Qual é a fórmula para se prolongar a vida humana? A pergunta ainda é uma incógnita a ser desvendada pela ciência. De acordo com dados divulgados pela Database Internacional em Longevidade, mais de quatro mil pessoas viveram além dos 105 anos de idade entre 2020 e 2022. E se no futuro essa for a realidade de uma grande parcela da população?  O Departamento de Ciência da Computação (DCC) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está desenvolvendo pesquisas que podem ajudar a prolongar a vida humana. E melhor, com mais saúde e qualidade de vida. 

Em parceria com o Centro de Pesquisa e Educação em Envelhecimento (Crea), da UC Berkeley, da Califórnia, nos Estados Unidos, pesquisadores estão empenhados em buscar soluções para a longevidade, aliando tecnologia e inovação. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo permeiam, por exemplo, modelos matemáticos que reproduzem níveis de cortisol no organismo, como forma de reduzir a vulnerabilidade da população idosa a diversas doenças. O uso de linguagem computacional é utilizada para compreensão de variação de hormônios no ciclo circadiano e, inclusive, criar uma alternativa para experimentos in vivo.

Professora Bárbara Quintela possui experiência com desenvolvimento de modelos matemáticos aplicados à compreensão de fenômenos biológicos (Foto: Alexandre Dornelas)

A coordenadora do projeto e vice-diretora do Departamento de Ciência da Computação, Bárbara Quintela, parceira de longa data do Crea, informa que a colaboração vai além do Brasil e EUA, envolvendo também pesquisadores do Canadá, Havaí e Portugal. A ideia é unir profissionais ao redor do mundo para pesquisar e chegar em um objetivo comum: “Na ciência não fazemos nada sozinhos, precisamos de um time para fazer tudo. É ótimo poder trabalhar em um projeto com pessoas diversas, com experiências diferentes, porque nós sempre estamos aprendendo um com o outro.” 

A pesquisadora ressalta que, quando se tem o mesmo objetivo, as coisas são feitas bem mais rápido. “Para resolver um grande problema, precisamos de muitas pessoas trabalhando juntas, grandes mentes trabalhando juntas.”

Para o diretor do Crea, Steven Garan, essa parceria é inovadora e única. “Ninguém está fazendo o que nós estamos. Nós vamos desacelerar o envelhecimento. Vamos viver por muito tempo. Estamos construindo um modelo de como as pessoas envelhecem para desacelerarmos isso. De certa forma, será possível permanecer com 30 anos por mais tempo. Há 150 anos atrás, a vida não era boa para muita gente. Hoje, viver é divertido para muita gente. Não é apenas viver por mais tempo, mas viver mais e mais saudável. Não é passar a vida, mas aproveitar a saúde”, projeta.

Simpósio internacional 

Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional (PGMC), a Universidade sediou neste mês o evento Brazilian Aging Research & Technology Symposium (Barts). O encontro reuniu pesquisadores das duas instituições para debater as principais questões relacionadas ao envelhecimento e à tecnologia. “As palestras abordaram desde formas de pensar em como realizamos os funerais a como identificar marcadores de doenças degenerativas associadas ao envelhecimento”, exemplifica a docente da UFJF.

“Para os estudantes e a Universidade, foi ótimo participar de um evento internacional aqui, sem ter que viajar, para conhecer as pessoas, praticar o inglês e ver publicações de estudantes diferentes. Nós estamos abertos para esse intercâmbio. Foi incrível conhecer o alto nível das pesquisas realizadas na UFJF e poder apresentar para pesquisadores baseados em outros países – como Estados Unidos, Portugal e Itália – o potencial que temos nos nossos programas de pós-graduação. Todos ficaram impressionados”, complementa.

Barts contou com apresentação de trabalhos de acadêmicos e pós-graduandos (Foto: Arquivo pessoal)

Para a aluna de Sistemas de Informação, Anna Júlia Lucas, o Barts e outros eventos internacionais são uma grande janela para trocas e novas oportunidades. Além do pioneirismo do simpósio, ela considera que foi um marco muito importante para a comunidade acadêmica e científica que se dedica ao estudo do envelhecimento humano e das tecnologias voltadas para essa população. Dentre as apresentações que mais lhe chamaram atenção ela cita os modelos matemáticos utilizados para representar e auxiliar a compreensão dos fenômenos biológicos, além do minicurso de comandos Unix para Bioinformática, ministrado pelo pesquisador Warren Freitag.

Tendo também auxiliado na organização, Anna considera que foi uma experiência totalmente enriquecedora trabalhar ao lado dos palestrantes, que lhe permitiu interagir com vários especialistas, ampliando sua visão sobre o tema. “Pude ver de perto como as pesquisas realizadas em outras instituições podem contribuir para aprimorar as pesquisas aqui desenvolvidas, bem como identificar possíveis colaborações futuras. As parcerias podem ser extremamente benéficas, pois fornecem acesso a recursos e experiências de outras instituições, além de oportunidades de atuação em projetos e pesquisas interdisciplinares”, comenta.

Próximos encontros

Diretor de Bioinformática do Crea, Steven Garan também é pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, tendo desenvolvido o Automated Imaging Microscope System (Aims)

Acadêmicos de diferentes cursos já fazem parte do projeto, como estudantes de Engenharia Mecânica e Biologia, mas Bárbara Quintela ressalta que gostaria de acolher pessoas de outras áreas para a iniciativa, como Comunicação e Marketing, para disseminar o Barts e, inclusive, integrar o público em geral.

Para a próxima edição do Barts, a expectativa é promover um evento maior, inclusivo e universal, buscando ampliar o público para a comunidade em geral e acadêmica, principalmente estudantes de graduação. Os meses de inverno também são os ideais para os organizadores, uma vez que os alunos estrangeiros conseguem viajar para o Brasil durante este período. “Agora que conheço o Brasil, vou contar para todo mundo como é, vou voltar ano que vem e trazer mais pessoas. Precisamos trazer as pessoas para a conferência porque se elas vão viver por mais tempo, o que vão fazer com a vida? Você precisa estar atento a isso, porque pode querer fazer algo diferente”, afirmou Garan. 

UFJF convoca docentes pesquisadores para mapear projetos e incentivar a colaboração científica

Tendo em mente que a ciência não é feita sozinha, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp) da UFJF convoca todos os docentes pesquisadores da instituição a preencherem um questionário com a finalidade de mapear as pesquisas desenvolvidas na instituição. A partir das respostas, serão traçadas estratégias e ações para viabilizar a colaboração entre áreas e eixos científicos que abordem assuntos em comum, incentivando a cultura da pesquisa colaborativa e formação de redes na UFJF. O formulário está disponível pelo Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga) – na aba Eventos – e pode ser preenchido até 25 de abril de 2023.

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU

As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto de pesquisa citado nesta matéria se alinha aos ODS 3 (Saúde e bem-estar) e 9 (Indústria, inovação e infraestrutura).

Confira a lista completa no site da ONU.