Com cem mil brasileiros acometidos de covid-19, sete mil óbitos e uma curva crescente de casos, profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate à doença enfrentam problemas que vão da falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) ao medo de ser contaminados, passando também pelo preconceito e por atitudes violentas de grupos extremados da população. Todo este inédito cenário tem como consequência o aparecimento de distúrbios relacionados a estresse e ansiedade.
Para a psicóloga e professora da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cacilda Andrade de Sá, estes profissionais estão mais vulneráveis a danos psicológicos. “A saúde mental é afetada, por envolver processos sociais de distanciamento, impactos financeiros, estigma e conflitos de interesse diversos”, explica, “Essa combinação pode levar a sentimentos de medo, revolta e solidão, já que estamos falando de seres humanos vivenciando emoções diferentes, súbitas e intensas para as quais não tiveram tempo de se preparar.”
A continuidade de exposição a fatores estressores pode levar a um esgotamento físico e mental. O profissional deve ficar atento a alguns sinais frequentes de estresse, como, por exemplo, medo e preocupação persistentes, mudanças nos padrões de sono ou alimentação, dificuldades para dormir e em manter a atenção, falhas de memória, agravamento de problemas de saúde pré-existentes, e aumento no consumo de álcool, cigarro e outras drogas. “Alguns sintomas podem causar sofrimento psíquico significativo e prejuízo do funcionamento em áreas importantes da vida deste trabalhador. Ao identificar estes sinais, deve-se buscar ajuda de um especialista da saúde mental para uma avaliação”, ressalta Cacilda.
Protocolos e prevenção
“É possível crer que praticamente a maioria já se colocou na situação de contrair o vírus e morrer ou que sua contaminação represente risco a pessoas do seu convívio.” (Thiago Nascimento, coordenador do curso de Enfermagem da UFJF)
Para o coordenador do curso de Enfermagem da UFJF, Thiago Nascimento, a categoria está exposta a uma carga viral elevada, o que por si só já gera preocupações. “É possível crer que praticamente a maioria já se colocou na situação de contrair o vírus e morrer ou que sua contaminação represente risco a pessoas do seu convívio.” O ideal, segundo ele, é se concentrar na própria essência, no aprendizado, no conhecimento adquirido ao longo da prática profissional, sem permitir a interferência de fatores como a ansiedade. “É ter tranquilidade na atividade realizada e fazer uso das precauções determinadas.”
A coordenadora do curso de Fisioterapia da UFJF, Rayla Lemos, acompanha a mesma linha de raciocínio sobre seguir corretamente os protocolos de prevenção, acrescentando a importância das redes de apoio. “É necessário obedecer os períodos de descanso, alimentação e cuidado de si para ajudar no equilíbrio. A certeza do trabalho coletivo e integrado e o profissionalismo são diferenciais em desafios como este. Cultivar a resiliência com o suporte do que lhe afeta e traz paz, seja na espiritualidade ou outro meio, é primordial. Uma rede de suporte formal nas próprias instituições de saúde, intra-equipes, e a de familiares e amigos, ainda que remotamente, pode ajudar. É preciso viver um dia de cada vez, mantendo o foco, a esperança e a certeza de que tudo vai passar”, diz.
Respeito
“Sabemos que é alto o risco de adoecimento por burnout, estresse pós-traumático, depressão, ansiedade e outros distúrbios. Por isso é necessário a existência de espaços de escuta destes trabalhadores” (Fabiane Grincenkov, professora do curso de Psicologia da UFJF)
“Acreditamos que a maior responsabilidade em relação a doença seja reconhecer que, ao menor sinal ou sintoma, é necessário o afastamento do profissional de suas atividades, pois ele se acostuma a continuar, independente do que sente. Apesar de a mídia nos chamar de heróis, a maioria gostaria era de ter condições dignas de trabalho, respeito, valorização e autonomia, o que impactaria positivamente na qualidade da assistência, na segurança e no cuidado às pessoas”, observa a vice-coordenadora do curso de Enfermagem da UFJF, Angélica Coelho.
A professora do curso de Psicologia da UFJF, Fabiane Grincenkov, acrescenta que este talvez seja o momento onde a profissão tenha sido mais demandada. “Em função disso, é fundamental que os profissionais se tratem, pois cuidar também adoece. Sabemos que é alto o risco de adoecimento por burnout, estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, e outros distúrbios. Por isso, é necessário a existência de espaços de escuta destes trabalhadores. Plantões psicológicos on-line e atividades de psicoeducação sobre cuidados de saúde mental também devem ser ofertados pelas instituições para as equipes de saúde.”
Teleatendimento
Em Juiz de Fora, professores da Faculdade de Medicina, em parceria com docentes do quadro egresso e do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) da UFJF, oferece acolhimento e orientações por teleatendimento para quem atua na linha de frente da Covid-19.
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