiro, poderá ser vista na exposição O universo gráfico de Glauco Rodrigues, que o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) recebe na galeria Convergência, a partir de 9 de maio, às 20h.

Sob a curadoria do dramaturgo Antônio Cava, a mostra, que já percorreu três grandes capitais – Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba –, reúne mais de 100 obras originais, entre litografias, serigrafias e linoleogravuras, além de ilustrações para revistas, livros e discos, cobrindo um período de mais de 50 anos de produção artística. Selecionados do acervo do artista, guardados por sua esposa Norma Estellita Pessôa, curadora adjunta da exposição, os trabalhos confirmam a habilidade gráfica de um artista que buscou, ao longo da vida, retratar a nação discutindo seus símbolos e recriando sua identidade. “Na sua obra gráfica, como na sua pintura, o Glauco nunca deixou de dizer: ‘Que país curioso este nosso, e que país bonito’”, destaca o escritor Luis Fernando Veríssimo, em texto de apresentação do catálogo.

 

A inscrição no contemporâneo

Falecido em 2004, aos 75 anos, Glauco Rodrigues trouxe para sua obra elementos reconhecidamente brasileiros, signos facilmente decifráveis e identificados com a nação. Para sua incessante investigação, o artista se utilizou de diferentes suportes, da mesma forma que multiplicou os canais em que exibiu sua obra, indo da TV às paredes brancas com naturalidade e desenvoltura. “O artista utilizou e defendeu o recurso da reprodução gráfica, disciplina muito cultivada em sua carreira, para democratizar sua arte, que é de grande significação cultural para a identidade brasileira”, reflete o curador, justificando sua caracterização como contemporâneo pelo livre trânsito que estabeleceu entre o popular e o erudito.

Vanguardista desde o início de sua carreira, Glauco criou, em 1951, junto a Glênio Bianchetti e Danúbio Gonçalves, o Clube de Gravura de Bagé. Três anos depois, integrou o Clube da Gravura de Porto Alegre, ao lado de Vasco Prado e Carlos Scliar. Pioneiros da gravura no Brasil, os clubes, guiados pelo realismo socialista, permitiram que Glauco se aprimorasse no desenho e se inserisse no circuito artístico.  Com sua mudança para o Rio de Janeiro, em 1959, fez parte da primeira equipe da inovadora revista Senhor, e, por definitivo, estabeleceu-se como artista. Definida pelo escritor Rubem Braga como “uma pintura brasilianista”, a obra de Glauco permeou o abstrato e o figurativo, influenciada pela Pop Art e pelo Tropicalismo. “É uma pintura destinada a encarar e a revelar o Brasil com olho crítico, através de uma montagem ‘carnavalesca’, onde histórias, imagens e fantasias do nosso passado e presente se unem”, diagnosticou o crítico Roberto Pontual.

Presente em importantes coleções e eternizado em capas de discos, livros e cartazes teatrais, o universo gráfico de Glauco Rodrigues permite confirmar não apenas o olhar sensível de Murilo Mendes quando da exposição italiana, mas uma escrita do que é o Brasil através de cores, imagens e emoções.