O carbono está presente em todos os seres vivos e é indispensável para a manutenção da vida na Terra. Por isso, está em constante renovação. Ao mesmo tempo que as plantas, algas e demais seres autótrofos utilizam o gás carbônico (CO2) para produzir glicose, os animais que consomem essas plantas o eliminam por meio da respiração. A decomposição da matéria orgânica e do carbono presente no solo também ocasiona a formação CO2. A porcentagem de apenas 0,03% de gás carbônico na atmosfera terrestre é suficiente para manter a vida no planeta. O excesso desse gás faz com que a temperatura global cresça exacerbadamente. Um aumento de “apenas” 3,5 °C da temperatura mundial acarretaria na extinção de 70% de todas as espécies, segundo projeções da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Um aumento de “apenas” 3,5 °C da temperatura mundial acarretaria na extinção de 70% de todas as espécies, segundo projeções da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Em artigo publicado na revista Nature Communication na última sexta, 1, pesquisadores da UFJF em parceria internacional com o Helmholtz Centre for Environmental Research (UFZ) na Alemanha e o Catalan Institute for Water Research (ICRA) na Espanha, chegam a conclusão de que as taxas de emissão de CO2 em áreas secas de ambientes aquáticos como bordas de rios, lagos e reservatórios, que secam em períodos de estiagem, são significativas em escala global. “Nos modelos atuais, estes fluxos não são considerados e diziam que eram insignificantes. Nossa hipótese era que os fluxos não eram insignificantes”, esclarece o pesquisador e coordenador do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade, Nathan Barros, um dos envolvidos no estudo. Além de Barros, André Megali e Fábio Roland, a docente visitante Raquel Mendonça e o aluno de doutorado do Programa José Reinaldo Paranaíba também representaram a UFJF nesta pesquisa.
Estudo mostra que as taxas de emissão de CO2 em áreas secas de ambientes aquáticos como bordas de rios, lagos e reservatórios, que secam em períodos de estiagem, são significativas em escala global.
Emissão de CO2 em áreas secas de ambientes aquáticos
Estudos recentes mostraram que sedimentos expostos pela dessecação de ambientes aquáticos podem contribuir com maiores taxas de emissões de CO2 para a atmosfera do que a superfície da água durante períodos inundados. Tomando esses estudos como base, os pesquisadores trabalharam para testar a hipótese de que as taxas de CO2 emitido por áreas secas de ambientes aquáticos interiores, como rios, lagos e reservatórios, são maiores que as emissões pela água, sendo assim, globalmente relevantes.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores realizaram uma pesquisa global na qual quantificaram os fluxos de CO2 de 196 áreas secas de ambientes aquáticos distribuídas por todos os continentes, exceto a Antártica, representando diversos tipos de ecossistemas de águas interiores (rios, lagos, reservatórios e lagoas) e zonas climáticas (tropical, árida, temperada, continental e polar). “Fizemos um trabalho para padronizar as medições e conseguir medir o máximo de áreas possíveis no planeta. Como resultado conseguimos 196 ambientes”, explica Barros. “O método de medição se baseia nas medições dos fluxos de CO2 com câmaras acopladas ao solo e conectadas em um analisador de CO2”.
Magnitude da emissão de CO2
O estudo obteve os primeiros dados que confirmam que áreas secas de ambientes aquáticos apresentam altas taxas de emissão de CO2 no mundo todo. Os resultados apontam que essas áreas, que antes eram consideradas “insignificantes”, emitem mais CO2 do que áreas de lagos e lagoas inundadas. Segundo Barros, é importante entender e conhecer todos os fluxos antropogênicos de gases de efeito estufa causadores das mudanças climáticas. “Este é mais um fluxos que era desconhecido e agora nós identificamos, quantificamos e apontamos os seus controladores.”
“Este é mais um ‘caminho’ do carbono que estamos apresentando. Não só isso, estamos dizendo qual a magnitude desta emissão”, Nathan Barros.
Desde 2016, Barros trabalha na força-tarefa do IPCC, responsável pelas diretrizes dos inventários nacionais de gases do efeito estufa, que todos os países que assinam o Acordo de Paris têm que emitir a cada dois anos. Em 2019, o pesquisador foi um dos responsáveis pela inclusão de áreas como reservatórios de usinas hidrelétricas no manual de diretrizes do IPCC. De acordo com Barros os resultados obtidos neste estudo podem ser importantes para que a emissão de carbono dessas áreas secas de ambientes aquáticos, antes considerada insignificante, sejam vistas com um olhar diferente. “Este é mais um “caminho” do carbono que estamos apresentando. Não só isso, estamos dizendo qual a magnitude desta emissão. Agora esta nova rota de emissão pode vir a ser considerada nos modelos globais de emissão de carbono antropogênico, como por exemplo nos modelos do IPCC”, aponta Barros.