Nesta quarta-feira, 23 de outubro, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realiza a Colação de Grau de 165 alunos de licenciaturas, um marco significativo na trajetória dos futuros educadores. Para alguns, o ingresso na profissão é inspirado pelo exemplo de pessoas queridas ou pelo fascínio por professores da infância. Outros descobrem a vocação desde cedo, enquanto há aqueles que chegam ao magistério por caminhos inesperados. Independente do percurso, a opção é marcada pela paixão e pelo compromisso com a educação. Mas, afinal, qual é a verdadeira importância da escolha pela docência?
A atuação do professor transcende a simples transmissão de conhecimentos; é responsável por moldar habilidades e valores e preparar os alunos para enfrentarem desafios acadêmicos, profissionais e pessoais ao longo da vida. A formatura dos novos docentes é, portanto, uma oportunidade de celebração e reflexão sobre sua importância na sociedade.
“É um momento em que celebramos e refletimos sobre o papel do professor, um profissional que tem contribuído para que o nosso país se posicione de maneira singular na formação de nossos jovens”, afirma a reitora da UFJF, Girlene Alves. Ela destaca que o compromisso da Universidade, muito além da entrega do diploma, abrange uma formação que promove visão crítica e reflexiva sobre a função dos novos educadores.
“A importância do papel do professor na vida do povo brasileiro precisa ser compreendida e reafirmada, porque é através da educação que, de fato, nós podemos efetivamente contribuir com as transformações do nosso país.”
Referência
Com 30 cursos de licenciatura presenciais e opções a distância em áreas como Computação, Educação Física, Física, Matemática, Pedagogia e Química, a Universidade se consolida como uma referência na formação de educadores. Para a pró-reitora de Graduação, Katiuscia Antunes, “a UFJF destaca-se pelo seu compromisso histórico na formação de professores, sendo responsável por uma parte significativa dos docentes que atuam nas redes estadual e municipal de Educação em Juiz de Fora.”
Segundo Katiuscia, formar professores no Brasil é um grande desafio, especialmente para aqueles que trabalham na educação pública. “Esses profissionais enfrentam questões de carreira, dificuldades salariais e outros desafios que atravessam o cotidiano da educação básica”, explica. Ela reforça a importância de preparar docentes comprometidos com a realidade da educação pública, defendendo uma formação que vá além das habilidades técnicas.
“É fundamental que os egressos das licenciaturas da UFJF se tornem professores reflexivos, preparados não apenas para ensinar suas disciplinas específicas, mas também para lidar com questões políticas e culturais que influenciam o ambiente escolar”, destaca.
Katiuscia também menciona a importância de integrar tecnologias de informação e comunicação às práticas docentes. Embora o discurso de que a tecnologia poderia substituir os professores tenha ganhado espaço, ela é enfática: “O trabalho do professor é insubstituível. A mediação humana que ele oferece é única e nenhuma tecnologia pode substituir. No entanto, é essencial que os educadores incorporem inovações tecnológicas para potencializar seu trabalho.”
Ela lembra as mudanças profundas trazidas pela pandemia de Covid-19, o que exigiu uma adaptação rápida às aulas em ambientes virtuais. “O que vivemos durante a pandemia evidenciou o valor do professor. Mesmo com diversas ferramentas tecnológicas disponíveis, o papel do educador foi crucial para garantir a aprendizagem e continuará sendo essencial na construção do conhecimento junto aos alunos.”
Paixão
Luiz Paulo Oliveira da Silva e Mariana Rezende Ribeiro, alunos do curso de Filosofia, refletem sobre suas experiências e expectativas ao se tornarem professores. Para Mariana, a docência representa a realização de um sonho. “Sempre desejei ser professora e, ao entrar na sala de aula, percebo que tenho o poder de inspirar meus alunos. É gratificante saber que eles olham para nós como referências e se sentem motivados a buscar um futuro que vá além do retorno financeiro.”
