(Da esq. p/ dir.) Arielle, Vânia, Tatiane, Andrêssa e a professora Daniela, fundadoras do Coletivo AfroFlor. Foto: Gustavo Tempone/UFJF

A Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sediou na noite desta sexta-feira, 22, o evento de lançamento do Coletivo AfroFlor.  A atividade integra a programação da 2a Semana da Consciência Negra, promovida pela Diretoria de Ações Afirmativas. Oficinas, palestras, ciclo de debates, minicursos e mostras, todos gratuitos e abertos ao público, acontecem até 29 de novembro, e têm por objetivo fomentar a luta antirracista. 

Para participar da Semana, basta realizar inscrição nos próprios locais e horários das atividades. Confira a programação completa

AfroFlor

A iniciativa de criação de um coletivo para tratar das temáticas do racismo e do machismo partiu das mestrandas em Linguística, Andrêssa Maria da Silva, e em Estudos Literários, Tatiane de Carvalho Morais. O grupo já teve a adesão da professora do Departamento de Letras da UFJF, Daniela da Silva Vieira; da doutoranda em Linguística, Vânia Gomes de Almeida; e da psicóloga Arielle Marco. 

Segundo as integrantes,  o AfroFlor pretende promover o combate às discriminações e, sobretudo, o acolhimento e a autoestima de mulheres negras, sejam integrantes da comunidade acadêmica ou não. A participação é aberta a homens e mulheres.

“Um dos incômodos para eu chegar ao ponto de querer pensar em alguma coisa nesta temática era muitas vezes não conseguir responder em sala de aula durante a pós-graduação. Eu levantava a mão e parecia que não estava ali. Sempre fui muito de falar, não conseguia ficar quieta, as pessoas comentavam e tal. Aí, aqui, era interrompida. Isso é o que acontece com as mulheres negras em vários ambientes”, conta Andrêssa.

Outra questão apontada pelo grupo é a reduzida presença de negras e negros nos cursos de pós-graduação. “Eu conheço a Andrêssa há algum tempo, somos parceiras de Atlética, no Instituto de Ciências Humanas (ICH). Num dia de treino, ela comentou sobre sermos, às vezes, as únicas negras dentro de uma sala de aula, na pós-graduação e na própria Universidade”, relata Tatiane.

As inquietações e os incômodos das mestrandas foram combustível para a organização do debate A mulher negra na pós-graduação”, ocorrido em 5 de novembro, também na Faculdade de Letras  “A Andrêssa me contou que teria essa roda de conversa e eu super apoiei. Foi então que pensamos em ir além do evento e criar um coletivo, para trabalhar essas questões, para pensar a mulher negra não só aqui dentro, mas também no esporte, no trabalho, em vários espaços ”, acrescenta Tatiane.

“Outras serão encorajadas”

A partir da realização da  primeira roda de conversa sobre a mulher negra na pós-graduação, as duas mestrandas ganharam reforços e a ideia de criar um coletivo se consolidou.  “A questão de você olhar para o lado e não ver par e se sentir sozinha é muito presente, especialmente na pós-graduação. Não há representatividade. Quando as meninas me convidaram, achei muito interessante levar um pouco da minha experiência como aluna da UFJF, como cotista. Vi a importância de levantarmos a nossa voz e mostrarmos a outras mulheres negras que elas também podem”, conta a doutoranda em Linguística, Vânia Gomes de Almeida. 

A avaliação é compartilhada pela psicóloga Arielle Marco. “É um desejo meu cursar o mestrado e o doutorado também. Quando eu escutei essas mulheres, eu pensei que também posso conseguir. Quero estar junto delas, refletir sobre todas essas questões. Isso também é muito do que escuto na clínica. Essas demandas são frequentes, quando faço o atendimento de mulheres negras como eu.”  

Para a professora do Departamento de Letras da UFJF, Daniela da Silva Vieira, a iniciativa das mestrandas vai colaborar para a permanência de muitos outros alunos e alunas negras na Universidade. 

“O ambiente acadêmico é muito racista. Não são todos os professores que incentivam e você acaba achando que não tem potencial. O que me fez seguir foi o oposto, foi a teimosia. As pessoas diziam ‘você não vai conseguir’, faziam aqueles olhares meio tortos. Eu vejo o coletivo como uma ferramenta importantíssima. É uma possibilidade para trazerem as experiências, discutirem, dialogarem.  A partir desse acolhimento, outros serão encorajados. Estou muito feliz em poder contribuir“. 

Saiba mais: Coletivo AfroFlor no Instagram

Outras informações: andressa_silva@outlook.com