O programa de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)  “Encontros Temáticos da Comunidade Negra” mantém um blog para a divulgação de conteúdos sobre o racismo e o papel do negro na sociedade brasileira. A iniciativa tem por objetivo aproximar pesquisadores, estudantes e a comunidade em geral neste período de isolamento social recomendado pelas autoridades sanitárias para conter a pandemia de Covid-19. 

A mais recente publicação trata do ensino da matemática africana e recorda a urgência da aplicação da Lei nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas do país.  

Professor Willian Cruz, do Departamento de Matemática da UFJF, é um dos idealizadores do programa de extensão (Foto: Alexandre Dornelas)

“Esta questão parece muito pertinente. Quando e onde está sendo discutida a Matemática Africana no ambiente escolar? Nas aulas de Matemática? Este texto que publicamos no blog está baseado nos trabalhos de conclusão de curso das alunas Ana Cristina e Silvia Patrícia, orientada e co-orientada por mim, que fizeram estudos sobre a Matemática Egípcia no ensino de Matemática e o multiculturalismo com ênfase na introdução da Matemática Africana no ensino”, explica o coordenador do programa de extensão e professor do Departamento de Matemática da UFJF,  Willian José da Cruz. 

Conheça o blog “Encontros Temáticos da Comunidade Negra”

Sobre a legislação, Cruz salienta que a temática afro-brasileira deve perpassar todas as disciplinas e não apenas o conteúdo de História. “ Essa temática, na maioria das vezes, fica restrita à disciplina de História,, mas deveria perpassar todas as disciplinas. Em relação à Matemática, o que se percebe é que não há um trabalho explícito nesta direção. Na América Latina, as lutas pelo reconhecimento das diferenças sociais e culturais possuem uma longa história. No Brasil um marco significativo se instaura com a constituição de 1988 e sua defesa a favor do multiculturalismo brasileiro”,  ressalta.

Lidar com a pluralidade

Na avaliação do professor Willian Cruz, o âmbito educacional sempre apresentou dificuldades em lidar com a pluralidade e a diferença, apesar de a sociedade brasileira ser composta por distintas raças, religiões e padrões culturais. 

“A escola tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a homogeneização e padronização impostas pelo poder das elites. Uma das questões urgentes no cotidiano escolar é a diversidade, pois há a necessidade de proporcionar aos alunos conhecimentos das variadas culturas do país, ampliando o saber nos diversos tipos de manifestações culturais de cada grupo.” 

“A escola não pode se tornar um instrumento de reprodução de preconceitos, mas sim um espaço no qual se promova e valorize a diversidade que enriquece a sociedade brasileira” 

As atividades educacionais sobre diversidade cultural, tanto na escola quanto fora dela, são essenciais para ampliar e fortalecer os debates contra a discriminação racial.  “A escola não pode se tornar um instrumento de reprodução de preconceitos, mas sim um espaço no qual se promova e valorize a diversidade que enriquece a sociedade brasileira. A Matemática Africana é pouco abordada tanto em escolas públicas quanto privadas. Quando nos referimos à História da Matemática, para alguns, vem à mente a Matemática Grega, mas com um olhar mais atento aos nossos estudos, vamos encontrar, por exemplo, os povos egípcios, que quase sempre são tratados como se fossem separados do continente africano”, adverte Cruz.

Confira o artigo “Matemática Africana quando e onde?”  na íntegra

Iniciativa Pioneira

O programa de extensão ‘Encontros Temáticos da Comunidade Negra’  é uma iniciativa pioneira na UFJF. Sob coordenação do professor Willian Cruz, tem a participação de docentes de outras unidades acadêmicas, como Fernanda Thomaz, do Departamento de História,  Zélia da Costa Ludwig, do Departamento de Física, Francione de Oliveira Carvalho, da Faculdade de Educação, e Julvan Moreira de Oliveira, também da Faculdade de Educação e  diretor de Ações Afirmativas da instituição. A iniciativa conta ainda com a participação de dois bolsistas estudantes de graduação, Yago Souza e Andressa Borges, ambos do Bacharelado em Nutrição. 

O objetivo é promover encontros temáticos mensais sobre a comunidade negra da cidade e região, para debater as relações étnico-raciais, o racismo estrutural, a cultura negra e a participação do negro na sociedade científica, dentre outros temas. 

Saiba mais:

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