O livro trata das etapas e objetivos do tratamento, quem deve fazer análise e o que acontece no consultório de um psicanalista. (Foto: divulgação)

“Conhece-te a ti mesmo”. Vamos combinar que não é nada fácil seguir a recomendação contida na mais famosa frase do filósofo ateniense Sócrates. Mas um método criado pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939) pode ser um excelente aliado na busca do conhecimento pessoal. Estamos falando da psicanálise, tema do livro lançado nesta quinta-feira, 7, pelo psicólogo do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), Lucas Nápoli.

Na obra – a segunda de autoria do servidor – são abordados as etapas e os objetivos do tratamento, quem deve se submeter a ele e, principalmente, como é o trabalho do profissional responsável por conduzir uma sessão psicanalítica, ou análise, como é mais conhecida. Daí o título do livro: “O que um psicanalista faz?”

“Pretendo explicar de uma forma bem clara e didática, não só para o público especializado, mas principalmente para o leigo, como um psicanalista trabalha, o que acontece dentro do consultório entre o terapeuta ou analista e o paciente”, afirma Nápoli sobre o livro, que, segundo ele, surgiu de um questionamento de seu pai e seu irmão, há mais de dez anos, sobre o que de fato ele fazia em seu consultório.

O paciente é o motorista
E para responder à pergunta – que além do pai e do irmão, também deve gerar dúvida em muita gente – Nápoli recorre a uma metáfora. “Nessa viagem, o paciente é o motorista. O terapeuta fica no banco do carona e o ajuda a perceber coisas que muitas vezes não percebe sozinho e a chegar ao final da viagem, que é o encontro com o próprio desejo”, explica.

É que na psicanálise o protagonista é o próprio paciente. “A gente costuma dizer que quem trabalha efetivamente em uma sessão é o paciente e não o analista. Porque a análise é um convite para que a pessoa faça uma viagem para dentro de si mesma, que comece a se escutar. E para que ele possa se escutar, o analista não pode ficar falando o tempo todo. Seu papel é criar condições para que o paciente encontre o seu desejo e as suas questões mais profundas e, a partir desse encontro, consiga se livrar sozinho daqueles problemas que ele está vivenciando”, detalha Nápoli.

Mas para dar adeus aos problemas, é necessária a vontade consciente de buscar o autoconhecimento. “Quem procura a psicanálise é quem está em sofrimento. Mas somente isso não é o suficiente para fazer análise. Tem que estar em sofrimento e querer entender o seu sofrimento, o que está por trás dele. Se o paciente somente quer ser curado, não vai se dar bem na psicanálise”, afirma.

A importância da psicanálise neste período de pandemia
Nesse momento em que muitas pessoas têm sofrido por conta da nova realidade imposta pela pandemia da covid-19, a psicanálise oferece contribuições importantes a nossa saúde mental, como defende Nápoli:

“A grande lição da psicanálise e de Freud é que não temos controle sobre tudo. Não temos controle sobre nós mesmos, quanto mais da realidade. Viver com essa consciência de que a vida pode ser vivida – e bem vivida – sem que a gente tenha controle sobre tudo é a principal contribuição que a psicanálise pode dar nesse momento em que todos nós estamos percebendo que por mais que a humanidade tenha resolvido um monte de coisas, muitas delas ainda acontecem fora do nosso controle”.

O segredo é a resiliência. “O melhor que a gente pode fazer é se adaptar no sentido de lidar com um mundo que não está sob o nosso controle, um mundo em que as coisas acontecem e a gente vai encontrando formas de lidar com elas. Nem tudo é previsível, como foi o caso dessa pandemia”, finaliza o psicólogo.