O 3ª Encontro dos Saberes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu, no último fim de semana, o segundo módulo do curso “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”. Quatro mulheres, sendo elas raizeira, caiçara, apanhadora de flores sempre-vivas e líder indígena que representam povos e comunidades tradicionais brasileiras compartilharam com os participantes suas histórias de vida, lutas e direitos.
Lourdes Laureano, Adriana Lima, Maria de Fátima Alves e Cristiane Pankararu são guardiãs da natureza e de práticas sociais ancestrais, como a tradição de raizeiras, benzedeiras e construtores de canoas. São personalidades que estão presentes em conselhos, associações e articulações locais ou nacionais. O segundo módulo do curso aconteceu no auditório do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) com o tema “Sociobiodiversidade: salvaguarda dos saberes tradicionais”.
Lourdes Laureano é coordenadora da Articulação Pacari e integrante da Articulação Nacional de Agroecologia, além de ser uma referência entre as raizeiras. Já Cristiane Pankararu é uma das lideranças da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Mulher caiçara, Adriana Lima pertence à coordenação Nacional das Comunidades Tradicionais Caiçaras. Por fim, Maria de Fátima Alves é apanhadora de sempre-vivas, coordena a Comissão em Defesa dos Povos Extrativistas e integra a Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais.
No evento, o público pôde acompanhar um breve histórico das mestras, o processo de tomada de consciência e valores das lutas, assuntos sobre feminino e feminismo, além da importância da sociobiodiversidade.
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Patrimônio mundial
Maria de Fátima ajudou a sua e outras comunidades de apanhadoras de flores sempre-vivas, na região de Diamantina (MG), a terem reconhecimento como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). No Brasil, esse foi o primeiro Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam) a obter o título.
O caminho até lá foi árduo. Um dos pontos de conflito se deu com a criação do Parque Nacional das Sempre-Vivas (MG), o qual proibia ou restringia, até criminalizando, atividades desenvolvidas por quem já morava na região e a protegia. Conforme as palestrantes, há diversas implicações não consideradas apropriadamente na criação de unidades de conservação, citando casos de expulsão de moradores que há anos faziam, a seu modo, o que justamente as unidades pretendiam: conservar.
“Nós, povos e comunidades tradicionais, sempre cuidamos do território. Não é romantizar: ‘são bonzinhos, cuidam da natureza’. A gente cuida porque a gente depende da natureza. É o nosso modo de vida, que não é especulativo, exploratório e de monocultura. Tem lugar em que a gente pesca que é só para se alimentar, não é para comercializar. Se for, vai acabar. Então essa é uma forma inteligente de cuidar do território”, afirma a caiçara Adriana Lima, da comunidade da Jureia, no litoral paulista.
As comunidades caiçaras vivem no litoral, entre a regiões Sudeste e Sul, mais especificamente em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, em uma relação entre o mar e as montanhas.
“É uma comunidade que vive da pesca, da agricultura, do extrativismo. Mas que também tem um enfrentamento muito grande com o processo de desapropriação do seu território. Há muitas comunidades que vivem em cidades porque foram expulsas de seus territórios”, explicou Adriana.
Farmacopeia popular
Já a raizeira Lourdes Laureano, de Goiás Velho (GO), foi uma das 264 responsáveis por lançar a “Farmacopeia Popular do Cerrado”. A obra coletiva reúne informações sobre plantas medicinais prioritárias para comunidades desse bioma. É um saber ancestral sobre origem das plantas, local de ocorrência, manejo, relação com a fauna e outros aspectos.
O livro premiado internacionalmente é revolucionário, conforme o professor Gustavo Soldati (ICB/UFJF), por ir além da farmacopeia considerada oficial, mostrando que há outras formas tradicionais validadas, geração após geração, nas comunidades. É o próprio conhecimento milenar informando seus padrões, sob a criação e a perspectiva delas. “Temos responsabilidade muito grande ao indicar um remédio caseiro, com segurança, eficácia e qualidade”, resume Lourdes.
Com participação on-line no Encontro, a líder indígena Cristiane Pankararu é reconhecida por, entre outros pontos, o desenvolvimento de ações com mulheres, a exemplo da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Exalta a conquista delas em espaços de decisão, como órgãos de poder e cargos políticos, a exemplo da ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara.
Mais em novembro
O terceiro e último módulo “Cultura Quilombola: resistência e festa” acontecerá, de 24 a 26 de novembro, com a participação de Fatinha do Jongo, Jefinho Tamandaré e da secretária da Associação Aquipaiol – Comunidade Quilombola de Colônia do Paiol, em Bias Fortes (MG), mestra Zezé, que também é professora e pedagoga. Divulgadas em agosto, as vagas para todos os módulos já foram preenchidas.
O 3º Encontro de Saberes da UFJF – campus Juiz de Fora é realizado pelo Colégio de Aplicação João XXIII, pelo Jardim Botânico da UFJF, Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e pelas pró-reitorias de Extensão, Graduação e Pós-Graduação e Pesquisa. A coordenação conta com a professora Carolina Bezerra (Colégio João XIII), os professores Daniel Pimenta (ICB) e Gustavo Soldati (ICB) e o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira.
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