O projeto Minas de Lama, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), nasceu para divulgar informações confiáveis e responder dúvidas da população sobre os desastres causados pela mineração no estado de Minas Gerais. Neste dia 25 de janeiro, que marca quatro anos da data em que houve o rompimento da barragem em Brumadinho, o programa de extensão lança um podcast e um canal do Youtube de divulgação científica. Em ambas as plataformas, serão publicadas pílulas de conteúdo descrevendo, de forma breve e acessível, informações de trabalhos científicos relevantes para as pessoas diretamente atingidas pelas tragédias de Mariana e Brumadinho.
Questões como o risco do surgimento de superbactérias a partir dos rejeitos e dúvidas como “afinal, pode plantar na lama?” são alguns dos temas abordados nas pílulas que já estão disponíveis nas plataformas digitais. Pesquisas de instituições como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) são explicadas, sempre de forma breve e simples.
“Desde 2018, o Minas de Lama, em parceria com o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, trabalha com divulgação científica, ampliando o alcance das publicações acadêmicas sobre os desastres da mineração”, informa o professor Miguel Fernandes Felippe, coordenador do projeto e do grupo de pesquisa Temáticas Especiais Relacionadas ao Relevo e à Água (Terra).
A equipe do Minas de Lama ainda compartilhou com o portal de notícias da UFJF, com exclusividade, destaques entre o conteúdo que será divulgado. Confira abaixo parte dos episódios e siga os perfis oficiais do podcast e do canal do Youtube do projeto para receber, com antecedência, todas as informações.
Risco de formação de “superbactérias”
Um dos episódios explica a relação entre rejeitos de barragens de mineração e o desenvolvimento de superbactérias, baseado em pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) que investigaram se, nos locais impactados por rejeito, houve um aumento de genes que conferem maior resistência de bactérias aos antibióticos. “Eles perceberam que a turbidez da água e a presença de metais pesados foram maiores nas amostras influenciadas por rejeito de mineração. Além disso, encontraram genes de resistência microbiana para dezenas de remédios existentes no mercado, mesmo em pontos não afetados por rejeitos”, resume a equipe do Minas de Lama.
De acordo com a pesquisa, em trechos que concentravam rejeitos de lama, a quantidade de genes de resistência era muito maior. “Quando contaminam os seres humanos, essas bactérias podem resistir a ação dos medicamentos convencionais como se fossem superbactérias, assim, causam tantos problemas de saúde pública quanto de regulação dos ecossistemas.” Mesmo nas águas com menos turbidez – ou seja, mais claras –, foram constatadas altas taxas de genes de resistência. “Logo, mesmo as águas que aparentam estar limpas podem conter essas bactérias existentes”, alertam.
Minério-dependência: além do fator econômico
Com o rompimento da barragem em Brumadinho, além de todas as consequências imediatas do desastre, mais um medo passou a assombrar a população da cidade: o de perder os postos de trabalho junto à Vale, empresa de mineração que, recentemente, foi denunciada pelos crimes de poluição, contra a fauna e contra a flora, na região atingida. Sobre esse aspecto, o projeto Minas de Lama repercute uma pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) que traçou as dinâmicas financeiras de Brumadinho para discutir a ideia de uma dependência municipal da mineração – afinal, outra preocupação local era uma possível menor arrecadação de impostos do município.
“A população via com certos prestígios postos de trabalho na Vale e, apesar de serem empregos com remuneração mediana, representavam 20% dos empregos formais no município. Em relação a arrecadação de impostos, a Vale foi a empresa do ramo minerário que menos contribuiu em Brumadinho, com um valor representava apenas 3,4% do valor das operações da empresa”, explica os integrantes do Minas de Lama. “Ao longo do tempo, o poder empregatício das empresas acaba flexibilizando a tolerância dos cidadãos ao risco. Ou seja, mesmo que exista o risco de rompimento ou a constante poluição de solos e rios, a população não questiona as posturas das empresas que oferecem seus empregos.”
De forma direta, é explicado no episódio que a dependência da mineração – chamada de minério-dependência – acaba, por fim, dificultando o desenvolvimento de ramos econômicos e desmobilizando a movimentação social da população. “Muito além da economia de Brumadinho, a minério-dependência transforma a sociedade e as pessoas que nela vivem.”
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