Em um momento em que, mais do que nunca, é preciso abraçar a luta pelo respeito aos povos originários, a Pró-Reitoria de Cultura (Procult), em aliança com o Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), retoma a exposição “Maxakali – a resistência de um povo”, que leva às galerias Mehtl’on e Tlegapé relevantes testemunhos materiais e simbólicos sobre a vida, a arte e os costumes nas aldeias indígenas do nordeste de Minas Gerais.
Inaugurada em novembro de 2019, a mostra será reaberta neste sábado, 30 de outubro, exibindo um recorte da coleção etnográfica pertencente ao Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (Maea). Coletado pela então professora do Departamento de Ciências Sociais, Neli Nascimento, entre os anos 1970 e 1980, o acervo foi doado à Universidade em 1990, apresentando artefatos e detalhes que exemplificam o modo de vida dos Maxakali.
A diretora do Maea, Luciane Monteiro, destaca a importância de resgatar uma temática tão candente para o Brasil, reacendendo a discussão ambiental e sobre o Marco Temporal, principalmente diante dos ataques frequentes aos povos indígenas. O diretor do Jardim Botânico, Breno Motta, analisa que, com nosso modo de vida sendo colocado em xeque, faz-se urgente e necessária a aproximação e o aprendizado com os povos originários, a fim de que se possa garantir a sobrevivência de nossa espécie e da biodiversidade do planeta.
Chamado à resistência
Motta ressalta que a história dos Maxakali sempre foi marcada por diásporas, expulsões, massacres, epidemias, degradação e redução dos seus territórios, o que ocorre ainda hoje. “Vemos os povos indígenas sofrendo uma ampla perda de direitos adquiridos, com seus territórios sendo alvo de grande especulação do agronegócio e das empresas de mineração, muitas vezes apoiada por políticas inescrupulosas.”
O diretor alerta que tais ações impossibilitam as práticas de caça, pesca e coleta, dificultando o acesso à água e demais recursos fundamentais para reprodução dos seus modos de vida tradicionais. “Na casa-sede do Jardim Botânico, a exposição recria cenários da vida na aldeia, como uma cena doméstica com exposição de cerâmicas, lanças de caça, adornos de cabeça e artesanatos de madeiras que ilustram a imensa capacidade artística e cultural dos Maxakali.”
Motta também chama a atenção para a mostra de fotografias com imagens que captam o modo de vida do grupo. “Através da exposição, o Jardim Botânico cumpre a importante função de apoiar as lutas dos povos indígenas por seus direitos, conduzindo o visitante a uma vivência da trajetória de vida desses povos, descolonizando saberes e democratizando espaços que até bem pouco tempo permaneceram fechados para essa diversidade.”
“Trata-se de uma experiência na qual o visitante é levado a perceber a capacidade dos povos originários de conviver em perfeita harmonia com a biodiversidade, em contraste com o caráter destrutivo que adotamos atualmente”, destaca, lembrando que essas nações conseguiram se desenvolver e manter seu modo de vida baseados em conhecimento, manejo, aproveitamento e otimização da biodiversidade de uma forma completamente diferente da nossa sociedade.
Marco Temporal
Tendo como cenário o momento político atual, em que se debate a tese do Marco Temporal, com importantes repercussões sobre a questão da delimitação de terras indígenas, a funcionária do Maea, Cecília Porto, considera fundamental a oportunidade de se retomar a exposição, que, oportunamente, se coloca como um meio de conscientização sobre o processo histórico de invasão do território que hoje chamamos de Brasil.
Em sintonia com Maxakali – A Resistência de um Povo, os ecos da mostra se somam aos protestos e às críticas das nações indígenas e de diversos segmentos da sociedade civil em relação ao polêmico Marco Temporal, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por considerar territórios indígenas apenas aqueles que já haviam sido ocupados na data de 5 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil.
Cecília acrescenta que, por meio da mostra, é possível perceber o domínio tecnológico que os Tikmu’um Maxakali possuem na manipulação de tipos de matéria-prima que atualmente não se faz usual, não só em função de mudanças na materialidade de seu cotidiano mas, principalmente, pela dificuldade de obtenção de recursos naturais, como consequência das práticas de degradação ambiental e desvalorização dos saberes ancestrais.
Visitas mediadas
Juntamente com bolsistas e voluntários, Luciane Monteiro e Cecília Porto orientam as visitas guiadas à exposição Maxakali – A Resistência de um Povo, sendo que o agendamento deve ser realizado no ato da visita, no sábado à tarde ou no domingo pela manhã, na portaria da casa-sede onde estão localizadas as galerias Mehtl’on e Tlegapé do Jardim Botânico, respeitando-se a disponibilidade de vagas. O número de pessoas em cada grupo está limitado a dez por sessão, sendo que, nas datas disponíveis, devem haver quatro mediações de aproximadamente 30 minutos.
Os interessados em visitar a mostra precisam atentar para o fato de que a casa-sede funcionará exclusivamente aos sábados entre 14h e 16h, e aos domingos, das 9h às 11h. Já na portaria do Jardim Botânico, nesses horários, os visitantes serão informados sobre a possibilidade de integrar os grupos mediados. A entrada para outras áreas do Jardim Botânico, que fica na Rua Coronel Almeida Ferraz 246, é permitida de terça a domingo, das 8h às 17h, com última entrada às 16h.
Outras informações
(32) 3224-6725