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Poesia como instrumento da música

Estrela Leminski e Téo Ruiz falam sobre a música independente no projeto Leituras Temáticas, dia 2, e cantam o disco Música de Ruiz, no Musicamamm, dia 3

“Sons sãos são sons, sem senãos são tão bons”, enumera a canção São Sons que dá título ao disco do projeto Música de Ruiz, da dupla Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz. Numa imediata relação, surge o poeta paranaense Paulo Leminski e a poetisa e compositora Alice Ruiz, que se apresentam não somente na preferência pelos jogos de palavras e pelas lúdicas soluções sonoras para frases complexas. Estrela Ruiz Leminski carrega a poesia no sangue. E leva para o palco a responsabilidade de escrever versos, dividindo com o marido Téo Ruiz a tarefa. No próximo dia 2, às 19h, a dupla ministra a palestra A autoprodução musical no projeto Leituras Temáticas, e, no dia 3, às 20h, se apresenta no Musicamamm, numa releitura dos 10 anos de atividades musicais.

Reconhecidos pela versatilidade de suas produções, os artistas curitibanos se utilizam de instrumentos peculiares, de música eletrônica e de diversos ritmos brasileiros na busca de uma música-poesia. O último disco, dos três já lançados, remete a algumas experimentações musicais da vanguarda paulista, que ganhou destaque nos anos 80 com nomes como os de Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e Tetê Espíndola.  A dupla também está inserida em um contexto de compositores curitibanos chamados “cantautores”, que transitam entre a música e a poesia. “Cada música tem o que a letra exige no momento, por isso somos ecléticos. E essa é uma herança da vanguarda paulista”, explica Téo. “O nosso trabalho está muito influenciado pela canção, que é a junção da letra e da melodia. Nosso foco é na mensagem. E, muitas vezes, utilizamos a poesia para passar essa mensagem”, completa.

A música como tema de pesquisa

Expoentes da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Estrela e Téo produziram em parceria o livro Contra-Indústria, fruto da Pós-Graduação em Música que ambos cursaram. A obra aborda o momento atual da Música Popular Brasileira e tem como base a produção do primeiro disco, Música de Ruiz. Os autores tratam os artistas independentes, cuja atuação está fora do circuito industrial do país, como profissionais de qualidade, diferenciando-os dos produtores das décadas de 80 e 90, cuja característica principal era o amadorismo. “Aqui no Brasil nós temos uma rede extremamente complexa na música popular”, defende Téo, apontando para os diversos gêneros que se proliferam de norte a sul do país.

Nesse sentido, a palestra A autoprodução musical abordará diferentes estruturas de produção cultural na música brasileira, como leis de incentivo e novos modos de distribuição dos produtos culturais. Confirmando a competitividade mercadológica dos produtores independentes, Estrela e Téo pretendem discutir a diversidade musical do país e a confluência de diferentes gêneros e estilos que, durante os últimos 20 anos, marcaram a reconfiguração do setor musical do Brasil e do mundo, à reboque dos avanços tecnológicos. “Hoje em dia, o compositor é obrigado a assumir outras funções e gerenciar sua própria carreira. Ele tem uma visão ‘não especialista’ do processo da música. Ele, hoje, entende de tudo um pouco”, discute o músico, que desenvolveu durante o mestrado na Espanha seus estudos sobre o tema. “A indústria da música não está em crise, o que está em crise é o mercado das gravadoras”, enfatiza, mostrando intimidade com o cenário atual.

A música como voz dos poetas

Seguindo os versos de Reinvento, Estrela e Téo cantam: “Tudo que é leve o vento leva, eu quero aprender um jeito de reinventar”. Num álbum construído por parcerias, Reinvento, feita em parceria com a mineira Ceumar, é destaque tanto pela sonoridade, facilmente identificada à nova geração de cantores e cantoras nacionais, quanto pela letra, que permite apontar o desejo de renovação buscado por esses jovens músicos.

Reunindo 13 composições do casal com vários artistas e poetas, o disco conta com participações especiais de Rubi, Makely Ka, Alice Ruiz, Carlos Careqa, Ceumar, Ná Ozzetti, André Abujamra, entre outros. Acompanhados por Fred Teixeira (violão e vocal), Du Gomide (guitarra e voz), Érico Viensci (baixo) e Denis Mariano (bateria), Estrela e Téo se dedicam a várias mensagens, todas com a função de apresentar a multiplicidade dos sons na nova música brasileira. “Trabalhamos as sonoridades em diálogo. Não medimos esforços para encontrar uma sonoridade. É um disco a serviço da canção”, finaliza.