Atuação do projeto Nagô em Periquito no Médio Rio Doce UFJF

Atuação do projeto de extensão Nagô, da UFJF-GV, em Periquito, no Médio Rio Doce (Foto: Tayara Lemos/UFJF)

Com a missão de ser um vetor de transformação social, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), desde o final da década de 1960, já realizava atividades voltadas à comunidade. Desenvolvidas individualmente por alguns professores, as ações careciam de institucionalização e, futuramente, viriam a fortalecer o vínculo da Universidade com a sociedade por meio das ações de extensão.

“Posso citar o exemplo do professor João Batista Picinini, que realizava ações educativas na comunidade juiz-forana sobre plantas medicinais desde 1969. Sem falar do próprio Projeto Rondon, no qual a UFJF mantinha um campus avançado em Tefé, no Amazonas, onde também desenvolvia extensão, por meio da oferta de cursos e capacitações”, exemplifica o gerente de Ações de Extensão, Diogo Mendes, autor de dissertação sobre a área na UFJF.

Atualmente aposentado, o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) João Batista Picinini Teixeira relata que foi o primeiro docente a subir para o campus universitário, em 1969, e confirma ter sido um dos pioneiros na atuação de projetos junto à comunidade. “Participei do Programa de Plantas Medicinais (Proplamed) por 45 anos. É difícil resumir em uma única palavra o sentimento pela extensão: apaixonante. A melhor época da minha vida. Servir sem ser servido. Havia amizade, amor, companheirismo e gratidão.”

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Parte da equipe do projeto sobre plantas medicinais, o Proplamed, um dos pioneiros da Universidade

 Da oferta de cursos à complexidade social
Segundo Mendes, a organização da gestão das atividades de Extensão começou, em 1980, quando foi criada a Pró-reitoria de Assuntos Comunitários (Proac), tendo o professor da Faculdade de Medicina José Limiar de Oliveira como o primeiro responsável pela pasta. Anteriormente,  as ações direcionadas aos juiz-foranos eram de responsabilidade da Reitoria, por meio de um departamento de assuntos comunitários. “Na época, a Proac tinha como principais atribuições: a oferta de cursos à sociedade e a adoção de políticas de inclusão e permanência dos universitários na UFJF. No entanto, não podemos confundir a criação da Pró-reitoria com o início das atividades de extensão na Universidade”, observa Mendes.

Servidora desde 1978, Maria Cecília Muller Rezende lembra que, antes de se alocar no campus, a sede da Proac funcionou em diversos pontos do Centro da cidade. Além disso, atuava em diversas frentes, como, por exemplo, na coordenação do Restaurante Universitário, no departamento de assuntos comunitários – atualmente Pró-reitoria de Assistência Estudantil -, na coordenação de extensão e envolvia grupos de estudo, como o de meio ambiente, o Gema.

“Trabalhei na Proac entre 1989 e 1992. Quando entrei, existiam poucos projetos de extensão, uma média de 40. Eram voltados para a comunidade acadêmica e não para os moradores do entorno do campus. Em 1992, já eram oferecidas mais de cem ações, e algumas para a comunidade. Havia um curso de um professor da Matemática e esse foi um marco importante ao se tratar de extensão”, recorda Maria Cecília.

Integrantes da extinta Pró-reitoria de Extensão e Pesquisa (Proep), em 1986

A pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, avalia positivamente os avanços realizados pelas gestões anteriores e aponta dois marcos importantes para o fortalecimento da área: a compreensão de que a UFJF deve realizar ações direcionadas para a comunidade, mas próxima ao poder público; e o papel da extensão na formação estudantil. 

“Nesse sentido, uma iniciativa importante, foi uma aproximação com as prefeituras para que as ações pudessem atender as necessidades sociais do território em que a UFJF está inserida. Começamos a compreender que a formação do estudante, vinculada diretamente à questão social de intervenção de projetos e programas que atendam demandas da comunidade, foi central nessa perspectiva”, explica.

Atualmente, a extensão da UFJF, além de atender necessidades sociais, realiza iniciativas em interface com a pesquisa e trabalha com demandas sensíveis que precisam de intervenção, como o trabalho com a população em situação de rua. Além disso, tem oferecido apoio de material de consumo, equipamento e recurso para o deslocamento das equipes para congressos ou atividades de campo. “Algo importantíssimo foi a realização de editais em que a comunidade, por meio de fóruns populares, traz as demandas de atendimento social, e fazemos editais direcionados ao corpo acadêmico da UFJF para que respondam especificamente essas solicitações”, destaca Ana Lívia.

