O último dia das apresentações de painéis da 73ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) abordou os desafios e tendências para que as universidades sejam vetores de empreendedorismo. Mediada pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Alan Ferreira de Freitas, o evento abriu espaço para que os pesquisadores Paulo Afonso Granjeiro, Luiz Henrique Catalani e Leandra Santos Baptista colocassem em voga, questões, como, por exemplo, a necessidade da pesquisa servir ao setor produtivo e o incentivo do empreendedorismo nas instituições de ensino para alunos e professores.
O mediador, Alan Ferreira de Freitas, abriu o diálogo falando sobre o quanto a temática é atual no contexto político, social e econômico e que o painel é uma oportunidade para que se discuta o papel das universidades, para além do ensino, pesquisa e extensão, mas também como geradora de tecnologia para a indústria 4.0. “As instituições são basilares e é desafiador que elas ultrapassem os muros e alcancem a sociedade. Quando isso acontece, tornam-se universidades inovadores, pois são grandes produtoras de tecnologia e inovação e capazes de formar profissionais capacitados, para além da formação acadêmica, mas para atuação em diversas frentes, entre elas, no setor de empreendedorismo.”
Conexão com as demandas
Segundo Granjeiro, o Brasil foi eleito a 11ª potência em geração de conhecimento, entretanto alcança a 62ª colocação ao se tratar da criação de inovação. Ainda, o país é considerado produtor de 55% dos estudos mundiais, mas apenas 5% se transformam em produção de insumo, “67% dos nossos pesquisadores estão nas universidades, diferente de países inovadores, como, por exemplo, a Coreia, onde eles encontram-se nas indústrias. Esse fato, faz com que países desenvolvidos sejam adequados para a competição da economia globalizada”
Para o professor, o país possui uma competência científica privilegiada, mas as pesquisas ainda concentram-se nas universidades, o que faz com o Brasil possua um forte viés acadêmico. “Formamos cada vez mais doutores pelos programas de pós-graduação (PPGS) eficientes, mas nós os formamos para o quê e para quem? Ainda temos um modelo tradicional em que propomos soluções e depois saímos atrás dos problemas. É preciso que comecemos a identificar os problemas e, a partir disso, busquemos respostas para tornar as universidades mais empreendedoras. Assim levaremos a geração de novas empresas e a criação e ao compartilhamento de tecnologias.”
Granjeiro destacou que para haver sucesso do empreendedorismo nas universidades, é preciso que exista interação juntamente às empresas e ao governo, pois é necessário desenvolver laboratórios e propor soluções que gerem tecnologia e notas fiscais. “As universidades empreendedoras transformam o seu entorno e as empresas se instalam em busca de egressos ou pela atração de grandes players. Temos que assumir o protagonismo, cientistas empreendedores precisam atualizar as políticas de inovação, promover normas locais e os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) precisam se desenvolver e criar parcerias com as empresas.”
Pesquisa e empreendedorismo
A pesquisadora Leandra Baptista compartilhou as próprias experiências, alegando que o empreendedorismo nasce dos grandes Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), capazes de produzir pesquisas de alto nível. “Sou cria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas tive a oportunidade de conviver, durante a graduação e a pós-graduação, com orientadores empreendedores. Tive o prazer de ver o conhecimento produzido na minha pesquisa sobre medicina celular ser aplicado por um empresa, onde fiz parte do meu pós-doutorado. Também fiz pós-doutoramento no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
De acordo com Leandra, o campus avançado da UFRJ em Duque de Caxias foi construído estrategicamente próximo ao Inmetro, pois o Instituto tem a ideia de criar pontes entre as empresas e as universidades, sendo o objetivo fazer com que o conhecimento produzido torne-se tecnologia. “Na UFRJ/Duque de Caxias tive uma experiência enriquecedora e, nesses 10 anos, consegui aglutinar alunos interessados no empreendedorismo e alcançamos um nível de excelência para a formação desses estudantes. Recentemente, destaco que a UFRJ aprovou a política de Inovação, o que facilita essas ações dentro do Núcleo de Inovação, que eu coordeno.”
A professora também conta sobre as propostas do campus para construir o progresso e transformar a região que vive no entorno. “Há uma preocupação com a divulgação científica. Já produzimos livros e realizamos atividades que são voltadas para os alunos e para a comunidade. Na inovação tiramos esse muro para o setor produtivo e na academia damos oportunidades para os nossos alunos. No meu caso, não esqueço a vontade de atuar no setor produtivo, com isso, nasceu uma startup de biotecnologia especializada em cultivo de células em 3D, a GCell Cultivo 3D.”
É preciso fazer inovação nas universidades
“É um bom momento para discutirmos o tema, considerando que a Universidade de São Paulo (USP) foi eleita a universidade mais empreendedora do país. Apesar de ser um marco dentro do cenário brasileiro, as ações precisam ser melhor definidas, pois outras instituições seguem os exemplos oferecidos por nós”, inicia o professor Luiz Henrique Catalani. “Uma provocação a ser feita para as universidades é que não há um único modelo de empreendedorismo a ser seguido no Brasil. Na USP tentamos criar algo que seja mais nosso e próximo a nossa realidade.”
Catalani destacou que a USP produz 22% das pesquisas científicas brasileiras e está entre as 10 que mais publicam pesquisas nos mundo. Além disso, por meio do DNA USP, já foram criados 1.832 empreendimentos, que geraram mais de 30 mil postos de trabalho em 2019, e atualmente possui 576 empresas incubadas.
“É preciso fazer inovação dentro das universidades para chegar aos alunos empreendedores, mas também aos professores. Não teremos instituições empreendedoras se não tivermos docentes que atuam na área. Precisamos fazer a organização interna da normatização, fazer frente a atuação por meio das mídias tradicionais e criar uma interlocução com o mercado, empresas, indústrias e corporações que precisam ter uma porta de entrada nas Universidades e tratamento adequado para a solução das demandas que apresentam”, afirmou Catalani.
Em término, o professor fez considerações a serem avaliadas para a ampliação do empreendedorismo das universidades no cenário brasileiro. ”É preciso que tenham a inovação como prioridade institucional permanente e que nomeiem uma liderança máxima e independente para que o esforço de inovação chegue ao nível de tornar-se uma pró-reitoria. Também é preciso valorizar e regulamentar as atividades de inovação e empreendedorismo na carreira docente. Além disso, faz-se necessário regularizar as ações de inovação e empreendedorismo no ambiente acadêmico e a construção e participação de uma estratégia de inovação nacional para as ICTS”, finaliza.
73ª Reunião Anual da SBPC
O evento acontece até o dia 24 de julho de forma inteiramente on-line, sediando conferências, mesas-redondas, webminicursos, painéis e sessões de bate-papo. Confira também a programação da SBPC Jovem e Família e a SBPC Cultural.
A programação completa da 73ª Reunião Anual da SBPC traz nomes de projeção no cenário científico nacional, sendo transmitida pelos canais SBPCnet, TV UFJF, Centro de Ciências UFJF, Critt – UFJF, UFJF Notícias e Revista A3 UFJF.
Outras informações: Site oficial da 73ª Reunião Anual da SBPC
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