O primeiro caso de reinfecção – ou seja, quando uma pessoa é contaminada novamente por um mesmo vírus – do SARS-CoV-2 foi cientificamente comprovada em agosto de 2020. Já em dezembro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso do tipo no Brasil, quando uma médica de 37 anos voltou a ter diagnóstico positivo de Covid-19 mais de três meses depois de contrair a doença pela primeira vez. Desde então, pesquisadores e profissionais de saúde em todo o mundo confirmaram o risco de infecção repetida pelo coronavírus, especialmente mediante a existência de variantes do vírus.

De acordo com o infectologista do Hospital Universitário (HU) da UFJF, Rodrigo Souza, a imunidade contra as doenças infecciosas não necessariamente é duradoura, “existe mais de uma forma possível de ocasionar uma nova infecção: exemplos são a exposição a outra linhagem viral, logo, a imunidade gerada pela primeira infecção não será útil para proteção; ou quando a imunidade adquirida é perdida ou enfraquecida, abrindo espaço para a contaminação pelo mesmo vírus”, explica. 

Especialistas recomendam que é preciso seguir adotando o uso de máscaras, critérios de higiene e distanciamento social – até pessoa vacinada, mesmo não desenvolvendo um quadro grave da doença, ainda pode ser infectada e transmitir o vírus

Ainda não há consenso entre a comunidade científica sobre quanto tempo dura a imunidade entre aqueles que sobrevivem à Covid-19; no entanto, é possível afirmar que não é seguro contar somente com ela. Especialistas recomendam que é preciso seguir adotando o uso de máscaras, critérios de higiene e distanciamento social, inclusive após a vacinação – mesmo não desenvolvendo um quadro grave da doença, uma pessoa vacinada ainda pode ser infectada e transmitir o vírus. Segundo Souza, uma das hipóteses estudadas é a possível necessidade de doses periódicas de vacina, para garantir a imunização a longo prazo. “Não seria inédito, uma vez que a abordagem é semelhante à adotada pela vacinação contra o vírus Influenza, causador da gripe: como tem alto potencial de mutação, novas doses de vacina são exigidas para combatê-lo.”

Souza aponta que ainda não existem dados embasados suficientes para afirmar categoricamente quais são todos os fatores capazes de tornar alguém mais suscetível à reinfecção, mas adianta que é preciso cuidado redobrado no caso de pessoas que se expõem com mais frequência ou que apresentam alterações em seu sistema imunológico – algo que pode acontecer devido a diversos fatores, como o envelhecimento e o tratamento médico para determinadas doenças. “Também não é possível afirmar que uma reinfecção será mais grave do que a primeira, pois isso depende muito da resposta do organismo de cada paciente.”

É possível ser infectado por duas linhagens do coronavírus ao mesmo tempo?
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul, apontou que existe a possibilidade de coinfecção por diferentes linhagens do coronavírus, ou seja, de uma pessoa ser infectada, ao mesmo tempo, por duas variantes. Em artigo publicado pela revista científica Virus Research, os autores da pesquisa ponderam que ainda é necessário desenvolver uma análise sobre a frequência numérica de coinfecções, bem como estudos de monitoramento de novas variantes. 

Como é feito o diagnóstico de reinfecção pelo coronavírus?
Para descartar a possibilidade de diagnosticar o mesmo vírus da primeira infecção ainda presente no organismo do paciente, é exigido um intervalo mínimo de 90 dias para considerar a hipótese de reinfecção. Nos dois casos, é preciso que o resultado positivo seja obtido por meio do exame RT-PCR. Com essa confirmação, a próxima etapa é o sequenciamento genético do vírus, para constatar se a linhagem é geneticamente diferente da que causou a primeira infecção. 

No Brasil, é estimado que 0,03% dos casos passem por essa avaliação; alguns dos fatores responsáveis pelo baixo índice é o fato da análise de sequenciamento genético não ser ofertada na maioria dos serviços de saúde, bem como a subnotificação de pessoas contaminadas. É essa análise que diferencia casos de reinfecção de casos de recidiva. “A recidiva é quando acontece uma infecção pelo mesmo vírus. A reinfecção é quando acontece infecção por um vírus diferente”, elucida Rodrigo Souza.