Mudanças na extensão

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Criação de Núcleo de Extensão na Faculdade de Educação Física incentivou criação de projetos, como os de natação (Foto: Caique Cahon/UFJF)

No fim da década de 1980, com o estabelecimento do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex), houve a definição de uma proposta de política de extensão para que as universidades pudessem estabelecer suas próprias normativas. “Foi o que ocorreu na UFJF, em 1988, quando o antigo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovou três importantes resoluções que estabeleceram as modalidades de ações extensionistas, a criação de um programa de bolsas direcionadas aos graduandos para estas atividades e uma comissão para avaliação dessas iniciativas. Essas resoluções foram revisadas e atualizadas nos últimos anos pelo Conselho Setorial de Extensão e Cultura”, explica Mendes.

O professor Picinini acompanhou a evolução das ações extensionistas e reitera que, em 2012, quando se aposentou, o Proplamed já abrigava 49 projetos, mantinha convênios com prefeituras da região, escolas, igrejas e ambulatórios, e contava com 60 bolsistas, estagiários, voluntários, monitores e acadêmicos de vários cursos. “A extensão universitária cresceu muito. Inicialmente ela era filantrópica. Atendíamos os menos favorecidos. Participamos da criação do Hospital de Antroposofia de Matias Barbosa, e muitos estudantes fizeram mestrado e doutorado com as plantas medicinais cultivadas no Horto de Plantas Medicinais, onde chegamos a cultivar 127 espécies diferentes, produzindo essências, chás, tinturas, extratos e cosméticos. Inclusive, estamos terminando mais um livro ‘A extensão na UFJF’ e esperamos poder publicá-lo.”

Uma das pioneiras na criação de projetos de extensão, a professora Elenice Faccion conta que foi criação do Núcleo de Extensão na Faculdade de Educação Física foi um marco importante nesse campo. A partir de uma reformulação curricular, professores eram incentivados a estruturarem projetos vinculados às disciplinas. “A Educação Física se transformou e começou a viver a verdadeira extensão universitária, gratuita e igualitária.”

Durante o período, o Núcleo realizou inúmeras ações para a consolidação da extensão, inclusive, representar a UFJF junto ao Ministério da Educação, em um chamamento para os projetos de extensão das universidades brasileiras. “Os projetos de extensão da Faefid colocaram nas mesmas aulas as crianças das comunidades do entorno e as dos professores da UFJF. Os pais passaram a frequentar o campus, e a comunidade se sentiu acolhida, principalmente a do Bairro São Pedro. Frequentemente ajudavam com rifas, roupas, campanhas de limpeza nas áreas externas da Educação Física, e se revezavam em viagens do Grupo Infantil de Ginástica e Dança, como auxiliares nos vestiários e no controle do deslocamento”, rememora Elenice.

Começo em Governador Valadares

Projeto de extensão Nagô UFJF - GV Reinaldo, à direita, em uma das atividades junto aos representantes de comunidades envolvidas no Nagô

Projeto de extensão Nagô, sobre agricultura familiar, trabalha com comunidades indígenas e quilombolas, sob coordenação do professor Reinaldo Duque, à direita

Com atividades acadêmicas iniciadas em 2012, Governador Valadares viu, logo em 2013, serem implementados 15 projetos voltados para a região do  Vale do Rio Doce. O professor Reinaldo Duque Teixeira foi um dos primeiros extensionistas da UFJF-GV, com trabalho sobre segurança alimentar e agricultura urbana. Mesmo antes de registrar o projeto, ele já estava em campo conhecendo as comunidades, fazendo contato com lideranças locais e participando de reuniões com movimentos sociais e entidades de agricultura familiar.

De lá para cá, o Núcleo de Agroecologia (Nagô) alcançou cerca de duas mil pessoas, apenas nos últimos dois anos, com a participação ativa de agricultores familiares, indígenas e quilombolas da região. “As ações e os resultados são construídos coletivamente, pensados com nossos parceiros, por isso, trazem retorno tão interessante. O Nagô demonstra um compromisso social no que diz respeito à inclusão dos conhecimentos tradicionais dos pobres e das comunidades tradicionais da agricultura familiar. Além disso, atua na inclusão deles no ambiente acadêmico, proporcionando uma troca intercultural, de educação e de interculturalidade epistêmica”, afirma Teixeira, coordenador do programa.

Em relação ao campus avançado, Ana Lívia ressalta que, a partir do momento em que a UFJF passou a contar com uma estrutura local, a Proex observou as demandas locais e buscou fortalecer o contato da instituição com aquela comunidade. “Nos últimos anos, o que fizemos foi compreender as características daquele território, as particularidades de professores, estudantes e técnicos-administrativos em educação e, a partir daí, criar uma política equitativa com editais e bolsas específicas para aquele município.”

Outras informações: ufjf.br/proex

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