Com uma história que vai além das bases sobre o ensino, a pesquisa e a extensão, a Universidade Federal de Juiz de Fora chega aos 60 anos como protagonista na vida cultural da cidade, do estado e do país, ampliando suas fronteiras internacionalmente. A pró-reitora de Cultura Valéria Faria fala do acerto dos investimentos da instituição nas áreas artística, cultural e de lazer através dos anos, lembrando que são muitos os órgãos executores da Pró-reitoria de Cultura que se beneficiaram dessa movimentação histórica, a serviço de uma integração mais ampla entre a academia e a sociedade. 

“Ao longo dessas seis décadas, vimos crescer as oportunidades de aproximação de todos os públicos com uma proposta cultural que cada vez mais leva em conta a igualdade de oportunidades, a transparência, a democratização de acesso e a formação de uma cultura voltada para a cidadania”, analisa. Segundo ela, a Universidade apresenta um cenário em movimento, cuja expansão se tornou inevitável, trazendo mais espaços, novos projetos e incontáveis realizações. 

“Antes mesmo da criação da Pró-reitoria de Cultura, em 2006, a UFJF conquistou importante conjunto patrimonial, em que sobressaem não apenas imóveis históricos, mas bens arquitetônicos e artísticos, acervos culturais e científicos, conferindo à instituição privilegiada posição entre seus pares”, assinala Valéria. Prova disso são o Forum da Cultura e o Cine-Theatro Central, ambos fundamentais como combustível para alimentar a engrenagem cultural da cidade e da região.

Alguns marcos da efervescência cultural da Universidade, que em 2020 se reinventou para se adequar aos impactos da pandemia da Covid-19, são as programações em torno dos 25 anos de chegada da coleção de artes plásticas de Murilo Mendes à UFJF, os 15 anos de criação do Museu de Arte Murilo Mendes, a edição virtual do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. 

A criação do Museu da Moda Social, o acréscimo de coleções ao acervo do Mamm, a continuidade dos projetos do Programa de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart) também merecem destaque entre tantas outras ações. “O Prêmio Janelas Abertas arejou a produção artística independente em um momento dramático para o setor, que sofreu com a impossibilidade de um público presencial, forçando a criação em plataformas virtuais a partir de novas ideias e ações”.

No último ano, a Procult investiu em programações on-line, se preparando para a reabertura gradual de seus espaços. Forum da Cultura, Cine-Theatro Central, Mamm, Centro Cultural Pró-Música, Orquestra Sinfônica, Coral Universitário, Escola de Artes Pró-Música, Memorial da República Presidente Itamar Franco, Museu de Arqueologia e Etnologia Americana, Centro de Conservação da Memória, Museu da Moda Social e Espaço Reitoria se adaptaram a essa realidade. No Campus Avançado de Governador Valadares, o setor de Comunicação, Cultura e Eventos tem somado sua contribuição à história da cultura na UFJF desde 2014, assim como as galerias Tlegapé, Mehtl’on e Tchóre em 2019.

Em 1966, a instituição viu surgir as bases para seu primeiro equipamento cultural, o Coral Universitário, ainda hoje em franca atividade, registrando momentos especiais como o lançamento do CD À Moda da Casa, em 2001, que abriu espaço para novos registros. Em 2004, o grupo recebeu dois prêmios do júri oficial e um do júri popular no Concurso Sudamericano de Interpretación Coral na Argentina e ainda a medalha de ouro para o regente André Pires. Seguiram-se o festival internacional America Cantat, em 2010; o lançamento do CD Cantorias, o terceiro do coro, em 2014; as comemorações dos 50 anos em 2016, entre tantas outras atividades. 

Longevidade

Segundo o diretor do Forum da Cultura, Flávio Lins, arte e cultura sempre estiveram presentes na instituição desde o seu surgimento. Um de seus espaços mais antigos e longevos é o Forum da Cultura, criado em 1972, abrigando o Coral Universitário e o Grupo Divulgação. Lins começou a frequentar a UFJF no final da década de 1970, quando cursou edificações no antigo Curso Técnico Universitário (CTU), então instalado no Campus. Ele recorda que seus primeiros trabalhos de maior visibilidade foram um cenário e um programa para uma peça de teatro no auditório do curso. “Na época, tive a oportunidade de apresentar diversas atividades”, lembra, revisitando uma trajetória marcada por inúmeras experiências culturais e artísticas proporcionadas pela Universidade.

