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Relatos de experiências

Relato de experiência internacional – Presley Martins – Dinamarca

Søren Kierkegaard Forskningscenteret SKC Project Seminar Presley H. Martins (Federal University of Juiz de Fora, Brazil) “Within the Tomb of Lazarus: Kierkegaard’s Perspective on Death and Hope”

 

 

 

O aluno do PPCIR Presley H. Martins está realizando seu doutorado sanduíche na Universidade de Copenhagen, Dinamarca. A sua pesquisa versa sobre a obra do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Na Universidade de Copenhague, no departamento de teologia, há o centro de estudos SKC – Søren Kierkegaard Research Centre. Além da obra completa do pensador dinamarquês, o centro possui um rico acervo de trabalhos especializados em Kierkegaard.

 

 

 

 

 

Veja a entrevista que Presley nos concedeu.

Como você se sentiu ao receber a notícia de que ganhou a bolsa para estudar no exterior?

Foi um sentimento indescritível. Eu estava em uma padaria em Juiz de Fora, naquele dia, que era a data prevista para divulgação dos resultados, eu atualizava a página do PPCIR a cada 2 minutos. Quando finamente o resultado fora publicado, o coração queria sair pela garganta. O sentimento foi de profunda alegria e gratidão, pois o caminho até ali teve suas pedras.

Qual é o país e a universidade em que você está estudando atualmente? O que motivou sua escolha?

Estou estudando na Universidade de Copenhagen, na Dinamarca. Minha pesquisa é sobre a obra do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard. Aqui na Universidade de Copenhague, no departamento de teologia, há o centro de estudos SKC – Søren Kierkegaard Research Centre. Além da obra completa, o centro possui um rico acervo de trabalhos especializados em Kierkegaard. Outra motivação que foi fundamental em minha escolha foi a oportunidade de poder viver e aprender sobre a cultura dinamarquesa, bem como a possibilidade de estudar o idioma dinamarquês na Studieskolen. O curso é oferecido pelo governo dinamarquês, sendo gratuito para os imigrantes.

Quais foram os critérios de seleção para essa bolsa e como você se preparou para o processo seletivo?

Os critérios consistiram na preparação e escrita de um projeto de pesquisa alinhado com o projeto de doutorado aprovado no processo seletivo do PPCIR e na comprovação de proficiência em língua estrangeira — o idioma irá depender do país em que o candidato for escolher.  No projeto, os critérios de avaliação foram: a aderência do projeto à área de concentração do candidato; qualidade e clareza do projeto e a relação entre o projeto e a universidade pretendida pelo candidato. A pontuação do currículo Lattes também foi considerada no processo seletivo. Desde que entrei no doutorado, eu já cogitava realizar a seleção para o doutorado sanduíche. No primeiro ano, eu li o edital e descobri que seria necessário um tempo mínimo no doutorado para poder submeter um projeto. Aproveitei aquele ano para estudar o inglês, um dos requisitos para poder fazer sua inscrição, e para aprimorar o projeto de pesquisa. Em relação à preparação, assim que o edital do PDSE 2022 foi divulgado, eu decidi que escreveria o projeto sobre um tema de um capítulo que fosse compor a tese final. Nesse sentido, tive algumas conversas com o meu orientador para discutirmos o projeto a ser trabalhado no centro de pesquisa em Copenhague. Desse modo, o projeto atenderia aos critérios de seleção, já que ele estaria vinculado à minha área de concentração, ao meu projeto de doutorado e à Universidade de Copenhague. Depois de ter conversado com o orientador, iniciei a pesquisa e as leituras para escrita do projeto, ao mesmo tempo, continuei estudando inglês e agendei o teste para o exame de proficiência. Eu optei por realizar o TOEFL ITP. Após a escrita do projeto, eu enviei ao meu orientador para que ele pudesse ler e fazer suas considerações. Também pedi para minha esposa, Maria Angélica, que também é aluna de doutorado do PPCIR, ler e fazer suas considerações, observando o que poderia ser melhorado. No que se refere aos estudos do idioma, eu realizava constantemente leituras de artigos e livros em inglês, bem como comecei a ouvir podcasts em inglês sobre os assuntos que me interessavam. Além disso, assisti a muitas aulas no Youtube e, o que penso ter sido o mais importante, fiz e refiz vários simulados do TOELF ITP disponíveis gratuitamente no Youtube. Também é preciso estar atento que, mesmo após a aprovação no processo, um critério para poder deixar o país e ir para o período sanduíche é passar pelo exame de qualificação, que consiste na escrita de um capítulo da tese, mais a entrega do projeto de doutorado. Desse modo, é preciso ter em mente que, além da preparação para o processo seletivo, é necessário articular junto com o orientador a escrita do capítulo da tese e a data para o exame de qualificação, que deverá ser antes de sua partida do Brasil. Tudo isso foi essencial em relação à minha preparação para o processo seletivo.

 

Quais são os benefícios de estudar no exterior na sua área de estudo?

