Há um ano o Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) abria as portas para receber as primeiras de 52 mil visitas. Situado em um dos raros remanescentes de Mata Atlântica, o equipamento de extensão se firmou como espaço público de educação e de valorização da biodiversidade.
Desde 12 de abril de 2019, data que marcou a abertura dos portões do Jardim, os números demonstram o interesse da comunidade pelo espaço. Além das mais de 50 mil visitações, recebeu 210 escolas públicas e particulares; sediou 11 eventos de extensão e foi espaço para a realização de 34 aulas de campo de graduação e pós-graduação em 17 disciplinas. Tornou-se ainda um laboratório vivo para 13 pesquisas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e recebeu três exposições artísticas. Vinculado à Pró-reitoria de Extensão (Proex), mantém ainda 48 monitores de educação ambiental, dos quais 38 são bolsistas e 10 voluntários.
Para celebrar um ano de atividades, o Jardim irá promover uma série de bate-papos com pesquisadores por meio de lives em seu perfil no Instagram (@jardimbotanicoufjf). As conversas, ao vivo, irão da próxima segunda, 13, a sexta, 17, sempre às 11h. Os convidados apresentarão temas como biodiversidade e qualidade de vida, Covid-19 e ambiente, ecologia das doenças, educação ambiental e análise de um ano de abertura do Jardim. Os encontros ocorrem on-line porque o Jardim segue as recomendações de distanciamento social e está fechado à visitação.
Biodiversidade como direito
Os jardins botânicos são instituições seculares que abarcam entre suas funções contribuir para a conservação da biodiversidade. “Na Constituição Federal, a biodiversidade, assim como a saúde, o ensino e a segurança, também é um direito garantido a todos. Apesar de, no Brasil e no mundo, haver a tendência de ela ser privatizada, o Jardim oferece livre acesso, gratuito, para toda a população”, afirma o diretor do Jardim Botânico da UFJF, Gustavo Soldati. “Mesmo sendo um espaço para turismo e passeio, nosso foco sempre estará voltado para a educação, seja recebendo escolas, sediando eventos ou orientando os turistas em meio às visitações guiadas ou espontâneas”, completa.
De acordo com o reitor Marcus David, a data marca a celebração de um ano de funcionamento e a contribuição do espaço para Juiz de Fora e região. “O Jardim é muito importante não só por ser aberto ao público ou por ser um ambiente de valorização da natureza, mas por todos os projetos de ensino, pesquisa e extensão nele realizados. Infelizmente comemoramos com os portões fechados em função da pandemia, mas, tão logo passe, estará aberto novamente.”
Além de perceber o Jardim como um ambiente onde é possível à população exercer uma série de direitos, a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, diz que o equipamento extensionista simboliza um ponto de encontro dos pilares acadêmicos. “Assim como o encontro de pessoas em aprendizagem e o da natureza com o espaço urbano em interação muito positiva.”
Despertar a consciência ambiental
O espaço segue um Projeto Político Pedagógico de Educação Ambiental com diretrizes teóricas e institucionais para seu posicionamento como espaço coletivo de extensão universitária. Segundo o vice-diretor do Jardim, Breno Moreira, o Brasil vive retrocesso em relação à conservação e à preservação do ambiente. Assim o campo da educação ambiental tornou-se ainda mais um espaço de conflito, e o rumo tomado no presente definirá o futuro de toda a biodiversidade.
“No Jardim, desenvolvemos um projeto de educação ambiental crítico e forte para despertar em nossos visitantes a consciência ambiental e a percepção de que todos os seres vivos estão interligados e o valor do Jardim e da Mata do Krambeck na melhoria de nossa qualidade de vida”, ressalta Moreira.
O Jardim Botânico UFJF possui cerca de 85 hectares de área florestal e disponibiliza ao público o acesso a cerca de 10 hectares. Inclui trilhas, roteiros de visitação, lagos com decks, galerias de arte e Laboratório Casa Sustentável. “Os roteiros buscam mais do que descrever os nomes científicos e populares das espécies e sua importância econômica. Foram elaborados com o objetivo de valorizar os saberes campesinos, quilombolas, indígenas e tradicionais. Os pontos de visitação dos roteiros podem ser vistos como um grande quebra-cabeça que, quando unidas as peças, revela como os saberes ‘não acadêmicos’ são essenciais, associando ciência e conhecimento tradicional”, explica.
“Seguimos um Projeto Político Pedagógico que resgata o conceito de justiça ambiental – foco que ainda não vi em outro jardim botânico no Brasil. Nosso objetivo é conhecer para poder preservar. E, quando as crianças falam com nossos monitores que ali é o lugar mais bonito que já visitaram, isso me emociona demais”, acrescenta Gustavo Soldati.
Amor pela Mata
Apaixonado pela natureza, o estudante de Ciências Biológicas Lucas Morgado atua como monitor de educação ambiental, orientando grupos escolares e outros visitantes. Acredita que a experiência o permite aprimorar a didática e a atuação como futuro educador. “O aprendizado em um espaço não-formal me proporciona explorar novos métodos de ensino, mais dinâmicos e atrativos para os alunos. O contato constante com o ambiente natural também permite que eu melhore meus conhecimentos sobre todos os aspectos da biologia.”
Entre os espaços do Jardim, o que mais o atrai é a “Sala de Aula do Mato”, uma clareira com tocos de madeira, em círculo, usados como bancos. Morgado percebe o local como um ambiente sagrado, palco de diversos rituais indígenas que já ocorreram ali. “É um lugar para meditar e entrar em contato com a natureza. É o ambiente que exploramos muitas vezes com as crianças, onde têm a oportunidade de fugir, por alguns minutos, dos sons da cidade e escutar a natureza à volta.“
Durante as visitas, é possível apreciar espécies vegetais – são cerca de 500 -, exemplares da fauna em vida livre, como também fungos. Uma das apreciadoras é a biomédica Taís Mattos Ferreira, assídua fotógrafa do Jardim. “O que me faz gostar tanto é o contato com a natureza e a paz que o lugar emana. Minha melhor memória de lá foi o meu primeiro registro de aves: uma gralha do campo, em frente à Casa-sede. Ali me apaixonei pela fotografia de aves, o que traz um alento enorme.”
Amigos da Onça
Muitas histórias marcantes já foram vividas no Jardim Botânico, entre elas, as solturas de bichos-preguiças; a realização do evento Manhã Ambiental, e, sem dúvidas, um dos casos que mais mobilizou Juiz de Fora foi a aparição de uma onça-pintada. O felino foi capturado e levado para outra área florestal, onde, em março deste ano, foram instaladas câmeras fotográficas para tentar registrar a presença do animal, uma vez que o colar com GPS, colocado em seu pescoço, não emite mais sinais.
A professora Ana Lívia relembra o quanto foi importante manter contato com a comunidade do entorno, como associações de moradores, principalmente a do Bairro Santa Terezinha, e fortalecer parcerias com instituições para a resolução do caso. “Precisávamos preservar a vida do animal em extinção e cuidar da segurança dos habitantes da região. Isso nos possibilitou a criação de um vínculo positivo e o estreitamento de relações com toda aquela comunidade.”
De acordo com uma das moradoras do Santa Terezinha, Dagmar Ponte de Andrade, o fato de a comunidade ter acesso direto ao espaço para lazer e a práticas de atividades físicas, como caminhada, é um ganho coletivo. Reitera que, apesar de contratempos, os benefícios oferecidos pelo Jardim e o acesso fácil à Diretoria são bastantes satisfatórios.
Outras informações:
(32) 3224-6725 – Jardim Botânico
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