Em sua gestão à frente do Forum da Cultura, o professor destaca como um momento especial a realização dos Concertos de Outono, em que foram apresentadas músicas eruditas brasileiras. A série aconteceu nas manhãs de cinco domingos sempre com expressivo público. “Outro evento marcante foi a celebração dos 100 anos do casarão, no início de 2019. Houve uma comemoração que contou com uma belíssima apresentação da Orquestra Juiz de Fora”, conta.  As mostras do Museu de Cultura Popular e as exposições da Galeria de Arte também tiveram um apelo especial para os visitantes.

Templo das artes

Erguido pela Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri, em 1929 era inaugurado um dos mais importantes bens do patrimônio cultural de Juiz de Fora. Com capacidade para 1.851 lugares, o Cine-Theatro Central recebe diversos espetáculos entre apresentações cênicas, óperas, concertos, danças e shows, tornando-se um dos poucos do gênero disponíveis atualmente no país. A influência eclética e de art déco na fachada do Central, combinada com as características clássicas em seu interior, pelas pinturas de Angelo Bigi, são motivos de encantamento e orgulho para quem visita o teatro.

Adquirido pela UFJF em 1994, e tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no mesmo ano, o Cine-Theatro Central recebeu, por décadas, alguns dos mais prestigiados artistas locais, nacionais e internacionais, como Milton Nascimento, Tom Jobim, Chico Buarque e Elba Ramalho. O diretor do Central, Luiz Cláudio Ribeiro, ressalta a importância das ações desenvolvidas pela Universidade em busca de uma maior aproximação do espaço e de suas artes com a diversidade da população, por meio de projetos como o Visita Guiada e o Palco Central, que recebe artistas locais e regionais para uma apresentação mais intimista.

Luiz Cláudio ainda relembra um momento de destaque na história do teatro: o show de comemoração de seus 90 anos. “O Central vinha de um período em que não estavam sendo usados o segundo e terceiro andares, nem as galerias e camarotes, por conta de normas de adequação. Mas após a realização de algumas obras e a liberação do Corpo de Bombeiros e da Justiça, aconteceu o show Valencianas, da Orquestra Ouro Preto com Alceu Valença. O Central ficou completamente lotado com um concerto gratuito para a comunidade acadêmica e juiz-forana. Foi muito emocionante”, recorda.

Referência nacional

Um dos espaços museais mais importantes do país no que concerne à coleção de artes plásticas do período modernista, o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) chega aos 15 anos de fundação. A instituição abriga acervos bibliográfico, documental e de artes plásticas que pertenciam ao poeta juiz-forano Murilo Mendes. Sua origem, porém, vai mais longe, remetendo à doação da biblioteca particular do poeta à Universidade em 1978, e à criação do Centro de Estudos Murilo Mendes (CEMM), que funcionou de 1994 a 2005 nas antigas instalações da Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile). Em 20 de dezembro de 2005, o MAMM foi inaugurado, após uma reforma no antigo prédio da Reitoria. 

O superintendente Ricardo Cristofaro destaca que a UFJF sempre foi essencial para o movimento cultural de Juiz de Fora e região. “A Universidade não só abrigou muitos alunos, mas muitos talentos em diferentes linguagens artísticas”, aponta. Ele ressalta que a instituição contribui para a continuidade do movimento cultural na cidade, mantendo os órgãos culturais em funcionamento, gerando investimento, modernizando-os e fazendo com que se tornem referência local, regional e nacional. 

As atividades museais vão além da salvaguarda de acervos, ampliando seu espectro com exposições, festivais de cinema, debates, visitas de escolas e outras ações de fomento à cultura e às artes, incluindo o setor educativo. Cristofaro destaca que um dos grandes momentos para o MAMM foi o recebimento do selo “Museu Certificado”, em 2018, pelo Ministério da Cultura, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Cristofaro ressalta ainda a retomada de projetos como o Coletivo Cultural e das parcerias com museus brasileiros. Os recortes da Bienal de São Paulo são outro ponto de referência da qualidade da programação estabelecida através dos anos. “Com vistas no futuro, estamos nos empenhando no processo de modernização do MAMM, que inclui a atualização de sua estrutura, priorizando a preservação da importante coleção de artes visuais de Murilo Mendes”, diz.

