O Centro de Biologia da Reprodução (CBR) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está celebrando 50 anos de existência. A terceira e última reportagem da série especial de comemoração do cinquentenário do Centro traz as principais pesquisas que foram e continuam sendo desenvolvidas pela instituição, cujos primeiros estudos se deram na linha de Biologia da Reprodução.

Com o passar do tempo, o CBR ampliou suas linhas de pesquisa, atendendo aos estudos na área de toxicologia reprodutiva e, gradativamente, com a visão interdisciplinar e com seus laboratórios multiusuários, foi possível ampliar as pesquisas, atendendo a diferentes linhas, na área de saúde. “Hoje são desenvolvidos projetos na área da nefrologia, pneumologia, exercício físico, fisiologia da reprodução, obesidade, nutrição, entre outros”, afirma a diretora do Centro, Vera Maria Peters. “O CBR viabiliza o desenvolvimento de pesquisas nos diferentes cursos de pós-graduação, como na área de saúde, odontologia, biotecnologia, zoologia e mais”.

Estrutura física do CBR
Desde o início, a concepção do Centro previu laboratórios de pesquisas e um biotério, onde seriam criados os animais de laboratório, necessários às pesquisas básicas que então se desenvolviam. Passados alguns anos, uma nova edificação foi construída, ficando o biotério organizado em um prédio e os laboratórios de pesquisa e biblioteca no outro. Com o decorrer dos anos foram introduzidas alterações estruturais no biotério, devido aos avanços na área de Ciências de Animais de Laboratório e com a chamada Lei Arouca, que trata da experimentação animal.

Também foram construídas as edificações da Secretaria, do anfiteatro e da sala de aulas práticas. Equipamentos modernos, tanto destinados à experimentação animal, quanto ao bem-estar e saúde animal foram comprados, obtendo, o biotério, sua certificação junto ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea).

Evolução da pesquisas
De 1971 a 1979, os projetos de pesquisa do Centro foram realizados com verbas, essencialmente originárias da Fundação Ford e, também, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Programa Latinoamericano de Investigação em Reprodução Humana, Fundação Lalor, Foutoura Wyeth e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Estes órgãos investiram, em pesquisa, cerca de US$ 521 mil. “Neste período”, conta Vera, “as pesquisas envolveram a avaliação de efeito tóxico de fármacos sobre o blastocisto de coelhos e camundongos, através de estudos ‘in vitro’; toxicidade sobre a embriogênese de ratos, além de estudos clínicos iniciais para avaliação da eficácia e efeitos colaterais de dispositivos intra-uterinos e contraceptivos orais”. Nessa época, o Centro passou a fazer parte dos Centros Colaboradores de Controle de Qualidade de Laboratórios de Radioimunoensaio da Organização Mundial da Saúde.  

Na década de 80, o CBR integrou um grupo de pesquisas de estudos de plantas medicinais, constituído pela Faculdade de Química de Minas Gerais. O objetivo do projeto era avaliar o potencial farmacológico relacionado a atividades contraceptivas e abortivas de plantas utilizadas pela população indígena com esta finalidade. A pesquisa foi financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), teve duração de dois anos e um custo de cerca de US$ 100 mil. 

“Além dessa pesquisa – a maior verba obtida nesta década – outros financiamentos para estudos clínicos e básicos foram obtidos do CNPq, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), OMS e laboratórios farmacêuticos diversos. Na década de 90, a Organização Mundial da Saúde, reconhecendo a importância dos Testes Pré-clínicos desenvolvidos pelo Centro com a utilização do modelo animal (roedores, primatas e lagomorfos), investiu US$ 30 mil na recuperação física do Biotério do CBR, de maneira a ampliá-lo, garantindo o atendimento a uma maior demanda.

Segundo a diretora da instituição, Vera Peters, a OMS foi, ao longo desses anos, “a financiadora por excelência dos projetos clínicos, investindo, aproximadamente, US$ 50 mil, bem como na formação e na capacitação dos pesquisadores do Centro, que foram treinados na Inglaterra, na Escócia, nos Estados Unidos, na Argentina e no Chile”. 

Entre 2000 e 2002, o Centro prosseguiu os trabalhos com a avaliação da eficácia e eficiência dos dispositivos intra-uterinos, recebendo US$ 13 mil para o estudo do Gynefix, um DIU que obteve seu credenciamento junto ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Tais investimentos vieram, principalmente, porque éramos um dos poucos Centros mundiais que detinham a tecnologia de medida de sangramento menstrual, essencial para o acompanhamento de mulheres usuárias de dispositivo uterino”, argumenta Vera.

