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Lançamento de “Montezinas” no MAMM

Da fonte que Murilo bebeu

O livro Montezinas, primeiros versos de Belmiro Braga, é lançado dia 9 de junho, no MAMM , com seleção, estudo crítico e organização das pesquisadoras Marisa Timponi e Leila Barbosa

 

Não foi à toa que as pesquisadoras Marisa Timponi e Leila Barbosa, especialistas em Murilo Mendes, se ocuparam de um projeto muito especial: o livro Montezinas, com os primeiros versos de Belmiro Braga, o conhecido “Trovador de Vargem Grande”. Esta seleção, que remonta a poesias de 1902, revela interessantes facetas do escritor, cujo busto está no Parque Halfeld, homenageado por Juiz de Fora, sua terra natal. Segundo as professoras, como um mestre na trajetória inicial de Murilo Mendes, Belmiro Braga levou o discípulo a beber em sua fonte, a do encantamento pelas palavras.

Com lançamento marcado para 9 de junho,  quinta-feira, às 19 horas, Montezinas traz ao Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o fruto de uma pesquisa que cumpre uma teoria defendida por Marisa Timponi, a do Triângulo da Cultura, em que ao centro está a cultura em si, ladeada pelos princípios da produção, da divulgação e da preservação, a partir dos quais um elemento local tem a chance de se abrir ao mundo. “É como Maiakovski escreveu: conheça o seu quintal e você conhecerá o mundo”, observa a professora.

Poética universal

As pesquisadoras identificam elementos de metalinguagem nos versos analisados, observando a natureza dentro do texto e a versão lírica do amor, além da mensagem crítica que o escritor sempre manteve em sua obra. “O poema Velha Canção, que consta da página 82 de Montezinas, mostra o discurso de amor e medo, que é muito atual e merece ser lido, não apenas pela força expressiva, mas, sobretudo, para a percepção de sua atemporalidade”, defendem. Ao olhar do leitor, mostra-se uma poética universal, psicanaliticamente aberta às questões da alma.

A escritora Rachel Jardim, que prefaciou o livro, destaca o fato de Belmiro Braga ter sido conhecido nacionalmente: “Profundo sabedor da língua, escritores de todo Brasil o consultavam a respeito de seus textos, de suas dúvidas estilísticas e gramaticais. Correspondeu-se com o grande Machado. Teria feito um exemplar dicionário, do porte do de Aurélio e Houaiss, se naquele tempo se publicassem dicionários no Brasil. Ensinou português à intelectualidade local, inclusive a Murilo Mendes, a quem deu bons conselhos, sem se escandalizar com a singular modernidade do jovem poeta”.

Entusiasmo

Marisa Timponi fala da emoção de reeditar esta primeira obra de Belmiro Braga, selecionando os versos, apresentando um estudo crítico e uma biobibliografia, principalmente pelo fato de Leila Barbosa ser da família do escritor, seu tio-avô. Isso facilitou o trabalho, e a intenção de ambas é, oportunamente, doar ao MAMM o material coletado pela pesquisa História Literária de Juiz de Fora sobre Belmiro Braga, que consta de fotografias, manuscritos e jornais de época. Entre as preciosidades deste garimpo literário está um cartão que Machado de Assis dedicou, de próprio punho, ao poeta juiz-forano.

Com uma agenda que denota a importância do trabalho realizado, Marisa Timponi e Leila Barbosa comemoram que, antes mesmo do lançamento oficial, no MAMM, Montezinas está na agenda de programações da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (APES/JF) e do município de Belmiro Braga. As duas pesquisadoras também já aceitaram o convite da Academia Mineira de Letras para lançamento do livro em Belo Horizonte, em data a ser marcada no segundo semestre de 2011.

Montezinas foi editado a partir de um projeto aprovado, em 2010, pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, a Lei Murilo Mendes, da Prefeitura de Juiz de Fora. Ao todo, foram impressos mil exemplares, 300 dos quais já foram entregues à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), conforme exigências legais. A partir do lançamento em 9 de junho, o livro poderá ser adquirido ao preço de R$ 20,00 e estará disponível em livrarias da cidade.

 

Sintonia plena

A parceria entre as pesquisadoras existe há cerca de 30 anos e se iniciou à época em que defendiam suas teses de mestrado. De lá para cá, foram muitos e profícuos os frutos desta relação de amizade. Entre os momentos gratificantes para esse trabalho conjunto está a indicação ao Prêmio Jabuti do livro Ismael Nery e Murilo Mendes: reflexos, o primeiro do Selo MAMM. Neste mesmo ano, 2010, receberam a boa notícia de que o projeto de Montezinas fora aprovado pela Lei Murilo Mendes.

Marisa Timponi e Leila Barbosa observam que esse exercício a quatro mãos vai além do sucesso, implicando em reflexões até sobre possíveis pontos divergentes como estímulo ao crescimento do trabalho. “Nosso convívio extrapola o material, é uma espécie de harmonia perfeita, que não é monotonal; ao contrário, inclui tonalidades diversas que compõem o princípio do arpejo que Mário de Andrade falava. Isso ficou claro em Ismael Nery e Murilo Mendes: reflexos, que escolhemos não ao acaso, mas por se tratar de uma amizade verdadeira como a nossa”.

 

Serviço:

Lançamento: Livro Montezinas, de Belmiro Braga, a partir de projeto das pesquisadoras da História Literária de Juiz de Fora, Marisa Timponi e Leila Barbosa.

Data: 9 de junho, às 19h

Local: Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM)

Endereço: Rua Benjamin Constant, 790, Centro, Juiz de Fora, MG

Contatos: (32) 3229-9070 (MAMM) e (32) 2102-3964