Qual o verdadeiro papel da universidade na sociedade contemporânea? O pontapé inicial para esta reflexão foi dado na noite da última segunda-feira, 29, durante a apresentação do projeto Tropicus Mundi, no Instituto de Ciências Humanas (ICH), onde também foram lançadas três traduções contemporâneas sobre o pensamento político de Antonio Gramsci. O Tropicus pretende criar um ambiente receptivo às transformações acadêmicas que irão conferir mais densidade institucional à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O evento contou com a presença da professora Milena Petters Melo, da Universidade Regional de Blumenau (Furb), que além de ter sido membro do Tropicus Mundi, foi orientanda de doutorado do italiano Giogio Baratta, um dos maiores estudiosos de Gramsci e mentor do projeto Tropicus. Outra presença de destaque foi Alberto Aggio, professor da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), autor do livro “Gramsci no seu tempo”. Aggio fez uma retrospectiva da vida de Gramsci, uma das referências essenciais do pensamento de esquerda do século 20.
Romper os paradigmas institucionais e fortalecer e aperfeiçoar as conquistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) nos últimos tempos deram a tônica do discurso do reitor Júlio Chebli. “A UFJF cresceu muito nos últimos anos, isso é indiscutível, tanto em estrutura física, bolsas e pessoal. Contudo, hoje temos muito pouco tempo para discutir que modelo de universidade queremos e o que a sociedade espera de nós. Estas são perguntas que devemos formular. Mas as respostas possíveis devem ser construídas coletivamente, com a ajuda dos professores, técnicos e estudantes da UFJF. Temos que encarar este desafio de frente – com ousadia e coragem – necessárias aos obstáculos e limites que ainda inibem nossa melhor caminhada”, frisou Chebli.
Para o vice-reitor, Marcos Chein, o Tropicus Mundi vai ao encontro do desejo da atual gestão de reformular o papel da instituição. Mas para Chein, antes desta reforma, é necessário discutir coletivamente o papel das pessoas, dos funcionários dentro da instituição. “Precisamos fazer uma profunda reflexão. Ainda estamos presos nos preceitos da universidade do século XIX, até XVI. É preciso romper estes padrões conservadores em termos de ensino, pesquisa e extensão. Temos que levar esta discussão para todos os cantos dos campi de Juiz de Fora e Valadares”, destaca Marcos.
Como surgiu o Tropicus Mundi?
Fundado em 1996, o network Immaginare l’Europa constitui-se como uma rede de universidades, centros de estudos e instituições culturais, criada por pensadores de diferentes áreas do conhecimento, com o intuito de promover o diálogo entre as ciências e as artes mirando contribuir, de forma crítica, para as reflexões sobre uma nova cidadania para a Europa unida.
Com a virada do milênio, o filósofo italiano, professor e um dos presidentes da Immaginare l’Europa, Giorgio Baratta, promove a constituição de uma rede euro-brasileira com o olhar voltado para o conjunto do mundo euro-américo-latino. Giorgio impulsiona o desenvolvimento de uma série de iniciativas e projetos relacionados com a América Latina, especialmente com o Brasil, mantendo um diálogo com intelectuais, artistas, professores e pesquisadores brasileiros. Assim, nasce a ideia do Tropicus Mundi.
Depois da morte de Giorgio, em 2010, o projeto ficou inativo e, agora, é retomado pela UFJF graças ao encontro do professor da Faculdade de Educação, Eduardo Magrone, com a técnico-administrativa em Educação, Edmárcia Andrade, que trabalhou neste projeto na Itália, com Baratta, de 2001 a 2010. “A retomada do Tropicus Mundi é um grande presente para a UFJF. Seria mais provável que este segundo ciclo acontecesse a partir de uma universidade italiana. Mas o meu encontro com o professor Magrone na UFJF fará o projeto renascer no Brasil”, informa Edmárcia.
Segundo Magrone, o Tropicus Mundi pode ser considerado o segundo ciclo do “Repensar a Universidade”, iniciativa lançada em 2011 que tem como meta a reflexão sobre em que a Universidade pode contribuir para o crescimento do país e da sociedade. “O Tropicus é a evolução do Repensar e muito mais abrangente. Vamos criar uma rede de entidades e intercambiar experiências no sentido de discutir a função da universidade no complexo mundo contemporâneo. A universidade é, antes de tudo, uma instituição. Como tal, não deve simplesmente buscar se adaptar às mudanças em curso na sociedade, mas, antes, ela tem que assumir um papel cada vez mais ativo na produção dessas mudanças.”
Outras informações: (32) 2102-3967 (Comunicação)
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