No campo biomédico, o uso de animais é imprescindível para diversas pesquisas, como no desenvolvimento de insumos relacionados à saúde pública. Isso porque os experimentos precisam ser testados em um modelo antes de seu uso ser autorizado em seres humanos. O nome dessa ciência é bioterismo, um instrumento que visa preservar as boas condições de vida dos animais de laboratório, bem como suas características genéticas, seguindo rigorosamente parâmetros sanitários, de alimentação e climatização. 

Semana Internacional do Técnico em Animais de Laboratório, organizada pela Associação Americana, será realizada entre 30 de janeiro e 5 de fevereiro (Arte: Divulgação)

Para homenagear os profissionais que atuam no biotério e destacar a relevância  desta atividade, comemora-se a Semana Internacional do Técnico em Animais de Laboratório, evento organizado pela Associação Americana de Ciência de Animais de Laboratório, que acontece entre os dias 30 de janeiro e 5 de fevereiro. 

Diretora do Centro de Biologia da Reprodução (CBR) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a professora Vera Peters manifesta, em nome da instituição, o agradecimento a esse profissional pela sua atuação como ponte entre o animal e o avanço da pesquisa. “A partir do momento em que a importância e a forma de se utilizar animais for melhor entendida por todos, essa atividade deixará de ser vista com base nos conceitos previamente estabelecidos de uma prática danosa”, salienta. 

Para a pesquisadora, a Ciência em Animais de Laboratório contribui para o desenvolvimento tecnológico e científico nas áreas biológicas e da saúde. “Durante o período de 1901 a 2021, dos 222 premiados na categoria Fisiologia ou Medicina do prêmio Nobel, 182 usaram modelos animais em suas pesquisas”, informa. 

“Basta olhar para o período de pandemia que estamos vivenciando: o avanço tecnológico na produção de novas vacinas dependeu de estudos conduzidos através de modelos experimentais”, complementa. Além disso, todas as vacinas hoje utilizadas, que já erradicaram diversas doenças, geraram medicamentos para o tratamento de diferentes enfermidades – como câncer, neuropatias, cardiopatias – e foram desenvolvidas dessa tecnologia. 

“A partir do momento em que a importância e a forma de se utilizar animais for melhor entendida por todos, esta atividade deixará de ser vista com base nos conceitos previamente estabelecidos de uma prática danosa” (Vera Peters).

Bioterismo na prática

Denomina-se de biotério as instalações nas quais são produzidos, mantidos ou utilizados animais para atividades de ensino ou de pesquisa científica, que possuem infraestrutura adequada para atender aos requisitos ambientais, sanitários e de bem-estar animal para a espécie utilizada. Portanto, o profissional da área executa funções de manejo e cuidados com a saúde desses animais. 

A técnica em bioterismo do CBR/UFJF, Andressa Ferreira, afirma que as normas preconizadas dentro da Ciência em Animais de Laboratório são aplicadas em todo o processo desde a criação à experimentação com os modelos animais. “Utilizamos protocolos e procedimentos estabelecidos pelo Centro como, por exemplo, os de boas práticas de laboratório e a aplicação de normas de biossegurança. Todos esses protocolos e procedimentos são aliados ao treinamento e capacitação constante pelo qual passamos”, pontua.

Dentre as atividades desempenhadas, é possível citar o preparo do ambiente e dos materiais, o monitoramento das condições ambientais e físicas das diferentes áreas da instalação e o registro de dados dos animais sobre o acasalamento e demais etapas do seu desenvolvimento, possibilitando rastrear toda e qualquer ocorrência ao longo de sua vida. 

“O profissional que atua nos biotérios detém os conhecimentos necessários sobre a legislação, genética, nutrição, manejo e comportamento, que vão resultar na manutenção da saúde e bem-estar do animal que será utilizado na pesquisa. Atuando junto ao pesquisador, o técnico em bioterismo auxilia no monitoramento de todas as etapas da pesquisa científica, contribuindo para gerar resultados confiáveis e reprodutíveis”, observa Ferreira, que há três anos atua no Centro de Biologia da Reprodução. 

Regulamentação ética

As instalações do biotério do CBR da UFJF seguem parâmetros rigorosos de alimentação e climatização para os animais (Foto: Divulgação)

A área de experimentação com modelos animais é amplamente regulamentada pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e acompanhada de perto pelas Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) institucionais. O Concea é um órgão integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações de caráter normativo, consultivo, deliberativo e recursal. 

Entre suas atribuições, é possível mencionar a formulação de normas para utilização de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica, bem como para os procedimentos de instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios de experimentação animal. O Conselho também é responsável pelo credenciamento das instituições que desenvolvem atividades nessa linha.

Coordenadora da Rede Mineira de Bioterismo, Vera Peters – que também já presidiu a Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório – explica que a Comissão de Ética no Uso de Animais é condição indispensável para que qualquer instituição legalmente estabelecida em território nacional que produza, mantenha ou utilize animais para ensino ou pesquisa científica possa requerer o credenciamento no Concea. As CEUAs são responsáveis por examinar previamente os protocolos experimentais aplicáveis aos procedimentos de ensino e de projetos de pesquisa científica a serem realizados na instituição à qual esteja vinculada, para determinar sua compatibilidade com a legislação aplicável. 

Centro de Biologia da Reprodução

Com mais de 50 anos de história, tendo sido criado na década de 1970, o Centro de Biologia da Reprodução (CBR) da UFJF é uma estrutura de pesquisa multiusuário, vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp). Como base de apoio ao desenvolvimento científico da comunidade acadêmica da Universidade e de outras instituições, o CBR busca a sintonia das atividades desenvolvidas nos âmbitos científicos e sua aplicação nas áreas biomédicas, viabilizando os alicerces para o desenvolvimento da chamada pesquisa translacional.

O Centro se divide em ensino, pesquisa e extensão de forma interdependente e interligada. Suas atividades buscam o desenvolvimento tecnológico e a inovação, a partir de modelos para estudos pré-clínicos. O CBR já implantou e validou diferentes modelos para pesquisas de enfermidades como enfisema pulmonar, doenças renais crônicas e agudas, doenças cardiovasculares, Alzheimer e obesidade, além de estudos na área da biologia da reprodução, toxicologia reprodutiva e neurociência.

Equipe técnica do Centro de Biologia da Reprodução conta com técnicos administrativos, de biotério e de biotecnologia, bem como terceirizados (Foto: Divulgação)

Atualmente, conta com sete laboratórios destinados à produção e manutenção do modelo animal, experimentação e análise de saúde do material biológico proveniente do controle e da experimentação. Os laboratórios de controle e análise estão equipados para análises hematológicas, parasitológicas, imunológicas, padrões bioquímicos e hormonais, análises histomorfológicas, além de espaço destinado à manipulação de embriões e banco de embriões; sendo capaz de viabilizar diferentes linhas de pesquisa. 

A equipe é constituída em sua maioria por profissionais de nível superior com conhecimento na área de Ciência em Animais de Laboratório, contando com técnicos administrativos, de biotério e de biotecnologia, assim como colaboradores terceirizados. Para maior controle das funções exercidas, um médico veterinário atua como responsável técnico, acompanhando e supervisionando as atividades. Por meio de suas ações, o Centro atua na formação de recursos humanos, capacitando técnicos e especialistas com elevado nível de qualificação.