Estão abertas as inscrições para o evento “Por debaixo das manobras: reflexões para além da arquitetura popular brasileira”, que será realizado de modo remoto entre os dias 23 e 27 de novembro, no YouTube. O objetivo da atividade é fomentar reflexões acerca das contribuições da população negra para a arquitetura e o urbanismo. Além disso, será debatida a aplicação das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que estabelecem as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
As inscrições são gratuitas e abertas ao público em geral, em especial pessoas negras. Os interessados em participar devem acessar este link, no qual também poderão saber mais sobre as atividades, o cronograma, os convidados e os temas. Será conferida certificação.
O evento é organizado pelo “Cafofo, coletivo de estudantes pretes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Objetivo é falar sobre esse corpo, do nosso corpo dentro da construção nacional, e, consequentemente, na história da arquitetura e do urbanismo no Brasil, buscando a inserção efetiva dos alunes pretes” – Dayane Máximo
“A precariedade da aplicação dessas leis [10.639/2003 e 11.645/2008] conduz a diversos tipos de consequências, como por exemplo a dificuldade de se autoconhecer enquanto corpo preto dentro da Universidade. A partir disso, o objetivo é falar sobre esse corpo, do nosso corpo dentro da construção nacional, e, consequentemente, na história da arquitetura e do urbanismo no Brasil, buscando a inserção efetiva dos alunes pretes dentro do curso”, ressalta a integrante do “Coletivo Cafofo” e estudante do 7° período de Arquitetura da UFJF, Dayane Máximo.
Da ancestralidade aos dias atuais
A também integrante do coletivo e estudante do 6° período de Arquitetura na UFJF, Larissa Angélica, explica que para a organização das atividades o grupo fez uma pesquisa histórica.
“Perpassando pela ancestralidade e caminhando até os tempos atuais, começando com o contexto deste corpo no espaço e seguindo pelas ideias introdutórias sobre filosofia africana, a construção da identidade afro-brasileira, arquitetura quilombola e finalizando com o ensino de afro-brasilidades e o pensamento decolonial.”
De acordo com Larissa, a proposta é trazer a formação acerca do assunto, evidenciando produções e projetos de pessoas negras. “Para elucidar e enriquecer o conhecimento arquitetônico que, como ciências sociais aplicadas, preza também pelos estudos e pesquisas de cunho cultural, o que estimula o desejo e a propagação de uma linha de pensamento decolonial dentro do curso”, aponta.
Conheça a história do “Coletivo Cafofo”
Este é o primeiro evento idealizado pelo Coletivo Cafofo para além da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFJF. Porém, a organização dos estudantes negros da referida unidade acadêmica teve início há cerca de três anos.
“Em 2018, movidos pela noção de não pertencimento dentro do curso, nos unimos para elaborar uma intervenção intitulada Onde estão as negras na Arquitetura?” – Dayane Máximo
“Nos deparamos com uma notória falta de representantes negros e negras nas ementas acadêmicas já nos primeiros períodos de curso, e nos agrupamos pela primeira vez em 2017, de forma indireta, com o objetivo de produzir artigos e compartilhar conteúdos relacionados à negritude, feminismo negro e arquitetura”, conta a estudante Dayane.
No âmbito da FAU/UFJF, a primeira atividade do grupo foi realizada em 2018. “Movidos pela noção de não pertencimento dentro do curso, nos unimos para elaborar uma intervenção intitulada ‘Onde estão as negras na Arquitetura?’, na abertura da Semana de Arquitetura e Urbanismo (SAU), questionando a presença dos potentes e importantes corpos femininos e negros que também compõem a história da arquitetura e do urbanismo. Nessa atividade, expusemos o quanto as mulheres negras são invisibilizadas ao longo da história da arquitetura e do urbanismo e, utilizando como base a teoria do caos e o efeito borboleta, falamos também sobre a importância de nos unirmos enquanto alunes negres perante um cenário majoritariamente branco dentro do curso”, acrescenta.
De acordo com Dayane, a intenção do Coletivo Cafofo é organizar uma rede de acolhimento, conhecimento e fortalecimento entre as alunas e alunos negros. O lançamento oficial do grupo, que já conta com 18 integrantes, foi em 14 de setembro deste ano.
Confira aqui a cartilha de apresentação do Coletivo Cafofo
“A formação dessa rede se dará através de encontros de formação, espaços de diálogo e escuta, ações e estudos acerca de arquitetura e urbanismo voltados para esses corpos. Estamos aqui e estamos produzindo, para a construção da identidade, da luta, da visibilidade, da legitimação, da viabilização e apropriação do espaço acadêmico conquistado. A existência dos estudantes negros, perpassados por uma vivência singular, contempla a edificação de um saber prático, identitário e plural, somando para uma riqueza no estudo de arquitetura e urbanismo na UFJF”, conclui.
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