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Cossbe realiza formação sobre questões étnico-raciais e a saúde dos servidores da UFJF

Equipe refletiu sobre o impacto do racismo estrutural nas práticas de cuidado à saúde

 

A Coordenadoria de Saúde, Segurança e Bem-Estar da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Cossbe/Progepe) promoveu uma formação interna, na última quinta-feira (3), com o tema “Questões étnico-raciais e a saúde dos servidores da UFJF”, reunindo cerca de dez profissionais de diferentes áreas de atuação. De acordo com uma das organizadoras, a assistente social Sabrina Barra, a iniciativa é fruto de uma semente plantada no Novembro Negro de 2023 e buscou integrar a discussão sobre relações étnico-raciais ao campo da saúde do trabalhador.

Danielle Teles (à direita) e Ana Beatriz Quirino (à esquerda) promoveram reflexões sobre colorismo, racismo institucional, classe, gênero e território (Foto: Comunicação da Progepe)

A formação contou com a mediação de Danielle Teles – diretora de Ações Afirmativas da UFJF, professora da Faculdade de Medicina da UFJF e integrante do Comitê Técnico de Saúde da População Negra de Juiz de Fora – e da enfermeira obstetra Ana Beatriz Quirino, da Prefeitura de Juiz de Fora – que também atua no Comitê Municipal de Prevenção à Mortalidade Materna, Infantil e Fetal. 

“Toda vez que falamos de racismo nos conectamos com nossa ancestralidade”, afirmou Danielle Teles. Ao iniciar sua fala, pediu “Agô” — palavra que em iorubá significa tanto permissão quanto acolhimento — como forma de respeito à ancestralidade e à seriedade do tema. Ela destacou que compreender as relações étnico-raciais é fundamental para o cotidiano de qualquer profissional. “As pessoas têm histórias atravessadas pelo racismo” e trabalhar com a temática exige mobilizar sentimentos, angústias e sofrimento — o que permite começar a compreender a engrenagem do racismo. 

Para iniciar a conversa, foram diferenciados os conceitos de consciência racial, entendida como uma percepção individual da identidade racial, e letramento racial, que envolve entender a estrutura social que reproduz a violência e o sofrimento causados pelo racismo.

Durante o encontro, foram abordadas questões como o racismo institucional, colorismo, classe, gênero, território e o impacto direto do racismo nas práticas de saúde. A partir de atividade dinâmica com os participantes, Daniele propôs uma reflexão sobre como a biologia foi utilizada dentro de um sistema político e econômico para justificar desigualdades e legitimar uma estrutura de poder e “apartheid” no Brasil.

Ela chamou atenção para o modo como o racismo se manifesta de forma consciente e inconsciente, por meio de olhares, posturas corporais e narrativas que reforçam um padrão eurocêntrico, com o branco como referência. “Racismo é sistema, é estrutura. Ele se naturaliza e se banaliza sem questionamento”, destacou. Também problematizou o uso da palavra “desigualdade” em vez de “iniquidade”, ressaltando que esta última remete à noção de injustiça.

Sabrina Barra, assistente social da Cossbe, foi uma das organizadoras do encontro (Foto: Comunicação da Progepe)

A formação ainda abordou a invisibilização das políticas de promoção da equidade racial, a subnotificação de dados e a consequente ausência de verbas públicas. Para Danielle, a reparação histórica é sobre o presente e o futuro, e não apenas sobre o passado.

Em depoimento, Juno Rio Garcia, da área de Segurança do Trabalho, destacou a importância da capacitação para refletir sobre os efeitos do racismo no atendimento à população negra: “Com o racismo estrutural, muitas vezes profissionais ‘branques’, que são maioria na área da saúde, não acessam dados como o baixo aprofundamento no diagnóstico ou o fato de a população negra evitar procurar atendimento para se proteger de violências.”

Juno também traçou paralelos entre os dados e relatos apresentados pelas convidadas e sua vivência enquanto pessoa trans: “Percebi várias dificuldades em comum entre a população negra e trans. Corpos que são vistos como objetos de estudo, mas não merecedores de cuidado e tratamento digno.”

Em função do interesse e repercussão, há expectativa de outros encontros formativos.