A pandemia de Covid-19, além de afetar a rotina e a saúde física, também impacta diretamente a saúde mental – e a propagação de informações on-line e o uso de redes sociais são fatores relevantes nesse cenário. Com isso em mente, um estudo realizado junto ao Programa de Pós-Graduação (PPG) em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) trata de aspectos determinantes no processo de adoecimento de pessoas idosas, com foco naquelas que fazem uso de mídias digitais. 

Segundo a pesquisa, que contou com a participação de 470 idosos, a prevalência de altos níveis de estresse foi encontrada em 9,78% dos participantes; a de sintomas depressivos foi observada em 26,1%; e a de transtorno de ansiedade generalizada (TAG) foi identificada em 18,4%. Os dados coletados compõem a primeira fase de um projeto científico multicêntrico desenvolvido em diferentes países, como Portugal, México, Colômbia, Chile e Peru. O estudo desenvolvido na UFJF foi realizado pela pesquisadora Elisa Kitamura sob orientação da professora Isabel Leite, vice-coordenadora do PPG em Saúde Coletiva, e em parceria com o professor Ricardo Cavalcanti, vinculado à Faculdade de Enfermagem.

O peso da infodemia
Um dos principais conceitos abordados pelo estudo é o de infodemia – termo usado para designar um grande fluxo de informações compartilhadas de forma ampla e acelerada, em um espaço limitado de tempo, motivadas por uma situação específica (como a pandemia e seus desdobramentos). “Os idosos estão mais expostos à infodemia pelo fato de, muitas vezes, não conseguirem processar e entender a profusão de notícias, e nem sempre possuírem habilidade no uso de tecnologias digitais. Tudo isso pode impactar a saúde mental desses indivíduos”, destaca Elisa Kitamura. 

A professora orientadora Isabel Leite afirma que chamou a atenção, em meio ao crescimento do consumo das redes sociais por parte da população idosa, a percepção sobre a falta de habilidade e compreensão na busca pela credibilidade das informações que são repassadas por redes sociais. “Um dos impactos negativos na saúde mental dos idosos nesse período de pandemia foi o distanciamento social, que reforçou a necessidade de redes de contato cada vez mais intensas com a sociedade.” 

Inclusão digital e checagem de informações
De acordo com Elisa Kitamura, os dados obtidos pela pesquisa apontam para a necessidade de novos arranjos sociais que contemplem as especificidades da população idosa, visando a saúde em seu conceito ampliado e a criação de mecanismos de inclusão digital de idosos dentro de políticas públicas. “Além disso, o estudo chama a atenção para que se discuta o consumo de informações em fontes oficiais com credibilidade para falar sobre saúde, que forneçam notícias corretas e inteligíveis.”

“É importante, ainda, que exista um tempo máximo diário para consumo do tema nas diversas mídias, bem como a divulgação da prática de checagem informacional e compartilhamento responsável, uma vez que as pessoas idosas são consideradas não nativas da era digital e nem sempre se prepararam para esse novo ambiente”, reforça a pesquisadora.

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