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Onça é avistada no Jardim Botânico, e UFJF fecha área temporariamente

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Onça pintada apareceu ao redor da sede administrativa do Jardim (Foto: reprodução de vídeo/UFJF)

Desde a manhã desta sexta-feira, 26, o Jardim Botânico da UFJF está temporariamente fechado. Foi registrada a presença de uma onça-pintada em área aberta à visitação. Por precaução e segurança dos visitantes, do próprio animal e da população do entorno, a Administração Superior da UFJF, com a Direção do Jardim, optou pela interdição temporária do local e acionou órgãos ambientais e a Prefeitura de Juiz de Fora. 

Ainda na noite desta sexta, um profissional do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio) chegará à cidade e irá ao Jardim para traçar, com a equipe local, um diagnóstico da situação e estratégias de ação. A partir disso, será estabelecido o manejo mais adequado do caso, conforme o “Plano de Ação para a Conservação da Onça-Pintada”, do Ministério do Meio Ambiente.  

Um dos símbolos da fauna brasileira, a onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas. Pelo menos há 80 anos não há registro do animal na Zona da Mata Mineira, conforme estimativa inicial do professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, Artur Andriolo.

O animal, raro e ameaçado de extinção, foi avistado por vigilante do Jardim, na noite da última quinta-feira, 25, em torno das 22h. No vídeo, a onça caminha ao redor da sede Administrativa, localizada a cerca de 300 metros da entrada de visitantes.

 

 

Assista ao vídeo da aparição:

 

A suspensão do funcionamento foi anunciada, na tarde desta sexta, pelo reitor Marcus Vinícius David em entrevista à imprensa. “A presença de um animal como este, nesta região, é um registro histórico. Precisamos lidar com isso da forma mais bem indicada dos pontos de vista ambiental, científico, técnico e de preservação da espécie. Não precisamos criar comoção e pavor na população. Mas, por outro lado, precisamos ser responsáveis, zelosos, com esta situação”, explicou o reitor. “Não era esperado encontrar uma onça-pintada no Jardim, considerada a raridade da espécie”, completou David, acompanhado da vice-reitora Girlene Alves da Silva.

O professor Artur Andriolo estima que o animal seja um jovem adulto, robusto. O sexo ainda não foi identificado. Em geral, conforme o Cenap, a espécie pode chegar a 15 anos, pesar de 35 quilos a 158 quilos e alcançar 2,70 metros de comprimento. Por serem animais solitários, estima-se a presença de apenas um exemplar na área. 

De hábito predominantemente crepuscular e noturno, esses felinos vagam solitariamente por territórios de 50 km² a 100km², em busca de alimentação e reprodução, a qual ocorre uma vez ao ano, no período de primavera. O professor acredita que este exemplar tenha se dispersado de sua área natal, como é comum no comportamento da espécie, em sinal de entrada na fase de amadurecimento. 

Proteção

Órgãos ambientais foram acionados para orientar ações no Jardim (Foto: reprodução de vídeo/UFJF)

“Sabemos que o Jardim é um espaço da universidade, circundado por um bairro. É responsabilidade de vários sujeitos institucionais da cidade cuidarem deste assunto. Por este motivo, hoje, desde o primeiro momento, pela manhã, entramos em contato com todos os órgãos ambientais que têm ligação com a área, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Ibama, a Prefeitura e a Polícia Ambiental”,  listou a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, também presente na entrevista. Na manhã deste sábado, uma reunião será realizada com representantes do setor.

Ao mesmo tempo que a instituição percebe a existência de risco para visitantes e moradores, a presença do animal é um forte indicativo de qualidade ambiental, reforçando a importância da área para o ecossistema regional. O Jardim integra a Mata do Krambeck, um raro fragmento de Floresta Atlântica em regeneração, em meio à área urbana. Antes de ser comprada pela UFJF, parte da área do Jardim corria o risco de se tornar condomínio de alto padrão, entre 2003 e 2009, sob um dos argumentos de não ser caracterizada como Mata Atlântica.

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Em entrevista à imprensa: diretor do Jardim, Gustavo Soldati; pró-reitora Ana Lívia Coimbra; reitor Marcus David; vice-reitora Girlene Alves e professor Artur Andriolo (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Conforme Artur Andriolo, que estuda comportamento animal, nos últimos 20 anos foram registrados dois ou três ataques a humanos por onça-pintada no Brasil. O índice é baixo até mesmo pela raridade da espécie. Além da segurança da população, a localização e a proteção do animal são importantes ainda para a sobrevivência da espécie, pois pode haver o risco de caça ilegal.

