A pandemia da Covid-19 altera rotinas e dinâmicas familiares no Brasil desde março de 2020. Muitas vezes, aqueles contaminados pelo vírus precisam realizar o isolamento social dentro da própria casa. Pensando nisso, especialistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) orientam sobre os principais cuidados e quais são os impactos de uma pessoa contaminada convivendo entre familiares. 

Segundo especialistas, ideal é que pessoas infectadas e que estejam em casa sigam recomendações de isolamento dentro das limitações de cada família (Imagem: Pixabay)

Quando alguém contaminado pelo coronavírus precisa se isolar em casa, as precauções com a higiene e os limites do espaço de convívio são essenciais para que se evite novos contágios. De acordo com o professor Rodrigo Souza, infectologista do Hospital Universitário (HU/Ebserh/UFJF), “as recomendações começam no quarto, que deve ser individual e bem ventilado. Em casas pequenas, a pessoa pode ficar isolada em um cômodo específico. O ideal é que a circulação do paciente seja nula, evitando a contaminação de outros ambientes. Ele deve ficar separado e com deslocamento limitado. Quando a separação de cômodos não for possível, deve-se manter distância de pelo menos um metro dos demais habitantes.”

“Quando alguém contaminado pelo coronavírus precisa se isolar em casa, as precauções com a higiene e os limites do espaço de convívio são essenciais para que se evite novos contágios” (Rodrigo Souza, infectologista do Hospital Universitário)

Os cuidados se estendem, por exemplo, na necessidade de ter um banheiro exclusivo para a pessoa contaminada. Todas as superfícies tocadas devem ser posteriormente higienizadas, como maçanetas e torneiras. Essa higienização deve ser feita pela pessoa mais saudável e com menos riscos de contaminação. Pratos, talheres, roupas, toalhas e lençóis também devem ser lavados separadamente. A higienização das mãos várias vezes ao dia e o uso de máscaras continuam sendo medidas importantes. 

Diagnóstico

Para infectologista do HU, Rodrigo Souza, ter alguém diagnosticado com Covid-19 em casa pode exigir muito dos familiares no quesito psicológico (Foto: Reprodução)

O professor ressalta a importância do diagnóstico em casos de quarentena em casa. “Se for feito precocemente, existe uma possibilidade de as pessoas não adquirirem a doença, devido às separações e precauções que devem ser realizadas. Se o diagnóstico for feito tardiamente, o risco aumenta. Existem muitos casos em que a pessoa adquire o vírus quando ainda está assintomática, o que impossibilita essa preparação prévia.”

Além disso, ter alguém diagnosticado com Covid-19 em casa pode exigir muito dos familiares no quesito psicológico. O cuidador em geral enfrenta uma sobrecarga muito significativa, sendo observados impactos na saúde mental muitas vezes maiores do que nos próprios familiares adoecidos. É fundamental então que este cuidador busque realizar os cuidados que têm sido tão preconizados em tempos de pandemia. 

Autocuidado

“Cuidar do outro não deve inviabilizar o autocuidado, que inclui organização de uma rotina de cuidados com o sono e com o corpo” (Fabiane Rossi, psicóloga e professora da UFJF)

Segundo a psicóloga e professora da UFJF, Fabiane Rossi, “cuidar do outro não deve inviabilizar o autocuidado; que inclui a organização de uma rotina de cuidados com o sono e com o corpo (alongamento, exercícios adaptados); meditação; realização de atividades que tragam tranquilidade; e o esforço em evitar o excesso de informações e de hábitos prejudiciais à saúde, obviamente dentro da realidade de cada família.” 

“No que diz respeito à angústia decorrente desta vivência, é importante que o cuidador busque, além de proporcionar os cuidados com a medicação e alimentação, ter espaços virtuais de contato e suporte com o familiar adoecido, o que pode amenizar a sensação de desamparo, de insegurança e de isolamento para ambas as partes.”, ressalta.

Medo
A ex-aluna da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, Maria Elisa Diniz, que chegou a ser contaminada pelo vírus, relata sobre o seu período de internação em suas redes sociais. Maria conta que voltar para casa foi bem apreensivo. “Moramos em cinco, e todos fomos contaminados. A princípio, desde a primeira confirmação, todos paramos de sair até mesmo para lugares como farmácias, supermercados, etc. Ficamos em casa completamente isolados por cerca de 20 dias. Fazíamos tudo através da internet, recebendo nossos pedidos com precauções. Usávamos máscaras, luvas, avisávamos as pessoas para tomarem atenção redobrada.”

“O medo é um dos sintomas não listados da Covid-19” (Maria Elisa Diniz, ex-aluna da UFJF, recuperada da doença)

A respeito dos impactos psicológicos causados pela experiência, Maria Elisa afirma que o pior de tudo foi o medo. “Há uma constante preocupação de saber o que pode acontecer com você, o que mexe muito com a nossa cabeça. Existe também um medo de que as pessoas ao seu redor piorem, a culpa de infectar outras pessoas; um receio muito grande de que qualquer pessoa se aproxime de você. Quando saí do hospital, fiquei literalmente trancada dentro do quarto, pois tinha medo de ficar perto de outras pessoas. Mesmo depois de sair do isolamento, ainda demorei um tempo para conseguir sair de casa para atividades essenciais. O medo é um dos sintomas não listados da Covid-19.”