“Sem o oceano a gente não respira, não tem alimento, não tem recursos.” A afirmação é da pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Germana Barata, e reflete a discussão desenvolvida na mesa-redonda on-line “A década do oceano no Brasil”. O evento, realizado nesta quinta-feira, 22, faz parte da programação da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sediada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Iniciativa lançada pela ONU busca mobilizar cientistas, gestores e membros da sociedade para a proteção marítima (Foto: Pixabay)

Refletir sobre o papel do oceano e seus impactos é ainda mais importante hoje, no primeiro ano da chamada “Década da ciência oceânica para o desenvolvimento sustentável” (2021-2030). A iniciativa, lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017, objetiva mobilizar cientistas, gestores e membros da sociedade para a proteção marítima. “O oceano cobre 71% do planeta Terra, mas eu diria que é 100%, já que todos estamos conectados, impactamos e somos impactados por ele. Do espaço, Iuri Gagarin disse que ‘a Terra é azul’, o que é muito representativo até hoje”, ressalta Germana.

Segundo a pesquisadora e diretora do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), Eliane Gonzalez Rodriguez, embora o Brasil tenha um litoral tão extenso, muitas vezes a percepção é de que o território do país termina na praia – o que não é verdade. “Por isso houve a criação do termo ‘Amazônia Azul’. Temos, em direção ao mar, outra Amazônia, com área equivalente a 67% do nosso território terrestre”, esclarece. Para Eliane, só é possível preservar o que conhecemos, o que torna o trabalho desenvolvido por pesquisadores e autoridades, como a Marinha do Brasil, fundamental. “Além de ser limpo e saudável, precisamos de um oceano protegido, com todos os seus recursos.”

Acesso à informação científica
Conforme defende Germana, o acesso à informação científica precisa ser priorizado, com a existência de investimentos e a partir do engajamento da sociedade: “na pandemia, vimos pela primeira vez um movimento orquestrado para que o conhecimento sobre a Covid-19 passasse a ser aberto e gratuito. Assim, pudemos ver o desenvolvimento e a aplicação de vacinas em tempo recorde. É disso que precisamos na década dos oceanos”.

Esse também é o pensamento da coordenadora-geral de Oceanos, Antártica e Geociências do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (CGOA/MCTI), Karen de Oliveira Silverwood-Cope. “O acesso ao conhecimento é o que mais nos toca. Não é um ponto de chegada, mas um processo dinâmico, contínuo. Devemos não só garantir acessibilidade e divulgação, mas também qualidade e consistência”, pontua. Em relação aos objetivos de preservação e conscientização firmados até 2030, Karen acredita que é preciso haver uma mudança de comportamento. “É um desafio promover mudanças que são estruturais. É preciso alcançar todos os atores sincronicamente, pensando desde o descarte de resíduos, passando pela formulação de políticas públicas, até o envolvimento e investimento do setor privado nessas ações.”

Mais informações sobre a “Década dos Oceanos” estão disponíveis no site Ciência no Mar, do MCTI.

O evento
A Reunião conta também com programação Jovem e Família, além de eventos culturais. Todas as informações estão reunidas no hotsite da 73ª Reunião Anual da SBPC na UFJF.

Confira o debate na íntegra.