Na entrevista, o diretor do Jardim, Gustavo Soldati, acrescentou que a cautela tomada pela equipe, ao abrir o Jardim, tinha embasamento. O Jardim publicou e divulgou orientações e normas de conduta, alertando para os riscos inerentes à visita em um fragmento florestal.

A presença do animal pode ser ainda, conforme o diretor, uma oportunidade de trabalhar conteúdos de educação ambiental, principalmente, por meio de mídias sociais. O Jardim Botânico possui perfil no Instagram e página no Facebook, além de site próprio.  

Onça-pintada

Onça-pintada fêmea e adulta, fotografada no Rio Piquiri, no Pantanal (Foto: Charles J Sharp)

Também conhecida como onça-preta, jaguaretê e canguçu, a onça-pintada é um animal carnívoro, que teve seu território reduzido sensivelmente, conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). É oficialmente extinta nos EUA e considerada muito rara no México. No Brasil, o animal praticamente desapareceu da maior parte das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. No Pantanal e na Amazônia, esses animais  são encontrados em maior número.

Conforme o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), a onça-pintada pode habitar diferentes tipos de ambientes, de florestas tropicais a regiões semi-desérticas. “A espécie parece evitar áreas com elevada altitude, apesar de haver registros de ocorrência de onça-pintada em áreas com 3.800 metros. Além disso, a espécie evita áreas com atividade humana. Em áreas rurais, próximas a ambientes naturais da espécie, elas podem atacar rebanhos domésticos, ocasionando conflitos com proprietários rurais. Não há indícios de que onças-pintadas possam se adaptar a ambientes alterados pela ação humana, porém alguns animais foram fotografados, por meio de armadilha fotográfica, em reflorestamento de eucalipto.”

Entre as causas da diminuição do número de exemplares da espécie estão a caça ilegal e a perda e a fragmentação de habitat, associadas “principalmente à expansão agropecuária, mineração, implantação de hidrelétricas e ampliação da malha viária”, ainda segundo o Cenap.

É classificada pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2014, como espécie vulnerável.  O ‘‘Plano de Ação para a Conservação da Onça-Pintada’’ prioriza, entre outros pontos, estratégias de mitigação de conflitos e redução do impacto da ocupação humana dentro de áreas prioritárias para a conservação da espécie.

Ocupante do topo da cadeia alimentar, a onça-pintada tem importante peso na conservação ambiental. Suas presas incluem pequenos mamíferos, répteis, aves e até grandes animais, como antas, queixadas, veados, jacarés e sucuris.

Segundo o Cenap, sua pelagem varia do amarelo-claro ao castanho-ocreáceo e é caracterizada por manchas pretas em forma de rosetas de diferentes tamanhos. “Estas rosetas são como a ‘impressão digital’ do animal e servem para diferenciá-lo, pois cada indivíduo possui um padrão único de pelagem. Existe também a variação melânica da espécie, que são onças com uma coloração de fundo preto, mas que também possuem as rosetas.”

Fontes: Cenap/ICMBio e WWF

O Jardim

Jardim contribui para a lista de atrativos da cidade (Foto: Gabriela Maciel/UFJF)

Jardim possui mais de 82 hectares de Floresta Altântica em meio à área urbana (Foto: Gabriela Maciel/UFJF)

Inaugurado no último dia 12 de abril, o Jardim Botânico da UFJF integra um dos maiores remanescentes de Floresta Atlântica em área urbana do Brasil, a Mata do Krambeck. Mais de 500 espécies vegetais já foram identificadas na área do Jardim, entre plantas nativas, ornamentais, populações raras ou em extinção, como pau-brasil e ipê roxo. Este fragmento florestal secundário, fruto de regeneração, é ainda um importante abrigo para a fauna local, possui nascentes e contribui para a regulação de diversos serviços ambientais, como o microclima da região.

São 82,74 hectares de mata preservada, equivalentes a 116 campos de futebol, abrangendo toda a área antes denominada Sítio Malícia. Parte de sua extensão foi usada para fins pecuários, plantio de café e extração de lenha. Outros dois sítios, Retiro Velho e Retiro Novo – constituídos como Área de Proteção Ambiental (APA) – compõem a Mata do Krambeck, totalizando 373 hectares. Quando se considera a Mata da Remonta, o fragmento chega a 512 hectares.

Outras informações:
Cenap/ICMBio

Jardim Botânico – UFJF

Plano de Ação para a Conservação da Onça-pintada (ICMBio/MMA)