Moradores da comunidade quilombola Ilha Funda participaram de oficina sobre controle ecológico de formigas. (Foto: arquivo)

Moradores da comunidade quilombola Ilha Funda, no município de Periquito, participaram, na última semana, de um curso para controle ecológico de formigas cortadeiras. A atividade foi promovida pelo projeto ‘Tecnologias Sociais e Agroecologia no Médio Rio Doce’, cujo principal objetivo é desenvolver ações voltadas para o estímulo a uma agricultura mais sustentável e focada na preservação ambiental.

Desde a sua criação, em 2017, a iniciativa – que é vinculada ao programa Núcleo de Agroecologia (Nagô) – já atuou em mais de uma dezena de comunidades e assentamentos da região propondo cursos e oficinas para a produção de alimentos, implantação de hortas terapêuticas e confecção de materiais técnicos, trabalhando sempre de forma integrada com os moradores desses locais atendidos e tendo a agroecologia e as tecnologias sociais como a base de todo o processo.

As tecnologias sociais são técnicas ou metodologias que aliam o saber popular e conhecimento científico e que podem ser aplicadas por qualquer pessoa ou grupo para solucionar um problema ou transformar a realidade de um determinado território, como explica o técnico administrativo do campus e coordenador do projeto, Gustavo de Almeida Santos:

O servidor Gustavo Santos é o coordenador do projeto. (Foto: arquivo)

“Os recursos tecnológicos geralmente estão ali presentes na comunidade e a própria se apodera de todo o processo, gerando autonomia e distribuindo os créditos pelos sucessos e insucessos, podendo proporcionar um conjunto amplo de ganhos: oportunidade de remuneração, diminuição do êxodo rural, consumo de alimentos de qualidade, auxílio terapêutico, possibilidade de intercâmbios e trocas de saberes”, destaca o servidor.

E foi justamente essa integração entre os conhecimentos populares e técnico-científicos que norteou as últimas oficinas, em Ilha Funda. Cerca de 20 agricultores daquela localidade, do assentamento Barro Azul e do acampamento Cachoeira da Fumaça se juntaram a Gustavo Santos, que é técnico agrícola, e trocaram seus saberes em busca de soluções para a produção de alimentos mais saudáveis, num retrato perfeito do que deve ser a extensão universitária.

Confira abaixo algumas frentes de atuação do projeto:

Canteiro Econômico: uma lona plástica usada impede que a água usada para irrigá-lo desça para o fundo do solo, o que mantém esses canteiros sempre úmidos, mas gastando o mínimo possível de água, que inclusive pode ser aquela usada na lavagem das roupas, cozinha e banho.

Horta construída no Centro Pop, que atende moradores em situação de rua em Governador Valadares. (Foto: arquivo)

Hortas em pequenos espaços: utiliza-se qualquer recipiente que caiba o substrato e tenha volume para o desenvolvimento das raízes, podendo ser fixadas em estruturas verticais como as paredes da casa. As hortaliças, temperos e ervas medicinais cultivadas com essa tecnologia são produzidas de maneira agroecológica e contribuem para uma alimentação saudável, além de deixar o ambiente mais alegre e bonito.

Irrigação de baixo custo: feitos com materiais reaproveitáveis, esses sistemas de irrigação dão suporte à produção de forma a economizar água e tempo de trabalho do agricultor.

Jardim sensorial: pode e deve ser tocado, provado, escutado e cheirado. Sua função é a de retomar os sentidos, ativar a percepção adormecida e torná-la real novamente.

Construção de lago de múltiplo uso no acampamento Cachoeira da Fumaça. (Foto: arquivo)

Lago de múltiplo uso: o lago construído é revestido com lona plástica, coberta com uma camada de solo para fixá-la e protegê-la. Com material de baixo custo e mão de obra do próprio interessado, esses lagos conseguem armazenar água de chuva de cisternas ou de cursos d’água para abastecimento de bebedouros, produção de pescado, irrigação de hortas e pomares, inclusive utilizando sistemas de irrigação noturnos, o que pode resultar em uma economia de até 80% na conta de energia elétrica.

Minhocário campeiro: construído a partir de bambus, com baixíssimo custo, essa tecnologia produz adubo orgânico de qualidade para ser utilizado nas propriedades familiares.

A oficina de produção de mudas é uma das mais solicitadas por escolas da região. (Foto: arquivo)

Composteira doméstica: funciona basicamente por meio do método da compostagem com ou sem minhocas. Essa tecnologia social auxilia na redução dos resíduos orgânicos urbanos, pois transforma o que seria lixo em húmus, um rico adubo orgânico. Além disso, reduz o lixo que seria destinado a aterros e lixões e diminui a emissão de gases do efeito estufa. O método já é utilizado há muitos anos pelos agricultores familiares, a novidade agora é que ele pode ser construído dentro de qualquer residência, utilizando materiais recicláveis.

Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais): nesse sistema, a produção de hortaliças, frutas e grãos é integrada com a de animais. Com isso, o uso de agrotóxicos é eliminado e a dependência de insumos externos à propriedade é reduzida consideravelmente.

Produção de mudas: as mudas são produzidas a partir de sementes ou de partes de plantas adultas. Essa oficina é muito solicitada por escolas e instituições, devido ao seu caráter educativo, pois são utilizados materiais recicláveis e, em alguns casos, o projeto inicia a construção de uma horta com as mudas produzidas pelos próprios participantes.