Os benefícios são inúmeros; aprender a escrever e a comunicar sua pesquisa em outro idioma, tornando possível trocas de experiências e perspectivas em um ambiente internacional; aprofundar sua pesquisa em conversas com outros pesquisadores; questionar seu paradigma de pesquisa, aprimorando seu olhar em relação ao seu objeto de pesquisa; aprender o idioma do autor que estou pesquisando, o que possibilita uma leitura mais ampla e aprofundada do autor, entendendo seu contexto e cultura. Viver e aprender em outra cultura o ensina a reaprender a olhar para sua própria cultura e lugar, isso possui um valor inestimável tanto para formação do pesquisador, quanto para vida.

 

Quais são as principais diferenças que você encontrou entre o sistema educacional brasileiro e o do país em que está estudando?

As universidades na Dinamarca são públicas, sendo um país que promove a igualdade e o bem-estar social, o sistema educacional oferece equidade na formação para que todos possam ir à universidade. No Brasil, por ainda ser um país com muita desigualdade, ainda enfrentamos dificuldades no que diz respeito ao acesso à educação superior, embora, graças a políticas públicas, seja considerável o avanço que tivemos nas últimas décadas. Mas ainda temos muito trabalho pela frente, para que um dia o Brasil atinja essa equidade na formação educacional. Outra diferença muito significativa que tenho percebido é que o Brasil, através da CAPES e do CNPQ, oferece mais oportunidades de bolsas de estudos à nível de mestrado e doutorado, bem como bolsas para período sanduíche. Desse modo, o investimento na pesquisa, não apenas ajuda no desenvolvimento científico do país, como também vem a ser fundamental para uma formação de qualidade de futuros professores, o que contribui significativamente para o avanço da educação e, por conseguinte, para a diminuição da desigualdade em nosso país.

Como é a interação com outros estudantes estrangeiros e locais em seu programa de pós-graduação? Há alguma diferença cultural notável?

Há diferenças de costumes, obviamente, como alimentação e modo de interagir, bem como de perspectivas de vidas. Em linhas gerais, percebi que, devido toda nossa condição socioeconômica, somos mais ansiosos e tememos mais o fracasso, enquanto aqui eles levam a vida com mais tranquilidade, já que vivem em melhores condições sociais e econômicas. Eles sabem que se algo não sair conforme o esperado, eles terão apoio do Estado, poderão recomeçar sem muitos transtornos, não é como se toda a vida deles dependesse do sucesso ou fracasso na pós-graduação. Assim, a interação também perpassa por essas diferenças. Tendemos a andar mais preocupados, trazendo no olhar um pouco desse anseio, que pesa sobre as pálpebras, fazendo-nos parecer que estamos sempre com pressa e cansados.

Quais são as oportunidades de pesquisa que você destaca? Você participou de alguma conferência ou evento relevante para a área?

Tive a oportunidade de marcar uma reunião e conversar sobre o meu projeto de pesquisa com todos os professores aqui do Søren Kierkegaard Research Centre. Também tive a oportunidade de realizar um seminário, em que apresentei os resultados da minha pesquisa aos pesquisadores do centro. Desse modo, tive a possibilidade de receber perguntas e de discutir meu projeto com os meus colegas de pesquisa. Destaco também a participação nos workshops semanais que visam discutir textos de Kierkegaard. Além disso, ainda irei participar SKC Annual Conference, que ocorrerá entre os dias 16 e 18 de agosto. Este é o principal evento do Søren Kierkegaard Research Centre, em que se reúne pesquisadores de todo o mundo para discussão da obra do filósofo dinamarquês.

 

Como você avalia o suporte oferecido pela instituição de ensino e pelos programas de pós-graduação no exterior?

Excelente. Aqui na Universidade de Copenhague recebi todo o suporte necessário para realização de um bom trabalho. Além de disponibilizarem um espaço para trabalhar, sempre quando foi necessário, eles foram muito solícitos e ágeis ao forneceram informações, orientações e documentos. Com o cartão de pesquisador visitante que recebi da universidade, pude utilizar a impressora para fazer impressões e scanners sem limite de páginas.

Quais são os desafios que você enfrentou durante seu período de estudos no exterior e como os superou?

Quando eu cheguei na Dinamarca, era inverno. O frio aqui é rigoroso e os dias nessa época do ano são ainda mais escuros, para quem vem de um país tropical e está acostumado a ver o sol o ano todo, no começo essa mudança pode ser difícil. Você pode se sentir isolado, ser estrangeiro não é fácil; você está longe de familiares e amigos, por isso, é também um processo solitário, pois, para algumas questões, uma comunicação envolve mais do que poder compreender e falar outra língua. Você pode até ser fluente no exterior, mas continua a ser um estrangeiro, pois a língua na qual aprendeu a sentir o mundo é outra. E isso faz toda diferença, pois o significado é distinto, mesmo que a tradução seja a mesma. Assim, algumas questões podem ser difíceis de comunicar e serem compreendidas, pode até existir uma ponte, mas nem sempre somos capazes de atravessá-la sozinhos. Por isso, sempre busquei compartilhar esses momentos com amigos e familiares no Brasil. É claro que o fator biológico também implica em nosso emocional, por isso, não negligenciei o uso da vitamina D, já que recebê-la diretamente da luz solar era quase como um evento eclipse, raro de acontecer. Eu também busquei dividir minhas experiências com outros estudantes que estavam no mesmo processo, isso me ajudou a entender muitas questões e a enfrentá-las durante esse período; compartilhar é aliviar um pouco o peso para que ambos possam continuar.

