Psicóloga Iracema Abranches, colaboradora do PPEA/UFJF, reflete sobre vínculos, autoconhecimento e o sentido do trabalho
Você já parou para pensar no que quer viver quando o ritmo do trabalho desacelerar? Em uma sociedade que valoriza produtividade e desempenho, refletir sobre o futuro pessoal pode parecer secundário — mas é essencial. Para a psicóloga Iracema Abranches, pesquisadora técnica no Núcleo de Estudos em Violência e Ansiedade Social (Nevas) e colaboradora do Programa de Preparação e Educação para a Aposentadoria (PPEA) da UFJF, a aposentadoria não deve ser vista apenas como o encerramento de uma trajetória profissional.

Iracema Abranches é colaboradora do PPEA, atuando como mediadora dos encontros sobre projeto de vida e família e vínculos (Foto: Arquivo pessoal)
Segundo Iracema, trata-se de uma nova fase da vida que exige planejamento emocional, ressignificação de vínculos e construção de propósitos. “Não é o fim, é uma passagem para uma nova forma de viver”, afirma. Muitas pessoas confundem planos imediatos com projeto de vida. Quando a aposentadoria se aproxima, essa confusão costuma gerar ansiedade. “É uma ruptura no ritmo de vida que foi construído ao longo dos anos”, observa. Ainda assim, destaca que essa etapa pode abrir espaço para sonhos antes adiados: “Pode ser a oportunidade de realizar algo que ainda não foi possível”.
O impacto da transição varia de acordo com a relação que cada pessoa desenvolveu com o trabalho. Em muitos casos, o trabalho estrutura a rotina, define a identidade e confere senso de pertencimento. “A forma como o sujeito se relaciona com a própria atividade profissional costuma definir como ele vai vivenciar a aposentadoria”, pontua.
Ao longo dos encontros do PPEA, a psicóloga costuma abordar com os participantes o valor simbólico do trabalho e suas múltiplas representações. “Procuramos despertar a noção de que o trabalho pode representar o sujeito, mas não o define”, ressalta. Ela explica que é possível transformar a experiência profissional em outras formas de atuação: um professor aposentado, por exemplo, pode continuar produzindo conteúdo, participando de grupos de pesquisa ou atuando como voluntário.
Sentimentos e relações sociais
A aposentadoria também desencadeia um leque amplo de sentimentos, muitas vezes contraditórios. “Alguns participantes relatam felicidade por terem mais tempo para si, liberdade de deixar um ambiente que já não fazia sentido ou o descanso de não precisar mais ‘ser algo’ o tempo todo.”
Ao mesmo tempo, surgem receios como medo do envelhecimento, sensação de inutilidade social ou a perda da identidade que o trabalho conferia. Esses temas são recorrentes no grupo, e Iracema reforça a importância de tratar tais questões com escuta e acolhimento. “São emoções legítimas e profundas. Por isso, o acompanhamento nesse momento é tão necessário.”
Além da dimensão individual, a aposentadoria impacta diretamente as relações familiares e sociais. A rotina muda, os papéis se transformam e, por vezes, surgem tensões. “É comum ouvirmos que a pessoa aposentada acaba ficando responsável por tarefas domésticas que os outros não têm tempo para fazer, como pagar contas ou cuidar dos animais. Mas não significa que o aposentado está à serviço da família para estes afazeres (a menos que o aposentado fique feliz com essas tarefas), ele não está “sem fazer nada” e, se estiver, é um direito dele”, alerta. Isso não deve ser uma expectativa imposta.
A psicóloga destaca que um dos principais objetivos do PPEA é justamente ajudar cada participante a reconstruir seu lugar nas relações familiares e sociais de forma saudável. “Falamos sobre esses assuntos sem preconceitos, tirando a ideia de certo e errado. Isso permite que cada um reflita sobre suas escolhas com liberdade e consciência.”
Segundo ela, embora muitos participantes cheguem ao grupo com certa resistência, esse bloqueio tende a se dissolver rapidamente. “Assim que percebem que seus sentimentos são acolhidos e compartilhados por outras pessoas, passam a se abrir com mais tranquilidade.”
Quer começar a refletir sobre isso também?
As inscrições para o Programa de Preparação e Educação para a Aposentadoria (PPEA) da UFJF estarão abertas a partir de 4 de agosto de 2025. Voltado a servidores docentes e técnico-administrativos, o programa promove encontros presenciais com temas como projeto de vida, vínculos, identidade profissional, saúde emocional, aspectos legais e planejamento pessoal.
A proposta é oferecer um espaço seguro para que cada servidor possa refletir sobre sua trajetória e planejar sua próxima etapa com mais autonomia. “Durante esse tempo, pude perceber medos se dissiparem, expectativas se desenvolverem, a vida recuperar o sentido sem o trabalho”, conta Iracema. “Por outras vezes, o medo permaneceu, mas sempre com mais consciência do lugar que o trabalho ocupa na própria vida.”
As atividades são gratuitas, realizadas na Casa Helenira Preta, e a programação completa será divulgada em breve pelos canais da Progepe e da UFJF.
Dúvidas sobre o PPEA?
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