Escritor presta depoimento e lança dois novos livros dia 20, no MAMM
Poeta, cronista, ensaísta e administrador cultural, Affonso Romano de Sant’Anna vem a Juiz de Fora participar do Diálogos Abertos, projeto do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), que registra depoimentos com personalidades relevantes por sua contribuição à cultura, à arte e à política da cidade. O evento ocorre no dia 20 de março, às 18h, e terá como entrevistadores Iacyr Anderson Freitas, Fernando Fiorese, Jorge Sanglard, Marisa Timponi e Edimilson de Almeida Pereira. No mesmo dia, às 20h, o autor lança seus mais recentes títulos: Sísifo desce a montanha (Editora Rocco) e Ler o mundo (Editora Global).
Mineiro de Belo Horizonte, criado em Juiz de Fora e radicado no Rio de Janeiro, Affonso Romano de Sant`Anna se tornou um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, no ano de 1963, em sua cidade natal. Também na década de 60, participou de movimentos políticos e sociais que marcaram o país. Mesmo durante a ditadura militar, publicou poemas nos principais jornais brasileiros – não nos suplementos de cultura, mas nas páginas de política.
Seus poemas foram traduzidos para vários idiomas e chegaram a escritórios, bares e até ao horário nobre da TV Globo. Na década de 70, organizou, na PUC-Rio, a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura. Com mais de 40 livros publicados e tendo ensinado em universidades estrangeiras e nacionais, ele também criou o Proler, o Sistema Nacional de Bibliotecas e programas de exportação da cultura brasileira.
Juiz de Fora
Sant’Anna passou sua infância e adolescência em Juiz de Fora. Estudou na Escola Estadual Fernando Lobo, trabalhou no antigo jornal Gazeta Mercantil e fundou o Centro de Estudos Cinematográficos, entidade com fins culturais, que, nas décadas de 50, 60 e 70, buscava o incentivo ao estudo do cinema através de cursos, debates, palestras e mostras de filmes. Sua mãe nasceu em Juiz de Fora, pertencente a uma família italiana imigrante, e seu pai era capitão da Polícia Militar. “Sempre acompanho a vida de Juiz de Fora. Mantenho contato com amigos que estudaram comigo na PUC-Rio, o Iacyr Anderson Freitas, o Fernando Fiorese”, comenta.
O indivíduo que lê o mundo
Sant’Anna une a palavra à ação. Seu olhar se articula para analisar as relações do cotidiano, da vida, seja de forma histórica, política, social ou cultural. No livro Ler o mundo (Editora Global), o autor faz relações entre cinema e leitura, leitura e antropologia e entre leitura e política. O autor registra, no terceiro capítulo, como foi assumir a presidência da Biblioteca Nacional, oitava maior biblioteca do mundo, com oito milhões de volumes, em plena crise durante o governo Collor. “É um livro de ensaios e crônicas sobre a leitura, que acompanha a modificação nos últimos 20 anos do panorama de leitura no Brasil”, diz. Sant’Anna pensa o Brasil e a cultura de seu tempo, revelando os paradoxos da cultura brasileira.
O escritor reflete sobre a vida e não deixa de pensar também na passagem do tempo e da finitude. Em Sísifo desce a montanha (Editora Rocco), recorre ao mito grego de Sísifo, que conseguiu driblar seu destino e aprisionar a morte, sendo condenado, por essa ousadia, ao trabalho de rolar uma grande pedra ao topo de uma montanha. “É um livro de maturidade, sobre o tempo, a sociedade decadente em que vivemos: a crise da história, os problemas ecológicos”, informa. Apesar do tema central do livro ser a morte, este é um livro sobre a vida, sobre o grande aprendizado que é viver. Seu olhar trespassa a morte e volta-se para a vida que o rodeia, para a breve existência do humano neste mundo mutável e cheio de nuances. “O escritor é um indivíduo que lê o mundo”, afirma.