Silva, por sua vez, complementa destacando a importância da conexão com os alunos. “A relação que estabelecemos com eles é fundamental para despertar seu interesse e curiosidade sobre o mundo acadêmico. Ver a chama da dúvida e da busca por conhecimento nos olhos deles é um privilégio que poucos podem ter”, diz.
Inspirados por professores que marcaram suas trajetórias, ambos destacam a influência que esses educadores tiveram em suas vidas. Mariana, emocionada, compartilha: “Meu professor de filosofia no ensino médio foi a razão pela qual decidi seguir essa carreira. A paixão que ele transmitia pela disciplina me fez enxergar a importância da filosofia na formação de cidadãos críticos.”
Silva também expressa gratidão: “Minha professora do fundamental sempre esteve lá para me apoiar e incentivar. É por causa desse suporte que cheguei até aqui, e agora desejo fazer o mesmo pelos meus alunos.”
Sementes
Mike de Oliveira Pires, aluno da Licenciatura em Química, conta que sua relação com a química começou no ensino médio, quando um professor o inspirou a seguir esse caminho. “Eu fazia um curso técnico de Mecânica integral no IFET (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais) e tive um professor que, além de dominar o conteúdo, tinha uma paixão contagiante pelo que ensinava. Ele não apenas dava aula, mas nos mostrava como a química estava presente em tudo ao nosso redor. A partir dali, comecei a enxergar a ciência de outra forma”, relembra.
Para Pires, ser professor no Brasil é um desafio complexo, mas carregado de significado. “A docência, para mim, nunca foi apenas transmitir conhecimento. Ensinar é como plantar sementes, e a maior gratificação é quando você vê o aluno compreendendo e se apropriando daquele saber. É um momento quase mágico. Mas nosso papel não é apenas ensinar fórmulas e reações químicas. Precisamos formar cidadãos críticos, capazes de enxergar o mundo com uma perspectiva mais ampla e reflexiva. Na sala de aula, a gente educa para muito além do conteúdo: ensinamos a pensar, a questionar e a fazer escolhas conscientes.”
Em tempos de avanços tecnológicos e uso crescente de inteligência artificial, Pires ressalta a necessidade de equilíbrio. “A máquina pode apresentar conteúdo, mas só um professor pode interpretar as necessidades do aluno e adaptar o ensino em tempo real. O desafio está em não deixarmos que a tecnologia desumanize o ensino.”
Esperançar
“Encarar a docência como um ato de coragem”. Essa é a motivação de Maria Mar Daniel de Almeida, 23, formanda em Licenciatura em Artes Visuais. Filha de professora, ela ingressou primeiramente no Bacharelado Interdisciplinar e não tinha intenção de seguir carreira acadêmica. Mas, com o passar do tempo, a jovem passou a se identificar com a área. O ato de acompanhar a mãe em seu trabalho no período da pandemia fez a jovem se interessar ainda mais pela docência.
A coragem a que Maria se refere é a de exercer a profissão de professora em um contexto nacional desafiador. “Ver um cenário que desvaloriza toda profissão e você, ainda assim, ter força de vontade para investir nisso, acho que é um ato de coragem mesmo”, observa. A jovem, natural de Paraíba do Sul (RJ), além de desafios, busca encontrar um ambiente acolhedor para todas as pessoas.
“Sou a primeira mulher trans a se formar na Licenciatura em Artes Visuais e não gosto muito da ideia de ser pioneira porque isso envolve estar sozinha, ser a primeira em um ambiente. Mas é importante ter uma primeira. Eu pretendo encontrar um ambiente que seja mais acolhedor para as minorias, mulheres negras, trans, pessoas com deficiência, entre outras.”
Ao refletir sobre a motivação para ingressar na carreira de professora, a estudante evoca as palavras do educador e filósofo Paulo Freire: “ainda tentar esperança por alguma coisa. E eu acho que o esperançar, como Paulo Freire fala, não é a gente ficar esperando. É a gente fazer alguma coisa para que seja possível fazer essa mudança. Acho que a docência é esse lugar de esperançar. O retorno é muito gratificante”.