Taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva está próxima de 97% (Foto: Mika Baumeister/Unsplash)

Taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva está próxima de 97% (Foto: Mika Baumeister/Unsplash)

O Grupo de Modelagem Epidemiológica da Covid-19, composto por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publicou sua última nota técnica de 2020, apresentando o cenário da doença no município no final do ano. O documento destaca que o momento atual – 23 de dezembro de 2020 – representa a pior situação em Juiz de Fora desde o início da pandemia.

Para cada 100 mil habitantes, aproximadamente 200 novos casos são confirmados toda semana. Cerca de 420 pacientes estão internados com Covid-19 nas redes pública e privada do município, chegando a uma taxa próxima de 97% de ocupação dos leitos de terapia intensiva, totalizando 454 óbitos decorrentes da doença.

A nota alerta que “o município está à beira de um colapso da rede de saúde, sem condições efetivas de novas internações em CTI, já encaminhando pacientes graves para internação em outros municípios da região”. Para as próximas semanas, a tendência é que a cidade continue com uma frequência elevada de internações. 

“A proximidade do Natal e do ano novo aumenta o desejo de as pessoas buscarem contato com seus familiares, reunirem-se, viajarem, o que agrava ainda mais a situação. Com o que nós vamos nos deparar com o retorno dessas pessoas? Isso nos preocupa bastante”, observa uma dos autores do documento, Isabel Leite.

Uma análise da pandemia em Juiz de Fora

A primeira nota técnica do grupo mostrou como o aumento de casos em Juiz de Fora ocorria de forma semelhante à tendência do Brasil, com algumas semanas de atraso. Isso ocorreu porque a epidemia começou nos grandes centros urbanos, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e depois se espalhou para outros estados e para o interior do país. 

Os pesquisadores ainda lembram que o primeiro decreto municipal, com medidas para distanciamento social, em março, teve um efeito aparente cerca de duas semanas depois, com a redução da velocidade de crescimento de notificação de casos suspeitos.  

Juiz de Fora não alcançou os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para considerar a pandemia controlada na cidade. Segundo o documento, era imprescindível ampliar o rastreamento e o monitoramento de contactantes e massificar os testes de confirmação da infecção, com efetivo isolamento da grande maioria das pessoas infectadas, o que não foi feito. 

Desde a segunda quinzena de novembro, Juiz de Fora passou a apresentar uma nova escalada na incidência da doença, com o aumento de internações e de óbitos. Em decorrência dessa situação epidemiológica, a Secretaria de Estado da Saúde colocou a microrregião de saúde de Juiz de Fora na onda vermelha, acompanhando a macrorregião de saúde Sudeste, da qual o município é o principal polo, que já estava nessa onda desde a avaliação anterior. 

“Fomos muitas vezes questionados sobre uma possível segunda onda, mas nunca tivemos claramente o controle da primeira. Então, sendo realmente uma segunda onda, ela está vindo no bojo de uma primeira não controlada”, explica Isabel.

Como a cidade deve agir

Na opinião do grupo, nesse cenário, medidas adicionais mais restritivas de isolamento e de distanciamento social são necessárias, próximas de um lockdown, e semelhantes às tomadas em março de 2020, apenas com serviços essenciais funcionando. “Esta medida não deve ser única e seus efeitos não serão observados em curto período de tempo, mas é essencial para um início de redução da contaminação comunitária”, aponta o documento.

Os pesquisadores alertam que medidas futuras devem ser adotadas, com planejamento quanto à retomada das atividades, rastreio e monitoramento efetivo sobre os infectados e contactantes e se possível o aumento da testagem desses indivíduos. 

“Precisamos de um envolvimento não só de quem gerencia, ou seja, do poder executivo, seja do município, do estado ou do país. Eles têm que ter metas muito claras, formas de comunicação e educação dirigidos à população. Mas isso não é só um papel deles, é um papel nosso enquanto academia, um papel do setor produtivo, e sempre tão em voga durante a pandemia, é também um papel de toda sociedade, da população geral. Não bastam restrições ao comércio local se, nesse momento, forem promovidas festas e outros eventos nos quais não sejam respeitados o distanciamento e outros cuidados. Isso é uma responsabilidade coletiva”, lembra Isabel. 

Como vem fazendo desde 25 de março de 2020, o grupo continuará trabalhando no acompanhamento e na modelagem epidemiológica da epidemia em Juiz de Fora e na região.