O Grupo de Modelagem Epidemiológica da Covid-19 divulga boletim para atualização semanal da evolução das curvas de casos suspeitos e confirmados, corrigindo uma previsão apresentada anteriormente pelo modelo utilizado pelo grupo. A Semana Epidemiológica 27 – que compreende os dias entre 28 de junho e 4 de julho – apresentou um recorde de casos novos confirmados no município de Juiz de Fora. Foram 626 casos, conforme divulgado na nota técnica 6, publicada em 9 de julho de 2020, o que fez com que o modelo previsse 3993 acumulados até 17 de julho. Este recorde intrigou a equipe de pesquisadores, que buscou entender este cenário.
Na semana 27, pela primeira vez, o modelo subestimou o real número de casos confirmados. A inclinação da curva do número de casos confirmados foi maior que a prevista anteriormente, indicando uma mudança de regime. Foram 626 novos casos nesta semana e, por causa deste alto crescimento no número de casos reais, o modelo previu 3993 acumulados até 17 de julho. Segundo Fernando Colugnati, um dos pesquisadores do grupo, o aumento de casos observados ocorreu principalmente na população economicamente ativa – dos 20 até os 49 anos. “Esta é uma população que não vinha tendo grande destaque e grande demanda de testagem nos laboratórios privados, principalmente. Muito desses novos testes foram de assintomáticos, pessoas que se testaram por medo e insegurança, não tem como inferirmos exatamente a causa. O fato é que especificamente nessa semana, foram notificados 626 casos, um cenário muito atípico”, esclarece.
Já na semana 28 – 5 a 11 de julho – o número de casos reais foi bem menor (370), mostrando que o crescimento repentino anterior levou o modelo de previsão a estimar números bem maiores do que os observados. Por conta disso, os pesquisadores tiveram que adequar as estimativas e chegaram a previsão de 2984 casos acumulados até 17 de julho, mais de 1000 casos a menos que o previsto anteriormente (3993).
Justificativa do pico
De acordo com o boletim, a primeira hipótese que pode justificar o cenário observado, foi o começo de coleta ampliada realizada pela UFJF, iniciada em 22 de junho e finalizada em 13 de julho, que compreendeu a inclusão de qualquer paciente sintomático com 20 anos ou mais, que comparecesse com queixa em algum serviço de saúde pública. Os pesquisadores não encontraram evidências de que esta coleta ampliada – com objetivo exatamente de tentar estimar a infecção na população sem comorbidades – seja a única responsável pelo pico. “Além da testagem ampliada na UFJF exatamente na semana do dia 27, isso ocorreu também por uma grande demanda de solicitação de exames particulares nas duas semanas anteriores”, explica Fernando Colugnati. “Isso tudo levou a um pico de casos que não se repetiu na semana posterior (5 a 11 de julho). Então, esse pico foi o que levou ao nosso modelo parecer que tinha subestimado, na previsão anterior, o que ocorreria”.
De acordo com o boletim, uma das possíveis explicações para este aumento na demanda por testes de laboratórios privados pode ser pequenos surtos em instituições, empresas de diversas naturezas, que ao identificar um colaborador positivado, demandaram testes para todos os demais, mesmo que assintomáticos. Esta é uma hipótese ainda em investigação, que segue junto ao pessoal do Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental (DVEA) da Prefeitura de Juiz de Fora.
Ajustes ao modelo de previsão
Colugnati revela que o modelo de previsão faz uma leitura dos dados que os pesquisadores fornecem a ele. Por isso, quando o modelo entrou em contato com aceleração do crescimento da curva na semana 27, ele extrapolou as previsões para as semanas posteriores, indicando um cenário mais pessimista. “Foi importante fazer essa readequação e nós lançamos esse boletim justamente para corrigir isso”, aponta. “O modelo anterior estava prevendo 3900 casos até o dia 17 de julho, que seria sexta feira agora, ao passo que nós vamos ter esse número só no final do mês. Então isso ficou mais coerente com os dados que nós observamos na semana passada e nesta semana.”