Novas parcerias
Com o novo milênio, o CBR iniciou novas parcerias e começou a desenvolver estruturas de Rede de Cooperação, acompanhando a nova filosofia das agências financiadoras para otimização de recursos financeiros e humanos. A parceria do CBR – através do Laboratório de Patologia Experimental – com a empresa Quiral do Brasil e o Instituto Mineiro de Estudos e Pesquisa em Nefrologia resultou na obtenção de cerca de R$ 60 mil, com os quais foram obtidos equipamentos para o Laboratório de Patologia Experimental, para análise de substâncias imunossupressoras.

Em 2001, através do Projeto CTI-INFRA-1, da Finep, uma parceria entre o CBR, o Departamento de Química da UFJF e a Faculdade de Farmácia e Bioquímica, resultou na obtenção de R$ 1,1 milhão, que permitiram a aquisição de equipamentos destinados ao estudo de fármacos. “Considerando o Plano Diretor traçado no Centro, a participação no projeto permitiu complementar e adequar os laboratórios, de modo a atender tanto as modificações quanto à legislação de criação, manutenção e utilização dos animais de laboratório, feitas pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), quanto aquelas do Ministério da Saúde para atendimento aos Testes Pré-clínicos”, acrescenta a pesquisadora.

O CBR, tendo em vista sua formação, estrutura e competência, participou, em 2002, da estrutura da Rede Cooperativa proposta pela Fapemig e, dessa forma, em consonância com as Resoluções da Vigilância Sanitária vigentes à época, para viabilizar o registro de medicamentos e drogas em estudo, bem como colaborar na formação e capacitação de recursos humanos, de maneira a contribuir com o desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado de Minas Gerais.

Conforme informa Vera, “o propósito principal da Rede seria a estrutura de uma organização com pessoal dotado de treinamento, princípios e conhecimentos comuns e complementares, que viabilizasse a análise seqüencial e gradativa da toxicidade e farmacologia de produtos destinados à alimentação e saúde humana e animal”.

Como resultado da concorrência aberta no Estado de Minas, o Laboratório de Fitofármacos da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas) e o Centro de Biologia da Reprodução da UFJF foram os que apresentaram todos os requisitos para organizarem a Estrutura da Rede Cooperativa do Estado, para elaboração dos Ensaios Pré-clínicos, cabendo ao CBR a coordenação dos trabalhos e implantação da Rede Mineira de Bioterismo. 

Posteriormente, a Fapemig criou o programa de apoio às Redes e o CBR coordenou, de 2005 a 2017, as Redes Mineiras de Bioterismo e Toxifar, envolvendo a cooperação entre as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), Ouro Preto (UFOP), Viçosa (UFV), São João del-Rei (UFSJ) e Alfenas (Unifal), além da Unifenas.

“A existência das duas Redes permitiu um avanço considerável em todas as instituições envolvidas e, particularmente no CBR, contribuiu para a estruturação do biotério com melhor nível de qualidade, assegurando a qualidade das pesquisas desenvolvidas. Além disso, ampliou as pesquisas, que atualmente envolvem toxicologia reprodutiva, ciência de animais de laboratório, nefrologia, imunopatologia, ortodontia, pneumologia, metabolismo, psicofarmacologia e neurologia”, finaliza a diretora do CBR.

Festividades do cinquentenário
As comemorações do cinquentenário do CBR tiveram início no dia 10 de julho, quando o Centro recebeu a visita do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),  Rovilson Gilioli. Especialista na área de Microbiologia Aplicada, o pesquisador ministrou a palestra “Microbiota intestinal: influência na saúde e doença”, que contou com a participação de pesquisadores, técnicos e alunos de graduação e pós-graduação.

Dando prosseguimento aos eventos de celebração do aniversário, nos dias 7, 8 e 9 de agosto acontecerá o Fórum Comemorativo 50 anos CBR e 20 anos RMBioterismo. O evento, que ocorrerá no anfiteatro de Estudos Sociais (ao lado da cantina da Faculdade de Direito) e na sede do CBR (próximo ao trevo que dá acesso ao Instituto de Ciências Biológicas), reunirá workshops, palestras e mesas-redondas, sempre com temáticas voltadas à nova visão da ciência de animais de laboratório. 

De acordo com Vera Peters, a iniciativa visa a “integrar e aprofundar o diálogo entre os diferentes atores do processo de ensino e pesquisa que envolve o modelo animal, discutindo os cuidados e a utilização de animais em atividades científicas”. As inscrições para as atividades dos dias 7 e 8 são gratuitas e devem ser feitas on-line, por meio deste formulário eletrônico. Para participar das oficinas do dia 9, que são pagas, é obrigatória a presença nas atividades dos dois dias anteriores, conforme consta no formulário. O valor e a forma de pagamento serão informados, por e-mail, pela equipe do CBR.

A programação completa do Fórum está disponível neste link.

Outras informações:
(32) 2102-3255 (Centro de Biologia da Reprodução)