Política institucional de Cultura

A diretora do Maea, Luciane Monteiro, analisa que a UFJF representa um locus produtivo da cultura local e nacional. “Isso é perceptível na prática acadêmica, com a aquisição de objetos e espécimes por meio de pesquisas que propiciaram a formação de coleções e acervos de referência na expansão do conhecimento e fomento de estratégias de preservação dos bens culturais e científicos”, explica, lembrando que a Universidade também tem decisivo papel na motivação e no estabelecimento de condições e oportunidades de inovação, expressão e manifestação artísticas, na valorização social e de identidades, ao suscitar o potencial criativo, talentos, histórias e memórias coletivas no curso desses 60 anos de existência.  

Ela cita que a inclusão do Maea como Setor da Procult foi significativa ao caracterizar uma política institucional de Cultura, promovendo ações técnicas, científicas, curatoriais e museológicas, com desdobramentos para medidas de salvaguarda e, principalmente, para a socialização do conhecimento e usufruto do patrimônio cultural musealizado. “A materialização dessa política está explicita na exposição “Maxakali: resistência de um povo” instalada no Jardim Botânico, concomitante às ações com a presença de representantes da etnia que trouxeram vigor para a promoção da diversidade cultural, reafirmando a ideia de que ciência, cultura e arte são princípios elementares da unidade do saber”, comenta.   

Tradição incorporada

Fundado em 1971 e administrado pela UFJF desde 2011, o Centro Cultural Pró-Música segue impactando a cultura com eventos como o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que este ano chega à sua 31ª edição em modalidade virtual.  O diretor Marcus Medeiros ressalta o caráter educativo do espaço e cita a importância da Escola de Artes Pró-Música para a realização de oficinas variadas e gratuitas. 

O diretor destaca que “o antigo prédio da Casa de Cultura, que também já foi Centro de Estudos Murilo Mendes e que hoje abriga a Escola de Artes Pró-Música está sendo reformado para receber atividades de formação presencial, essenciais para fomentar o futuro dos cursos de música e de artes da própria Universidade, além de formar um público participativo, tanto em relação a concertos e shows, quanto a exposições de arte. 

Ainda sobre o Centro Cultural Pró-Música, o diretor ressalta a reputação construída ao longo de décadas e cita as obras físicas que estão ocorrendo no teatro para adequá-lo às normas de segurança da legislação. Um dos registros mais marcantes dos festivais que aconteceram sob a égide da UFJF, diz respeito à realização da ópera barroca Monte Verdi, com cantores e músicos de vários países. 

Grande passo

Há oito anos, a instalação do Campus Avançado em Governador Valadares trouxe grandes expectativas para a área cultural da cidade, principalmente pela tradição da Universidade Federal de Juiz de Fora, que atua fortemente no fomento e no incentivo à produção artística e cultural e na preservação do patrimônio histórico. O setor de Comunicação, Cultura e Eventos passou a realizar um trabalho integrado, utilizando as ferramentas disponibilizadas pela instituição, a fim de estimular as ações e os talentos existentes na academia, fortalecendo também o trabalho desenvolvido por artistas e produtores locais. Entre as suas metas está a contribuição ao debate e à articulação das políticas de cultura da cidade.

Nas ações desenvolvidas em Governador Valadares, com suporte da Pró-reitoria de Cultura, o Coral Universitário é destaque. O projeto teve início no primeiro semestre de 2016, chegando a contar com 53 coralistas, entre estudantes, servidores e membros da comunidade. Durante os três anos em que esteve ativo, foram realizadas dez apresentações públicas. Uma das mais importantes aconteceu durante o FestCoros 2018, no Cine-Theatro Central, quando os coralistas tiveram a oportunidade de representar a UFJF-GV em um dos eventos mais tradicionais para os corais do Brasil. 

A produtora cultural Flávia Carvalho ressalta outra significativa atuação da Procult junto ao campus avançado, ao contribuir na efetivação de parcerias com artistas e produtores locais para ações que consolidam o cenário cultural de GV. “Desde 2016, a UFJF-GV é parceira da Semana da Dança. Com o apoio dos recursos disponibilizados, o projeto consegue trazer até Governador Valadares profissionais de diferentes áreas da dança. Por meio de rodas de conversa e oficinas, a ação contribui para a formação cultural de estudantes e servidores, além de auxiliar na integração junto à comunidade”, comenta Flávia.

