No segundo dia das atividades da 73ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a programação contou como uma mesa-redonda para debater e compartilhar a necessidade de novos estudos e vacinas mais eficazes contra a Covid-19 e as variantes encontradas no Brasil, Japão, índia, Reino Unido e África do Sul. Com a mediação da professora da Universidade de São Paulo (USP), Lucile Maria Floeter-Winter, os pesquisadores Jorge Elias Kalil Filho, Ricardo Tostes Gazzinelli e Luciana Costa apresentaram um panorama dos imunizantes que estão sendo desenvolvidos e ressaltaram a importância do país obter soberania na produção das próprias vacinas e autonomia nacional.
Dando início as apresentações da mesa-redonda “Vacinas brasileiras”, Jorge Kalil trouxe apontamentos sobre a mutação do vírus, que o tornou hábil para infectar o organismo humano e passar pelas barreiras da imunidade inata – a responsável pela destruição do vírus. Também fez considerações importantes sobre a eficácia dos imunizantes aplicados no Brasil, alegando que os países que os utilizaram tiveram quedas nos números de óbitos. No entanto, a médio prazo, o número de infectados voltou a aumentar, como, por exemplo, nos casos de países como Estados Unidos, Israel e Portugal. “Precisamos de outras vacinas? Aparentemente a resposta é sim. Precisamos de vacinas que eliminem o vírus, precisamos destruir a doença e não imunizantes que apenas amenizam os impactos causados por ela.”
“Precisamos de vacinas que eliminem o vírus, precisamos destruir a doença e não imunizantes que apenas amenizam os impactos causados por ela” Kalil
Durante o diálogo, demonstrou dados relativos à eficácia das vacinas aplicadas no Brasil e sobre a necessidade de que os cuidados continuem a ser tomados, mesmo com a aplicação das doses dos imunizantes. “Nos preocupamos com o vale da morte, em que o problema é a transmissibilidade da doença, o que faz com que o vírus atinja mais pessoas e esse agente infeccioso sobrecarrega o sistema de saúde. No desenvolvimento da nossa vacina, buscamos um desenho para cobrir as quatro variantes de preocupação, que ela tenha penetração intranasal, induza a memória longa, com baixo custo, sem efeitos graves e que induza neutralizantes e respostas à célula T, por meio das glicoproteínas CD4 e CD8.”
Soberania nacional
Em diálogo, o pesquisador Ricardo Tostes Gazzinelli explanou que o grupo em que atua está focado no desenvolvimento de vacinas há tempos, principalmente àquelas que são negligenciadas, no entanto a equipe precisou mudar o foco diante da crise sanitária. Gazzinelli destacou a importância de que o Brasil tenha soberania na criação de imunizantes, considerando que há doenças que são encontradas mais fortemente no nosso país, e ressalta o quanto a autonomia nacional é fundamental para a segurança da população.
“É importante que o Brasil tenha soberania na produção de vacinas, pois há doenças que são encontradas aqui e não no hemisfério norte. O que assistimos na Covid-19 foi um feito único. Antigamente, demorava-se uma média de 10 anos para o surgimento de vacinas eficazes e em menos de um ano já tínhamos imunizantes contra o vírus. Esse avanço rápido aconteceu pelo amplo conhecimento de plataformas já desenvolvidas e os financiamentos públicos e privados. O que não vemos no Brasil, já que o apoio do governo não veio tão imediatamente”, comentou o pesquisador.
Sobre a vacina que está sendo criada, por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explicou sobre as possibilidades para neutralizar as variantes, que segundo Gazzinelli, dificilmente são simultâneas. “O imunizante é baseado em epitopos de linfócitos T, pois, aparentemente, seriam os mais eficientes para evitar as variações, e estudamos as respostas em pessoas já vacinadas e convalescentes. Já apresentamos os resultados para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e esperamos para avançar com a pesquisa.”
RNA mensageiro
A pesquisadora Luciana Costa também fez um panorama sobre as vacinas e trouxe para a mesa-redonda os avanços do imunizante, criado por meio de RNA, desenvolvido pelo seu grupo de pesquisa. “Inicialmente nos dedicamos aos estudos do vírus e posteriormente à criação da vacina, o que justifica o início tardio das pesquisas para o imunizante. Nossa plataforma não é focada apenas no Sars-CoV-2, mas também no avanço para outras doenças e problemas que são encontrados no nosso país.”
Para explicar sobre o desenvolvimento do imunizante, Luciana conta que ele está sendo desenvolvido a partir de vacinas anticâncer, o que requer um esforço grande de toda a equipe. Já sobre os imunizantes criados por meio do RNA, apontou que são as técnicas mais recentes e que ainda há pouco investimento, por ser potencialmente uma molécula inflamatória e ser proibitiva na imunização dos indivíduos, o que exige que a molécula seja bem plástica para a entrega do antígeno que estimula a resposta no ser humano.
“A molécula de RNA deve estar contida nas células eucarióticas que permitem ser reconhecidas pelos ribossomos e que passem a ser lidas pelo organismo. Vimos que a proteína S do vírus deve ser usada para ser um neutralizante e impedir a entrada dele na célula, ou seja, uma molécula de RNA, contendo a proteína S, levada ao ribossomo fará com que o organismo produza o antígeno”, declarou Luciana.
73ª Reunião Anual da SBPC
O evento acontece até o dia 24 de julho de forma inteiramente on-line, sediando conferências, mesas-redondas, webminicursos, painéis e sessões de bate-papo. Confira também a programação da SBPC Jovem e Família e a SBPC Cultural.
A programação completa da 73ª Reunião Anual da SBPC traz nomes de projeção no cenário científico nacional, sendo transmitida pelos canais SBPCnet, TV UFJF, Centro de Ciências UFJF, Critt – UFJF, UFJF Notícias e Revista A3 UFJF.
Outras informações: Site oficial da 73ª Reunião Anual da SBPC
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