
Representantes dos povos e comunidades tradicionais brasileiras compartilharam com os participantes suas histórias de vida, lutas e direitos (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)
O 3ª Encontro dos Saberes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu, no último fim de semana, o segundo módulo do curso “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”. Quatro mulheres, sendo elas raizeira, caiçara, apanhadora de flores sempre-vivas e líder indígena que representam povos e comunidades tradicionais brasileiras compartilharam com os participantes suas histórias de vida, lutas e direitos.
Lourdes Laureano, Adriana Lima, Maria de Fátima Alves e Cristiane Pankararu são guardiãs da natureza e de práticas sociais ancestrais, como a tradição de raizeiras, benzedeiras e construtores de canoas. São personalidades que estão presentes em conselhos, associações e articulações locais ou nacionais. O segundo módulo do curso aconteceu no auditório do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) com o tema “Sociobiodiversidade: salvaguarda dos saberes tradicionais”.
Lourdes Laureano é coordenadora da Articulação Pacari e integrante da Articulação Nacional de Agroecologia, além de ser uma referência entre as raizeiras. Já Cristiane Pankararu é uma das lideranças da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Mulher caiçara, Adriana Lima pertence à coordenação Nacional das Comunidades Tradicionais Caiçaras. Por fim, Maria de Fátima Alves é apanhadora de sempre-vivas, coordena a Comissão em Defesa dos Povos Extrativistas e integra a Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais.
No evento, o público pôde acompanhar um breve histórico das mestras, o processo de tomada de consciência e valores das lutas, assuntos sobre feminino e feminismo, além da importância da sociobiodiversidade.
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Patrimônio mundial

Maria de Fátima de Alves relatou história sobre comunidades de apanhadoras de flores sempre-vivas (Foto: Carolina de Paula/UFJF)
Maria de Fátima ajudou a sua e outras comunidades de apanhadoras de flores sempre-vivas, na região de Diamantina (MG), a terem reconhecimento como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). No Brasil, esse foi o primeiro Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam) a obter o título.
O caminho até lá foi árduo. Um dos pontos de conflito se deu com a criação do Parque Nacional das Sempre-Vivas (MG), o qual proibia ou restringia, até criminalizando, atividades desenvolvidas por quem já morava na região e a protegia. Conforme as palestrantes, há diversas implicações não consideradas apropriadamente na criação de unidades de conservação, citando casos de expulsão de moradores que há anos faziam, a seu modo, o que justamente as unidades pretendiam: conservar.
“Nós, povos e comunidades tradicionais, sempre cuidamos do território. Não é romantizar: ‘são bonzinhos, cuidam da natureza’. A gente cuida porque a gente depende da natureza. É o nosso modo de vida, que não é especulativo, exploratório e de monocultura. Tem lugar em que a gente pesca que é só para se alimentar, não é para comercializar. Se for, vai acabar. Então essa é uma forma inteligente de cuidar do território”, afirma a caiçara Adriana Lima, da comunidade da Jureia, no litoral paulista.
As comunidades caiçaras vivem no litoral, entre a regiões Sudeste e Sul, mais especificamente em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, em uma relação entre o mar e as montanhas.
“É uma comunidade que vive da pesca, da agricultura, do extrativismo. Mas que também tem um enfrentamento muito grande com o processo de desapropriação do seu território. Há muitas comunidades que vivem em cidades porque foram expulsas de seus territórios”, explicou Adriana.
Farmacopeia popular

Raizeira Lourdes Laureano foi uma das criadoras da Farmacopeia Popular do Cerrado com informações sobre plantas medicinais (Foto: Carolina de Paula/UFJF)
Já a raizeira Lourdes Laureano, de Goiás Velho (GO), foi uma das 264 responsáveis por lançar a “Farmacopeia Popular do Cerrado”. A obra coletiva reúne informações sobre plantas medicinais prioritárias para comunidades desse bioma. É um saber ancestral sobre origem das plantas, local de ocorrência, manejo, relação com a fauna e outros aspectos.
O livro premiado internacionalmente é revolucionário, conforme o professor Gustavo Soldati (ICB/UFJF), por ir além da farmacopeia considerada oficial, mostrando que há outras formas tradicionais validadas, geração após geração, nas comunidades. É o próprio conhecimento milenar informando seus padrões, sob a criação e a perspectiva delas. “Temos responsabilidade muito grande ao indicar um remédio caseiro, com segurança, eficácia e qualidade”, resume Lourdes.
Com participação on-line no Encontro, a líder indígena Cristiane Pankararu é reconhecida por, entre outros pontos, o desenvolvimento de ações com mulheres, a exemplo da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Exalta a conquista delas em espaços de decisão, como órgãos de poder e cargos políticos, a exemplo da ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara.
Mais em novembro
O terceiro e último módulo “Cultura Quilombola: resistência e festa” acontecerá, de 24 a 26 de novembro, com a participação de Fatinha do Jongo, Jefinho Tamandaré e da secretária da Associação Aquipaiol – Comunidade Quilombola de Colônia do Paiol, em Bias Fortes (MG), mestra Zezé, que também é professora e pedagoga. Divulgadas em agosto, as vagas para todos os módulos já foram preenchidas.
O 3º Encontro de Saberes da UFJF – campus Juiz de Fora é realizado pelo Colégio de Aplicação João XXIII, pelo Jardim Botânico da UFJF, Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e pelas pró-reitorias de Extensão, Graduação e Pós-Graduação e Pesquisa. A coordenação conta com a professora Carolina Bezerra (Colégio João XIII), os professores Daniel Pimenta (ICB) e Gustavo Soldati (ICB) e o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira.
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