A comissão interinstitucional responsável pela coordenação dos trabalhos de segurança, monitoramento, captura e translocação de uma onça-pintada, avistada em pelo menos seis localidades em Juiz de Fora, esclareceu dúvidas e reforçou orientações a líderes de bairros do entorno da Mata do Krambeck. O encontro foi realizado a convite do Conselho de Segurança do Bairro Santa Terezinha, na noite desta terça, 7, no Salão dos Vicentinos, na própria comunidade. Este é o segundo encontro entre representantes locais e comissão.
Com acompanhamento e atuação técnica do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), a comissão é composta por sete instituições: Campo de Instruções do Exército Brasileiro em Juiz de Fora, Corpo de Bombeiros, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Estadual de Florestas (IEF/Cetas), Polícia Militar (incluindo a Polícia de Meio Ambiente), Prefeitura de Juiz de Fora e UFJF.
Confira as principais dúvidas apresentadas na reunião pelos moradores:
Quais medidas têm sido tomadas desde o avistamento da onça?
Pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra: Desde a aparição, criamos a Comissão Interinstitucional, formada por órgãos ambientais e de segurança pública em níveis municipal, estadual e federal. Embora o primeiro vídeo que veio a público tenha sido gravado no Jardim Botânico, sua aparição concerne a toda a cidade, uma vez que o animal transita também em outros pontos da Mata do Krambeck e em áreas urbanas. Para nos auxiliar, recorremos a uma equipe técnica, de especialistas, para mapear o território percorrido pelo animal, e acionamos imediatamente o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMbio), por ser referência federal no assunto. Toda a comissão segue as orientações do Centro. Com a captura, conforme orientação do Cenap, o animal será translocado para uma área florestal de vida livre, ampla e mais segura para sua sobrevivência.
Tenente Ana Luíza de Oliveira, da Polícia Militar de Meio Ambiente: Implementamos o patrulhamento às margens do Rio Paraibuna e da Mata do Krambeck para preservar a vida da população e do animal. Precisamos tomar cuidado, pois o felino parece tranquilo, mas, caso se sinta ameaçado, pode tomar atitudes diferentes. Concordamos que ele deva ser translocado, mediante a existência de caçadores na região.
Analista ambiental do Ibama, Valério Duque: O Ibama segue o mesmo raciocínio da comissão e acompanha as orientações do Cenap/ICMbio. O melhor é translocar o animal, pois nossa região não oferece o necessário para a sobrevivência dele.
Há a possibilidade de haver mais de uma onça?
Diretor do Jardim Botânico da UFJF, Gustavo Soldati: Tudo indica que haja apenas um felino, pois nesta fase da vida, o animal costuma ter vida solitária.
Vice-diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira: Por ser um território pequeno, outro macho não invade este espaço, e uma fêmea apenas se aproximaria para reprodução.
Pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra: Nossa equipe tem monitorado, por meio de câmeras e armadilhas fotográficas, os passos da onça e de outros animais da fauna vivente na Mata do Krambeck. Não foi avistada nenhuma outra onça- pintada e também não há indícios de duas ou mais pegadas diferentes nas trilhas.
Tenente José Carlos de Matos, da Polícia Militar: Precisamos tomar cuidado com as notícias falsas – fake news. Muitas pessoas têm dado informações sem ter o mínimo de conhecimento sobre a real situação. Neste momento, há uma equipe de técnicos trabalhando 24 horas, adotando as medidas necessárias. Precisamos acreditar nos especialistas e gostaria de lembrá-los que o aparecimento do felino não tem a ver com a abertura do Jardim Botânico, pois ele já está em funcionamento interno há mais de um ano.
Há algum estudo para saber se a onça era domesticada?
Analista ambiental do IEF, Glauber Barino: Os apontamentos são de ela não ter sido domesticada. Ela faz caça silvestre. Outro indício é a sua boa condição de saúde, pois está vivendo facilmente na mata, característica dificilmente identificada, caso fosse domesticada.
Quais são as armadilhas e como elas são montadas? Há risco de machucar o felino?
Analista ambiental do IEF, Glauber Barino: A armadilha usada é a de laço. Não machuca o animal e, depois de capturado, ele passará por avaliação veterinária. São colocadas armadilhas em espaços onde a onça tem feito o trajeto diário. Não adianta espalhar armadilhas sem ter como fazer o procedimento necessário.
Vice-diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira: O monitoramento mostra que ela faz o mesmo caminho todos os dias no turno da noite. Temos feito associações dos espaços percorridos, mas um dia de chuva como hoje pode causar uma mudança no trajeto dela. Temos muito esperança na captura em breve.
Pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra: Quando ela for recolhida, será feita a coleta de pêlo, urina, sangue do felino para análises. Um estudo genético também pode descobrir a qual fragmento da Mata Atlântica ela pertence. Será colocado um colar, com GPS, com bateria capaz de durar cerca de um ano, para obtermos todos os dados (o colar envia sinais de hora em hora sobre os movimentos do animal). Depois deste prazo de um ano, o colar abre-se sozinho (por meio de dispositivo acoplado, chamado “dropoff”), e os pesquisadores podem recolhê-lo. Estamos fazendo o melhor para proteger este animal.
Quando vão capturá-la?
Analista ambiental do IEF, Glauber Barino: Não é um processo simples e não há prazo exato. As armadilhas são analisadas todos os dias. A onça é esperta e, se identificar a ação humana, pode fugir.
Vice-diretor do Jardim, Breno Moreira: Neste momento, há especialistas monitorando a onça com métodos diferentes para tentar capturá-la. Desde a última sexta, 3, equipes estão mobilizadas 24 horas (o Exército trouxe beliches para o Jardim, pois a equipe faz plantão noturno). O felino é arisco e precisamos reparar o comportamento dele para capturá-lo.
Pró-reitora Ana Lívia Coimbra: O melhor local para que ela seja capturada, conforme nossa equipe técnica, é dentro do Jardim Botânico (onde há monitoramento ininterrupto do animal, o qual passa com regularidade pelo espaço, aumentando as chances de alcançá-lo).
Quais modificações a UFJF fez no espaço original?
Pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra: A Casa Sustentável e a Casa de Educação Ambiental, onde apresentamos princípios de educação ambiental a nossas crianças, foram construídas em clareiras já existentes. Os laboratórios foram montados no espaço de um antigo estábulo. A Casa sede, onde agora há galerias de arte, foi reformada. Foram ainda recuperadas duas áreas com voçorocas, duas erosões imensas, para preservar o lago.
Em casas ao redor têm aparecido cobras e outros bichos. Para segurança dos visitantes, há alguma divisão entre a parte visitável do Jardim, a mata e o bairro?
Diretor do Jardim Botânico, Gustavo Soldati: Apenas 10 hectares do Jardim (que possui 82,7 hectares) estão abertos à visitação. Não não há limites ou cercas entre a mata e os espaços visitáveis, que são limpos frequentemente. Há um protocolo de segurança para visitação do Jardim. Há vários animais no local, mas o comportamento natural deles é se debandar ante barulhos e contato humano, ou seja, é mais fácil se adequarem a viver dentro da floresta do que buscar refúgio em espaço urbano. O caso da onça é atípico.
O que fazer caso o animal seja avistado?
Vice-diretor do Jardim, Breno Moreira: A recomendação é avisar a Polícia Militar de Meio Ambiente, pelos telefones 190 e (32) 3228-9050, ou, em caso de confinamento do felino, o Corpo de Bombeiros pelo 193.
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