Por Katrine Couto, mestranda do PEC/UFJF

Frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela intensa exploração
de recursos naturais, uma nova pesquisa apresenta um caminho mais sustentável
para a infraestrutura ferroviária: utilizar escória de aciaria, um resíduo gerado na
produção de aço, como alternativa às rochas naturais usadas como lastro, a camada
de sustentação dos trilhos.
Atualmente, as escórias de aciaria, também chamadas de agregado siderúrgico, não
tem uma destinação bem definida. Uma parte é doada ou usada em infraestrutura de
rodovias, mas outra grande parte é acumulada em pátios a céu aberto, formando
enormes montanhas que ocupam grandes áreas, geram muita poeira, e causam
impactos ambientais e riscos à saúde humana. Por outro lado, a extração de rochas
naturais (brita), usadas tradicionalmente como lastro ferroviário, além de ser um
recurso não-renovável, também traz consequências negativas, como a alteração de
paisagens, geração de poeira e poluição sonora com o uso de explosivos.
Nesse sentido, a pesquisa da engenheira Katrine, orientada pelos profs. Julia
Mendes e Geraldo Marques, analisou os impactos ambientais e financeiros da
substituição do lastro tradicional de rocha britada pelo agregado siderúrgico
beneficiado. A proposta se conecta diretamente aos princípios da economia circular,
que busca transformar resíduos em novos recursos, além de poupar o consumo de
recursos naturais.

A análise foi realizada por meio da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), uma
metodologia que avalia os impactos ambientais de um material desde a extração da
matéria-prima até o fim da sua vida útil. O estudo contou com a parceria de uma
concessionária ferroviária e uma siderúrgica da região Sudeste. A categoria de
impacto ambiental avaliada foi o potencial de aquecimento global (GWP), medido
pela emissão de gases de efeito estufa, alinhando-se diretamente às preocupações
com as mudanças climáticas.
Os resultados mostraram que, para atender 1 km de ferrovia, enquanto o lastro
tradicional gera 13 mil kg de CO 2 equivalente, o lastro de agregado siderúrgico
apresentou 245 mil kg de CO 2 equivalente. Esse potencial de aquecimento global
negativo significa que o material contribui para a *captura* de CO 2 atmosférico, não
para sua emissão, por causa de reações de carbonatação que as escórias sofrem
naturalmente ao ar livre.
No aspecto financeiro, o desempenho também foi positivo. Considerando todo o
ciclo de vida de 1 km de ferrovia, o lastro de agregado siderúrgico teve um custo
31,9% menor que o do lastro tradicional.
Apesar dos benefícios ambientais e econômicos, a pesquisa identificou resistência à
adoção de novos materiais no setor ferroviário. A forte tradição no uso do lastro de
rocha britada, somada a falta de regulamentações específicas, dificulta a aceitação
de novas alternativas. Por isso, o estudo destaca a importância de ampliar o diálogo
entre empresas, o poder público e instituições de pesquisa, para se criar incentivos
que favoreçam a inovação no setor.
Leia mais: Katrine Stefânia Couto (katrine.couto@estudante.ufjf.br). Investigação
ambiental e financeira do uso de agregado siderúrgico como lastro em pavimentos
ferroviários. 2025. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Juiz de Fora.