Passado, presente e futuro

Visto como um dos órgãos executores da Procult com um papel vital na preservação e na conservação patrimonial e memorial, o Centro de Conservação da Memória (Cecom), na figura do coordenador Marcos Olender, destaca a relevância da Universidade para a cidade e a região ao longo das últimas décadas. “A instituição é um dos agentes culturais mais presentes em Juiz de Fora. Essa atuação é projetada de diversas formas, incluindo a responsabilidade na formação de agentes culturais, artistas, músicos e produtores que contribuem para o desenvolvimento do cenário cultural local”, avalia.

Desde 2015, o Cecom é o gestor dos acervos da UFJF, produzindo conhecimento sobre a preservação do patrimônio, a partir de Juiz de Fora e da Zona da Mata. Por meio de duas coleções – Movimento estudantil do DCE e Dormevilly Nóbrega –  e de cursos, como “Organização e conservação de acervo documental”, o órgão colabora para a formação e a capacitação de profissionais para a atuação na área cultural, operando como um centro difusor não só de divulgação do patrimônio edificado, documental e material, mas também de educação. 

Entre os momentos mais marcantes realizados no espaço, o coordenador ressalta o nascimento do Centro e a ocupação do antigo prédio do DCE, além do projeto Memoriarte. “Acompanhar a trajetória do Cecom desde a sua origem, construindo toda a sua importância como equipamento cultural para a cidade, é muito gratificante. Além disso, sediar o Memoriarte, que foi desenvolvido com a proposta de trabalhar a memória, a arte e a cultura como resistência política, social e cultural, é mais uma iniciativa para a conservação da memória”, reflete.  

Memória viva

A gênese do Memorial da República Presidente Itamar Franco e sua incorporação pela UFJF remonta a 2010, mas foi em 2014 que o Conselho Superior (Consu) determinou sua criação e seu regimento. O acervo histórico-cultural é constituído por documentos, fotografias e vídeos referentes ao período público do presidente, além de possuir uma biblioteca própria com coleção pessoal e política de grande importância museológica. Tarcísio Greggio, diretor do espaço, ressalta o relevante papel da UFJF como agente cultural para o cenário regional e nacional na formação de profissionais e público de arte, levando aos principais aparelhos culturais administrados pela Procult uma programação anual de exposições, eventos e palestras.

Greggio atenta para o fato de que o ano de 2020, mesmo diante do distanciamento social imposto pela pandemia, está sendo de grande importância para o Memorial: “Começamos a produzir muito conteúdo educativo, cultural e artístico na Internet; lançamos um espaço virtual, o Panteão, a primeira exposição virtual, com textos, ensaios e artigos e criamos o nosso podcast. Também foi fundamental a transferência do acervo, pois recebemos a maior parte dele este ano. A produção desses relatórios é fruto de muito trabalho da equipe”, afirma.

Identidade fashion

Concebido recentemente, o Museu da Moda Social (MMOS) integra-se ao conjunto de órgãos culturais da Universidade, comprometido a preservar a memória e o patrimônio cultural, e a incentivar as inspirações artísticas no universo da moda. O espaço encontra-se em construção em área anexa à casa histórica da Escola de Artes Pró-Música e é responsável por abrigar e salvaguardar a trajetória da indústria têxtil em Juiz de Fora nas primeiras décadas do século XX.

O acervo apresenta 313 peças entre trajes e acessórios de marcas locais, nacionais e internacionais, centradas no segmento da indumentária social. Há também um lote especial relativo à extinta fábrica Ferreira Guimarães, que funcionou entre 1905 e 2009, com ênfase no resgate de 150 estampas da década de 1990, criadas por designers italianos, franceses, espanhóis e norte-americanos.

O diretor do Museu, Luiz Fernando Ribeiro, ressalta que o Museu chega justamente no ano em que a UFJF completa 60 anos e se solidifica trazendo a cultura de moda para a cidade, o que demonstra que ela deixou de ser privilégio apenas dos grandes centros. “O Museu apresenta para Juiz de Fora e região as histórias de roupas e acessórios que contam sobre costumes, maneiras, relacionamentos, regras sociais, tecnologia, manufatura e tradições de quem as usou e criou”, observa.