Que conselho você daria para outros estudantes que estão considerando buscar oportunidades de estudo no exterior na área de Ciência da Religião?

Pesquise muito para encontrar a universidade e o orientador que sejam certos para pesquisa que está fazendo. Isso o ajudará a elaborar e estruturar um bom projeto de pesquisa que irá agregar tanto à sua pesquisa, quanto à sua formação enquanto pesquisador.  Procure conversar com o seu orientador sobre seus interesses e planos, ele o ajudará a pensar sobre possíveis caminhos para sua pesquisa. Busque ter contato com a universidade e o coorientador no exterior antes de iniciar o processo seletivo para o doutorado sanduíche. Os prazos costumam ser apertados (fique atento a eles!), esse contato prévio o ajudará quando precisar pedir a carta de convite para a universidade que pretende ir. Além disso, isso também facilitará para o coorientador escrever a carta de aceite que a CAPES exige, uma vez que ele já saberá quem você é, bem como terá conhecimento sobre a pesquisa que está desenvolvendo e que pretende continuar a desenvolver no exterior. Seja persistente e ousado; muitas vezes podemos pensar que algo não é para nós, seja pelas nossas experiências passadas, nossas desconfianças em nós mesmos ou por uma habilidade que ainda nos falte, podemos ser tentados a desistir antes mesmo de dar uma nova oportunidade para nossos sonhos, mas também podemos ser surpreendidos no futuro pela nossa escolha de não desistir. Aprender um idioma não é fácil, mas hoje há muitas ferramentas à disposição na internet para que seu aprendizado seja possível; ouse aprender algo novo, persista quando parecer impossível.  É preciso falar com as pessoas, perguntar, enviar e-mail para professores falando sobre seus interesses de pesquisa, trajetória, perguntando sobre possibilidades e oportunidades de colaboração. Receber críticas pode ser difícil, mas o crescimento pessoal nunca vem sem elas, assim, prepare a casa para recebê-las e busque acomodá-las na sua capacidade de superar. Há algo mais importante em jogo do que nosso ego. Estar disposto a sacrificá-lo será o que possibilitará esse crescimento. Ao mesmo tempo, é importante saber distinguir entre as críticas construtivas que vêm daqueles que querem ver o seu melhor, das críticas destrutivas que vêm sem nenhum propósito, estas devem ser ignoradas, por mais difícil que isso possa ser. O que pode ajudar é você se concentrar nas críticas construtivas, pois elas sempre vêm acompanhadas de auxílio, possibilidades e caminhos. O propósito delas é extrair o melhor que você pode se tornar, elas têm um sentido, acredite nele.  É necessário ter bem claro para si qual o seu objetivo e paixão, isso o ajudará a persistir quando tudo ficar turvo e confuso; é preciso ter uma luz à qual você possa olhar para se guiar nos dias em que você sentir que aquela motivação inicial está se esvaindo, mesmo que às vezes essa luz perca um pouco de sua intensidade, ela não o deixará às cegas e sem perspectivas. Durante o processo, você terá muitas responsabilidades, além das disciplinas, terá que ir atrás de vários documentos, assinaturas etc., tenha controle sobre os prazos, busque a melhor forma para se organizar. Lembre-se, nossos orientadores têm a vida agitada, além das necessidades do dia a dia e da vida pessoal, eles participam de bancas de qualificação e defesa de mestrado e doutorado, escrevem artigos, organizam e escrevem livros e capítulos de livros, lecionam em disciplinas,  fazem e corrigem avaliações, participam de reuniões, emitem pareceres, organizam eventos e palestras e etc., portanto, caso precise cobrar algo urgente (como uma carta de recomendação ou assinatura de algum documento), não hesite em lembrá-los dos prazos, evite fazer isso de última hora, eles entenderão e até irão agradecê-los por não terem os deixado esquecer. No meio de tanta correria, algo imprevisto pode acontecer, caso aconteça, não hesite em pedir ajuda e conversar com seu orientador e com coordenador do curso. Eles poderão dar o conselho certo e a força necessária para que você não desista, ajudando-o a ver o que você não está conseguindo enxergar nos momentos de dificuldade. Não avançamos sozinhos, mesmo que a solidão faça parte de nossos dias, a colaboração é uma parte essencial de quem nós somos, sendo ela nosso ponto de partida e chegada.