Pesquisadores do Niassa buscam integrar componentes ambientais e sociais para promover melhorias no ecossistema, através de pesquisas feitas na Fazenda Experimental (Imagem: Leandro Mockdece)

Cada vez mais frequentes e ganhando os holofotes nos noticiários, os deslizamentos de terra são um fenômeno natural, que muitas vezes são potencializados pela ação humana. Para entender melhor esses acontecimentos, sobretudo em áreas florestadas, foi desenvolvido o projeto “Prevenção de Deslizamento de encostas através da Restauração Florestal”.

Iniciativa do Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (Niassa), o projeto alcançou o 3º lugar entre os 12 finalistas de todo o país do Edital Capes PDPG-EC2022, o Programa Emergencial de Prevenção e Enfrentamento de Desastres Relacionados a Emergências Climáticas, Eventos Extremos e Impactos Ambientais. 

Com a proposta de desenvolver ações concretas para minimizar os riscos dos potenciais impactos das fortes tempestades que se mostram frequentes nos últimos anos, o edital considera o novo cenário climático, com chuvas muito mais concentradas, no espaço e no tempo. 

Para André Amado, a educação ambiental e a científica são fundamentais para formar pessoas com senso crítico (Foto: Reprodução)

“Entendemos que precisamos conhecer esse novo modelo de áreas de risco, através de análises de topografia, do mapeamento por sensoriamento remoto, de áreas que sofreram deslizamentos recentes. Também é feita a avaliação da suscetibilidade de solos expostos, florestados e em reflorestamento para o processo erosivo e de deslizamentos”, aponta o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e um dos membros do Niassa, André Amado.

A proposta é compreender o fenômeno tanto em áreas alteradas quanto intactas. O trabalho é desenvolvido por meio da pesquisa básica e aplicada, na Fazenda Experimental da UFJF, nas redondezas do reservatório de Chapéu D’uvas. Para o aprimoramento dos resultados, o projeto conta com a participação de profissionais de diferentes áreas de formação da UFJF. 

“O Niassa coloca em prática a conexão entre a ciência, as empresas e a sociedade. As ações da iniciativa são temas em voga no mundo inteiro e dialogam diretamente com os ODS da ONU” (Carmem Vieira)

Há também a participação do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), com trocas de conhecimentos técnico-científicos e cooperação de ambos os lados. Uma das ações previstas pela parceria é a realização de um curso de brigadista para os alunos do Niassa e da UFJF, assim como a elaboração de um plano de prevenção de incêndio para a Fazenda Experimental. 

Segundo a pós-doutoranda do Niassa, Carmem Vieira, a relevância do tratamento das áreas de risco, bem como a utilização das técnicas de restauração florestal foram critérios fundamentais para a boa classificação do projeto: “O Niassa coloca em prática a conexão entre a ciência, as empresas e a sociedade. As ações da iniciativa são temas em voga no mundo inteiro e dialogam diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”. 

Fortalecimento da Pós-Graduação

“O Niassa trabalha com projetos voltados para a criação de possíveis medidas públicas, além de evidenciar a importância da preservação”, pontua Yumi Moliné (Foto: Arquivo pessoal)

O objetivo do edital é apoiar projetos voltados à formação de recursos humanos e ao desenvolvimento de investigação acadêmico-científica, no âmbito dos Programas de Pós-Graduação (PPGs), com foco em pesquisas que possam contribuir efetivamente para estudos sobre prevenção, mitigação e resposta para situações decorrentes de emergências climáticas e análise de impactos ambientais que tenham provocado estado de calamidade pública, enchentes e deslizamentos, entre 2021 e 2022. O propósito é que medidas públicas sejam desenvolvidas a partir dos trabalhos apresentados. 

“A boa avaliação do Niassa permitiu que o projeto fosse financiado na íntegra, sem cortes de recursos, inclusive com o pagamento de bolsas de pós-graduação e bolsa de pós-doutorado, permitindo a capacitação de recursos humanos de alta qualidade nessa importante área do conhecimento para a sociedade”, analisa André Amado. “Este apoio integral inclui contribuições significativas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que, reconhecendo a importância deste trabalho, fornece fomento às nossas atividades de pesquisa, essenciais para o desenvolvimento de soluções inovadoras em resposta aos desafios ambientais atuais.”

Os recursos deste edital possibilitaram a pesquisa da mestranda Yumi Moliné no Niassa, sob orientação do professor Fábio Roland, cujo foco é estudar o escoamento superficial para entender como esse fluxo de terra e água funciona e afeta os serviços ecossistêmicos. “Estamos estudando a dinâmica de erosão, bem como o transporte de material da terra para a represa de Chapéu D’uvas vai afetar a qualidade da água”, pontua. 

UFJF é uma das instituições pioneiras no reflorestamento da Mata Atlântica (Imagem: Leandro Mockdece)

Para Carmem Vieira, o trabalho de Moliné será pioneiro para o Núcleo e, em conjunto com os outros projetos que estão sendo desenvolvidos, irá compor um banco de referência importante para o florestamento e recuperação das áreas adjacentes. 

Projetos do Niassa

O Raízes para o Futuro é um projeto desenvolvido desde 2019, em parceria com a concessionária Via 040, e pelo projeto BEF-Atlantic, uma colaboração entre o Niassa e a Universidade Técnica de Munique (TUM). No ano de lançamento, o projeto inaugurou um viveiro de mudas, com capacidade para produção de 20 mil espécimes. 

Entre 2021 e 2022, cerca de 40 mil mudas foram plantadas na Fazenda Experimental, com o intuito de promover o reflorestamento da Mata Atlântica no entorno da represa Chapéu d’Uvas. Para este ano, os pesquisadores planejam garantir um novo sistema de irrigação para o viveiro e reordenar os espaços para acomodar novas mudas. Além disso, é esperada a conclusão de mais uma etapa de replantio e monitoramento das espécies que já foram plantadas ano passado.

A Fazenda Experimental é espaço de várias pesquisas. Dentre elas, a identificação de espécies, como borboletas e aves, que podem servir como indicadores de qualidade das áreas restauradas. A presença desses animais nas áreas de restauração colabora nos trabalhos de recuperação por cumprirem o papel de dispersoras de sementes. 

Outro projeto interessante é o de aquicultura, dirigido pela pesquisadora Ive Muzitano. “A ideia é criar espécies de peixes de nichos ecológicos diferentes que sejam nativos do rio Paraíba do Sul, como o lambari e a curimatá, de forma agregada a um sistema hidropônico para cultivo de hortaliças. Assim, as plantas terão, através de suas raízes, acesso a uma água rica em nitrogênio e fósforo, gerados pelas excretas dos peixes e restos de ração, e reduzirão a carga orgânica da água, melhorando o ambiente para os peixes”, esclarece Muzitano. 

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU 

As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto citado nesta matéria se alinha aos ODS 6 (Água Potável e Saneamento), 13 (Ação contra a Mudança Global do Clima), 15 (Vida Terrestre) e 17 (Parcerias e Meios de Implementação).

Confira a lista completa no site da ONU.

Relembre: 

Fazenda Experimental alia desenvolvimento científico a impacto ambiental