Relatório de pesquisa coordenada por Bruno Milanez aponta fatores do desastre em Brumadinho e propõe soluções (Foto: Maria Otávia Rezende)

Três meses de intensas pesquisas sobre o rompimento da Barragem I da Vale, em Brumadinho, resultaram na publicação de um relatório com diferentes aspectos do desastre. Lançado na última segunda, 22, o trabalho foi desenvolvido pelo Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (Poemas), sob coordenação do professor da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Bruno Milanez.

As análises tiveram como foco as questões econômicas e institucionais do desastre, entre elas, as estratégias da mineradora em relação ao mercado financeiro, os custos operacionais e os investimentos (ou a falta de) em manutenção preventiva. Especificamente sobre a mina do Córrego do Feijão, o relatório aponta o esgotamento dos recursos naturais naquela cava. Era uma mina em “fim de vida” com baixo teor de minério, que foi levada ao seu limite, a partir de expansões e novos licenciamentos.

Segundo a pesquisa, mudanças na legislação facilitaram a concessão da licença para o Complexo do Paraopeba, sem que elementos de risco fossem devidamente avaliados. O texto também reitera os problemas decorrentes do automonitoramento das barragens, ou seja, o atestado sobre a seguridade das estruturas cabe a própria mineradora, que contrata empresas para obter os laudos.

“Ao longo do relatório argumentamos que quando grandes corporações extrativas, como a Vale S.A., obtêm um grau de poder desproporcional sobre outros agentes, as instituições de controle deixam de funcionar adequadamente, o que tende a aumentar o risco de ocorrência de grandes desastres”, afirma Milanez.

Entre as propostas apresentadas, está a urgência de se buscar uma solução para as populações que vivem em Zonas de Autossalvamento e a premência de encontrar uma solução para as barragens abandonadas, como era o caso da Barragem I, que estava inativa. No entanto, argumenta Bruno Milanez, o objetivo do trabalho, “mais do que trazer respostas prontas, foi fornecer elementos para podermos aprofundar o debate sobre o papel da mineração no Brasil e em Minas Gerais, e caminhos para superar os dilemas postos”.

A pesquisa está disponível na revista Versos, em edição intitulada “Minas não há mais: avaliação dos aspectos econômicos e institucionais do desastre da Vale na bacia do rio Paraopeba”. Oito autores de diferentes universidades compõem a publicação.

Poemas

Estudando as relações socioeconômicas entre as comunidades e a atividade mineradora, o Poemas nasceu em 2012 e reúne pesquisadores espalhados por três estados brasileiros, com trabalhos em pesquisa e extensão. O grupo também atua junto ao Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, desenvolvendo propostas para a formulação do novo Código Mineral.

O professor Bruno Milanez, líder do grupo, tem experiência na área de Política Ambiental, atuando principalmente nas áreas de avaliação dos impactos da cadeia minero-metalúrgica, conflitos socioambientais e capacidade ambiental. A extensa contribuição acadêmica também fez de Milanez especialista central das análises do cenário pós-desastre junto aos meios de comunicação e à sociedade.