Vinte dias após a emissão da segunda nota técnica, o grupo de modelagem epidemiológica da Covid-19, formado por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publica o terceiro estudo a respeito da disseminação e controle do vírus na cidade. O objetivo é entender a dinâmica da epidemia da Covid-19 na macrorregião de saúde (confira o mapa abaixo) da qual Juiz de Fora é a principal cidade polo, para, desta forma, auxiliar os gestores nos planos de contingenciamento dos recursos de saúde na região. Para isso, foram utilizados dados disponibilizados publicamente em plataforma desenvolvida pelo pesquisador Wesley Cota, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). 

A macrorregião de saúde do sudeste de Minas Gerais engloba nove microrregiões: Além Paraíba, Carangola, Juiz de Fora, Leopoldina/Cataguases, Lima Duarte, Muriaé, Santos Dumont, São João Nepomuceno/Bicas e Ubá. Na nova nota técnica, foram utilizados dados dessas microrregiões e municípios até o dia 23 de maio – fim da 21ª semana epidemiológica.

De acordo com a nota, os casos diários de Covid-19 confirmados continuam a aumentar nos municípios polo e nas microrregiões de saúde da macro Sudeste. Os destaques em número de casos são o município e a microrregião de Juiz de Fora, concentrando a maioria de casos da região. Já os óbitos por Covid-19 chegaram a todas as microrregiões de saúde, exceto Carangola e Lima Duarte, mas se concentram em poucos municípios. 

Velocidade de crescimento da doença
As taxas de crescimento dos casos acumulados são elevadas na maioria das microrregiões analisadas e superam as taxas de crescimento de Minas Gerais e do Brasil. “A taxa de crescimento em nossa região está maior que no Brasil porque a doença ainda está chegando nessas comunidades”, explica Isabel Cristina Gonçalves Leite, uma das pesquisadora envolvidas no estudo. De acordo com a professora, o vírus está começando a atingir uma população suscetível, às vezes com medidas de isolamento ainda não adotadas sistematicamente. “O que tínhamos ontem, comparado com o que temos hoje é menor. Então essa taxa de crescimento aqui observada reflete isso: a chegada da doença no interior e a necessidade das políticas públicas serem adotadas em sentido de conter esse avanço.”

As taxas de crescimento – ou de velocidade – da transmissão são estimadas a partir de um indicador denominado número reprodutivo R que mostra para quantas pessoas cada infectado transmite a doença. “Se o vírus chega a partir de um infectado em uma região onde todas as pessoas são susceptíveis e nenhuma medida de contenção estava sendo proposta naquele momento, a velocidade de propagação e esse número reprodutivo ‘R’ é muito alto”, esclarece Isabel. Por isso reforça a importância de medidas tais como o isolamento social e quarentena. “São medidas que tendem a forçar a redução desse número reprodutivo R, ou seja, a quantidade de casos que são causados por um único sujeito infectado.” 

Taxas de crescimento (%) dos casos de COVID-19 para as microrregiões de saúde da macrorregião de saúde Sudeste, a macrorregião região, Minas Gerais e Brasil, estimadas por modelos de Poisson.

Incidência de Covid-19 na região
Segundo a nota, as taxas de incidência – casos novos confirmados na população ao longo de um período dividido pela população suscetível à doença – e de mortalidade acumuladas dos municípios polo e das microrregiões analisadas, em sua maioria, são superiores à taxa média de Minas Gerais, embora inferiores à taxa média do Brasil. “A taxa de incidência permite comparar países, lugares e pode nos mostrar onde a doença está crescendo em maior velocidade. Então, em conjunto com a taxa de crescimento, observamos a formação da curva epidêmica, até um momento de pico, entrando em sua fase de declínio e isso é influenciado pela quantidade de casos novos”, esclarece Isabel.

 

Taxas de incidência de Covid-19 (por 100.000 habitantes) em Juiz de Fora em comparação com as de Minas Gerais e Brasil.

Dos primeiros casos de Covid-19 identificados em Juiz de Fora na semana epidemiológica 11 – de 8 a 14 de março – houve um espalhamento e na semana 21 – de 17 a 23 de maio – todas as microrregiões já apresentavam casos confirmados. Os primeiros óbitos da macrorregião foram de residentes em Juiz de Fora, que ainda é a cidade com maior número de mortes da região.

A evolução dos casos e óbitos pode ser acompanhada em gráficos na plataforma virtual “JF Salvando Todos”, coordenado pelo terceiro autor desta nota, Marcel Vieira. Nesta plataforma estão disponíveis dados de municípios de todo o Brasil, bem como dados agregados por microrregiões de saúde, macrorregiões de saúde, regiões do IBGE e Unidades da Federação. 

Outras informações
Terceira nota técnica na íntegra
Plataforma JF Salvando Todos