Sessenta anos após a criação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é praticamente impossível pensar a cidade hoje sem a sua presença. A instituição modificou o perfil da “Manchester mineira” e, ao andar pelas ruas de Juiz de Fora, principalmente pela Cidade Alta, é impossível não notar a diversidade impressa nos rostos, nos modos de vestir, falar e andar das pessoas, nos comércios e atividades locais. 

A mudança não deixou a cidade interiorana só com uma cara mais cosmopolita – pela atração de estudantes e profissionais de todas as partes do país -, mas potencializou toda sorte de negócios ligados direta e indiretamente à UFJF. Comércio, serviços, transporte público e os setores imobiliário e de alimentação, por exemplo, são os mais facilmente identificáveis.

No entanto, para o professor da Faculdade de Economia, Fernando Salgueiro Perobelli, o maior legado econômico da instituição é  “a formação de capital humano de qualidade, o que permite o aumento da produtividade e melhoria dos processos produtivos em todos os setores.  A existência da Universidade cria oportunidades de fixação da mão de obra de alta qualidade, diminui o processo de migração, permite a abertura de novos negócios, diversifica e melhora a estrutura produtiva de uma região, se torna um centro de atração de pessoas e negócios. E podemos dizer que todos esses benefícios não ficam restritos ao município sede da universidade.”  

De elitista à vetor de desenvolvimento

Conforme explica o professor Lourival Batista de Oliveira, da Faculdade de Economia,  “o projeto de construção da Universidade, até mesmo por suas limitações, era pouco ambicioso. Seus propósitos eram muito locais, focados em atender os interesses de uma elite intelectual residente de Juiz de Fora, elite essa que já possuía certa noção da importância de se ter uma universidade. Dessa forma, a construção seria voltada aos seus próprios filhos, evitando que precisassem sair da cidade para concluírem seus estudos.”

Na época da criação da Universidade, a cidade de Juiz de Fora passava por um certo marasmo econômico quando comparado ao seu passado cafeeiro e industrial. Os planos para uma universidade alavancariam, então, diversos projetos de construção civil. O próprio processo de criação do campus universitário teve impactos consideráveis na produção e na renda dos setores que estavam diretamente ligados ao processo, desde a contratação de pessoal à compra de equipamentos para a infraestrutura. Confira a reportagem sobre a década de 1960 na UFJF.

Pesquisador da UFJF, Fernando Perobelli avalia como

Em seus primeiros anos de funcionamento, o caráter local da UFJF se refletia também em seu corpo docente. Apesar de possuir intelectuais e professores de boa qualidade, a titulação na universidade era baixa. “Nesse primeiro momento, a qualificação dos profissionais não era uma prioridade. As gestões estavam ainda muito preocupadas com o processo de implantação da academia, focando em questões como onde alocar o campus, garantir recursos de funcionamento, instalar regras”, comenta Oliveira.

Nos anos 1990, entretanto, começa uma pressão governamental sobre as universidades federais para que possuíssem uma titulação mínima de mestres e doutores. Dessa forma, coloca-se em prática uma legislação que prevê formas de contratação que considera bancas externas para a seleção do processo. 

Lourival explica que a consequência disso foi a atração de profissionais de fora da cidade, que vinham até Juiz de Fora para prestar concursos. A cidade passa a acumular um volume de alunos, técnicos e professores – uma massa crítica de alto capital humano. É quando também começam a surgir os programas de pós-graduação e as pesquisas se tornam mais robustas. Em 1995, a UFJF cria o Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), já preocupada com a parceria entre universidade e empresas. 

Na esteira da UFJF, surgem na cidade novas escolas, cursinhos preparatórios para atender candidatos da região e faculdades particulares, tornando a cidade definitivamente um polo educacional da Zona da Mata mineira.

De acordo com o professor Fernando Perobelli, com a formação de milhares de profissionais qualificados todos os anos, há maior chance de aumento da renda e, portanto, modificação no padrão de consumo do município e da região. O processo é acumulativo e acompanha o cenário econômico também do país – por isso não é coincidência o período de expansão das universidades federais, com mais vagas e as cotas, e novas redes de supermercados e shoppings centers em Juiz de Fora, nos anos 2000.

A ampla oferta de serviços de saúde é outro exemplo diretamente ligado à existência da UFJF. “É possível afirmar que Juiz de Fora não seria hoje um centro de excelência nessa área, se a UFJF não estivesse localizada aqui. Mais uma vez vemos o processo de geração de renda e criação de emprego e fixação de mão de obra, a partir do vetor UFJF”, explica Perobelli.

Segundo os registros, quase 70 mil alunos graduaram-se na UFJF nesses 60 anos de existência, contribuindo com suas formações para o desenvolvimento social e econômico do país. Os números colecionados pela instituição impressionam e, certamente, são maiores até do que de milhares prefeituras ou de cidades inteiras. Ao todo, 4.076 profissionais trabalham na instituição, entre servidores e terceirizados – o que representa uma das maiores folhas de pagamento de Juiz de Fora, e boa parcela na economia também de Governador Valadares.