Dia Mundial de Combate ao Câncer, 4 de fevereiro, foi instituído pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) com o apoio da OMS (Imagem: Canva Pro)

Entre as principais causas de morte no Brasil e no mundo, o câncer pode na grande maioria das vezes ser evitado, sobretudo pela adoção de estilos de vida saudáveis. Essa informação endossada por especialistas da Saúde de diversos países também consta no relatório Números Invisíveis, de setembro de 2022, da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo o documento, ele faz parte do grupo de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) responsável por 74% das mortes no planeta.

Cada vez mais os governos devem se preocupar com a prevenção e gestão dessas doenças, a partir de um esforço orquestrado, com resposta de todo o aparato governamental e toda a sociedade, conforme aponta o relatório da OMS. As DCNTs matam 41 milhões de pessoas a cada ano, incluindo 17 milhões com menos de 70 anos, consideradas mortes prematuras.

Fevereiro laranja; março lilás e azul; outubro rosa; novembro azul; dezembro laranja. Essas são algumas das cores e meses que se referem a campanhas de saúde no Brasil direcionadas a tipos de câncer: leucemia; câncer de colo do útero e colorretal; câncer de mama; câncer de próstata; câncer de pele (na ordem em que aparecem). Nossa equipe conversou com pesquisadores da UFJF que se debruçam sobre a temática para tentar entender o papel do estilo de vida e da nutrição na prevenção dos tumores.

De acordo com o professor da Faculdade de Medicina, Maximiliano Guerra, o câncer é uma importante barreira para a melhoria da expectativa e da qualidade de vida em todos os países do mundo: “O crescente aumento do câncer como relevante causa de morte reflete, em parte, o declínio acentuado nas taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares, em relação às taxas de mortalidade por câncer, em muitos países.”

“As investigações conduzidas pelo grupo de pesquisa em câncer do Nates/UFJF têm contribuído para ampliar o conhecimento sobre a magnitude e o impacto do câncer no Brasil”, informa Maximiliano Guerra (Foto: Alexandre Dornelas)

Em sua avaliação, as taxas de incidência e mortalidade por câncer estão crescendo rapidamente em todo o mundo em decorrência do envelhecimento e do crescimento da população, mas também das mudanças na prevalência e distribuição dos principais fatores de risco para o câncer, muitos dos quais estão associados ao desenvolvimento socioeconômico. Deve-se considerar ainda a melhoria da capacidade diagnóstica e de registro da doença.

“A apresentação tardia do câncer no momento do diagnóstico, muitas vezes relacionada à dificuldade de acesso aos métodos diagnósticos, assim como a ausência de tratamentos adequados e oportunos, prejudicam de forma significativa o prognóstico da doença, contribuindo para uma menor sobrevida, especialmente em regiões de baixa renda”, aponta.

Causas diversas

Por se tratar de uma doença multifatorial complexa, o professor Maximiliano Guerra afirma que o câncer pode apresentar causas externas, presentes no meio ambiente, e causas internas, como hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre 80% e 90% dos casos estão associados a fatores externos, tais como as mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio ser humano, os hábitos, atitudes e comportamentos.

Dentre as externas, pode-se mencionar a poluição ambiental no geral, as diversas exposições ocupacionais, os hábitos, atitudes e comportamentos, como a inatividade física, o baixo consumo de frutas e vegetais, e o uso de álcool e tabaco. Mas o pesquisador da UFJF lembra também que alguns podem ser causados por infecções, tais como a hepatite e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), que são responsáveis por cerca de 25% das mortes pela doença em países de baixa e média renda.

O envelhecimento também contribui para a maior frequência de muitos tipos de câncer, em função das “diversas alterações fisiológicas relacionadas ao avanço da idade, assim como pelo fato de que o aumento da expectativa de vida também propicia maior exposição aos fatores externos relacionados à ocorrência do câncer.”

Quanto aos tipos mais frequentes, excluindo o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama feminino superou o câncer de pulmão no mundo, segundo estimativas recentes realizadas a partir de dados da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer da Organização Mundial de Saúde, seguido pelos cânceres de pulmão, colorretal, próstata e estômago (Global Cancer Statistics – Globocan 2020). No Brasil, de acordo com as estimativas de casos novos de câncer feitas pelo Inca para o triênio 2023-2025, o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma, seguido pelos cânceres de mama feminina, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.

