Palestra Show de Dudu do Cavaco reuniu grande público na UFJF-GV (Foto: dante Rodrigues)

Em 1998, a propaganda do “Carlinhos”, um comercial institucional criado pela agência DM9DDB para a Fundação Síndrome de Down, conquistou o público com o tema “Down. A pior síndrome é a do preconceito”.  O filme com a trilha sonora “Fake Plastic Trees”, da banda britânica Radiohead, exibe duas crianças brincando em um carrossel, enquanto algumas mensagens sobre atividades diárias de Carlinhos são exibidas. Ao final, o público é surpreendido ao mudar a impressão inicial de que Carlinhos era o garoto sem a síndrome de Down.

Vinte e um anos depois, apesar do sucesso da propaganda, as pessoas com Down ainda sofrem com o preconceito e a invisibilidade social. O alerta foi feito durante palestra show realizada por Leonardo Gontijo e Dudu do Cavaco, no campus Governador Valadares da UFJF, nesta quarta-feira (9).

Instituto Mano Down é fruto do amor de Leonardo Gontijo pelo irmão Dudu do Cavaco (Foto: Dante Rodrigues)

Leonardo Gontijo é fundador do Mano Down, instituto com sede em Belo Horizonte que busca propiciar às pessoas com Síndrome de Down maior autonomia para que possam exercer o controle cada vez maior sobre suas vidas, bem como entrar para o mercado de trabalho. “Já teve empresário que entrou em contato comigo perguntando se eu não tinha uma pessoa com “menos downzinho” para indicar; outro, com medo de ser multado pelo Ministério do Trabalho, me sugeriu contratar algumas pessoas do Instituto para ficarem em casa, mas assinarem o termo de conduta. A resposta a essas propostas eu não vou falar aqui por respeito a vocês”.

De acordo com Gontijo, Belo Horizonte tem aproximadamente 45 mil pessoas com deficiência, mas apenas cerca de duas mil estão empregadas, dentre as quais uma minoria com Síndrome de Down.

O Instituto Mano Down é fruto do amor e admiração de Leonardo Gontijo pelo irmão Eduardo, mais conhecido como Dudu do Cavaco, que tem Síndrome de Down. “O que a gente quer com o Mano Down é mostrar que ser diferente é normal. A gente quer ocupar os espaços, quer educar para a diversidade, mostrar que a vida é diversidade.  Eu só abri os olhos, só percebi esta invisibilidade social depois que meu irmão nasceu”, afirmou.

Cavaco repleto de autógrafos de personalidades da MPB (Foto: Dante Rodrigues)

Aos 29 anos, Dudu do Cavaco demonstra com talento e bom humor que as pessoas com Síndrome de Down precisam de oportunidades. Quando criança, Dudu teve sua matrícula negada em 17 escolas e foi dispensado por cinco professores de música. Hoje, toca nove instrumentos e tem a agenda cheia de shows e atividades. “Faço aula de zumba, capoeira, culinária, xadrez, educação financeira e tenho meu cartão de débito”, brincou.

O cavaco, sua marca é registrada, é tratado como filho por Dudu. “Meu cavaquinho tem autógrafo do Chico Buarque, Jorge Aragão, Hamilton de Holanda, Alcione, Rogério Flausino e Paulinho da Viola”, conta orgulhoso.

História de Dudu serviu de inspiração para o público presente (Foto: Dante Rodrigues)

Em 2020, Dudu pretende se casar com a noiva Vitória.  Será a realização de um dos seus inúmeros sonhos. “Meu primeiro sonho era lançar um CD e DVD e eu lancei; agora meu sonho é me casar com a Vitória e gravar uma música com o Rei Roberto Carlos”. Dudu do Cavaco é o primeiro músico com Síndrome de Down do Brasil a gravar um CD e DVD.

Professora Andréia Peraro foi ao evento acompanhada pelo filho Raul (Foto: Dante Rodrigues)

Para a professora Andréia Peraro, responsável pela organização do evento, o exemplo de Leonardo e Dudu demonstra que “as pessoas com Síndrome de Down possuem possibilidades de fazer várias coisas, o que elas precisam é de oportunidade. Então é preciso criar estímulos, oportunidades de emprego, inseri-las nas atividades cotidianas, para que as pessoas com Down possam fazer o que desejarem”.

Confira as fotos do evento.