Guerra informa que o Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde (Nates/UFJF) conta com um grupo de pesquisa em câncer, que tem realizado várias investigações para conhecer a carga da doença nos contextos nacional, regional e local; possibilitando a análise do risco de adoecer, da mortalidade e da sobrevida. “Tais pesquisas têm contribuído para ampliar o conhecimento sobre a magnitude e o impacto do câncer no Brasil, avaliando as políticas de controle e fornecendo subsídios para a formulação de estratégias de prevenção no país”, assegura.

Prevenção e estilo de vida

A recomendação do especialista para a prevenção e redução do risco de desenvolver tumores está em consonância com o que preconiza as principais organizações mundiais de saúde: adotar hábitos de vida saudáveis. “Esses hábitos são importantes inclusive para a prevenção de outras doenças crônico-degenerativas”, menciona.

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Dentre as principais orientações, pode-se destacar a prática regular de atividade física, a maior incorporação na dieta do consumo de frutas e verduras, a redução do consumo de carnes vermelhas, a maior restrição ao uso do tabaco e do álcool. Ele também enfatiza a importância da avaliação periódica do estado de saúde, especialmente na medida em que a idade avança, com a realização de exames específicos de acordo com as recomendações para detecção precoce de alguns tipos de câncer.

Carine Costa atende no Ambulatório de Nutrição Clínica do HU-UFJF e reforça o papel da alimentação equilibrada para proteger o organismo contra tumores (Foto: Arquivo pessoal)

Nutricionista do Hospital Universitário (HU-UFJF/Ebserh), Carine Costa reforça o papel da alimentação nessa prevenção: “alimentos ricos em gorduras, açúcares, e produtos industrializados ultraprocessados (congelados, embutidos, refrigerantes e com muitos aditivos) são grandes vilões para o desenvolvimento de tumores”.

Segundo a profissional, uma alimentação desequilibrada e muito industrializada favorece o ganho de peso. “Sabe-se que o sobrepeso e a obesidade aumentam o risco de desenvolver alguns tipos de câncer, como por exemplo o de mama. Portanto, uma alimentação mais natural, com alimentos de verdade, sem manipulação da indústria e com adequado consumo diário de frutas, legumes, verduras, grãos e sementes é um fator de proteção contra doenças oncológicas.”

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Estratégias no tratamento

O ambulatório de Nutrição Clínica do HU atende pessoas diagnosticadas com câncer. A experiência de Carine ao longo dos anos com pacientes oncológicos lhe permite fazer um acompanhamento para ajudar na recuperação do estado de saúde desses indivíduos. “A avaliação nutricional é feita de forma sistematizada com o objetivo de identificar os possíveis distúrbios nutricionais.”

A análise leva em conta o consumo alimentar do paciente, verificando a frequência e as quantidades consumidas, se o paciente já faz uso de suplementos nutricionais ou se sua alimentação está sendo suficiente para suprir as necessidades calóricas e proteicas. O nutricionista avalia também o funcionamento gastrointestinal: “se o paciente apresenta enjoos, como está o funcionamento intestinal, se há intolerâncias alimentares ou desconfortos”.

Por meio de exames laboratoriais, o nutricionista verifica se há alguma carência de nutrientes que possa comprometer o estado nutricional do paciente; também realiza uma avaliação antropométrica para verificar se o peso está adequado e se há risco de o paciente evoluir para um quadro de desnutrição. “Com base em todos esses dados, o nutricionista fecha um diagnóstico nutricional e realiza a prescrição com as devidas orientações, sempre de forma individualizada. Cada caso é um caso”, defende.

Assim como não há uma dieta única, a periodicidade do acompanhamento nutricional dependerá da fase da doença e da adesão do paciente ao tratamento dietoterápico. Dependendo da localização do câncer e do tratamento realizado, a aceitação alimentar pode variar, devendo-se considerar enjoos ou vômitos, alterações do paladar, falta de apetite. “Algumas vezes torna-se necessário até a utilização de sondas para alimentação, já que o paciente bem nutrido tem condição de se recuperar mais rapidamente.”

Cada período deve ser acompanhado de perto e a reintrodução de alguns alimentos só deve ser realizada com orientação profissional. “Uma alimentação equilibrada não só protege o organismo contra tumores; é também essencial durante todo o tratamento e  inclusive pode prevenir o organismo das recidivas”, reforça a nutricionista.

Outras informações: ufjf.br/nates/

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU

As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O grupo de pesquisa citado nesta matéria se alinha ao ODS 3 (Saúde e bem-estar).

Confira a lista completa no site da ONU.