Os estudantes criaram produtos e instrumentos odontológicos inovadores. (Foto: Sebastião Junior)

Nem parecia a temida avaliação prática de periodontia 1. A tensão e o nervosismo característicos das provas desta disciplina deram lugar a um clima de descontração na tarde da última segunda-feira, 8, durante a realização do primeiro “PerioGame”. Organizados em equipes, cabia aos alunos do quinto período de Odontologia do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) desenvolver cremes dentais e instrumentos usados em tratamentos odontológicos. Estes produtos e tecnologias eram apresentados aos professores da disciplina por meio de vídeos e esquetes teatrais. A forma inovadora de avaliar os estudantes foi idealizada por três docentes do curso e é inspirada em um processo conhecido por metodologia ativa.

Os idealizadores do “PerioGame”: Cleverton Rabelo, Ana Emília Pontes centro) e Fernanda Bello. Foto: (Sebastião Junior)

Fernanda Bello explica que a proposta é colocar os discentes como os principais agentes do aprendizado. “Esse método aperfeiçoa a autonomia individual do aluno, desenvolvendo-o como um todo, para que ele seja capaz de compreender aspectos cognitivos, socioeconômicos, afetivos, políticos e culturais. Com ela, o estímulo à crítica e reflexão são incentivados pelo professor que conduz a aula, mas o centro desse processo é, de fato, o próprio aluno”. Bello é a responsável – juntamente com outros dois docentes, Cleverton Rabelo e Ana Emília Pontes – pela implementação deste tipo de avaliação na disciplina.

O que muda
Antes da primeira edição do “PerioGame”, as provas de periodontia 1 utilizavam a metodologia tradicional de arguição oral. Um a um, em laboratório, os estudantes eram questionados pelo professor acerca dos conteúdos da disciplina. Além disso, precisavam demonstrar os conhecimentos técnicos por meio de intervenções em uma espécie de boneco. Todo esse processo, segundo Rabelo, “gerava um grande estresse nos alunos”, que viviam momentos de muita tensão antes dos exames. A modalidade de avaliação, que testava mais o controle emocional do aluno do que propriamente o seu conhecimento, começou a incomodar os três docentes, que então decidiram buscar uma alternativa à forma convencional.

Para Braion Starly, o método estimula aprendizado e senso crítico. (Foto: Sebastião Junior)

Atualmente cursando o sétimo período de Odontologia na UFJF-GV, Braion Starly experimentou essa sensação. De acordo com ele, era comum saber fazer o procedimento, mas na hora o “medo tomava conta” e prejudicava o desempenho do discente. Isso acontecia porque quem era avaliado não tinha a noção do que iria “cair” na prova. Na opinião de Starly, o novo método “estimula muito o aprendizado e o senso crítico”.

Aprendendo com humor
O primeiro “PerioGame” foi marcado por apresentações carregadas de humor. Era praticamente impossível não rir com as paródias, imitações de duplas sertanejas e com a versão de um programa televisivo. Todo recurso era muito bem-vindo pelas equipes pra transmitir o conteúdo aos professores e demais alunos.

Breno Borges se vestiu de creme dental para chamar a atenção dos avaliadores. (Foto: Sebastião Junior)

Breno Borges, do quinto período, gostou dessa nova forma de avaliação. O estudante – que se vestiu de creme dental para chamar a atenção para as qualidades do produto concebido pelo seu grupo – afirmou que é muito difícil conter o nervosismo nas atividades práticas do curso e que em provas como a da última segunda-feira o aluno “fica mais tranquilo e aprende até mais”. A razão, segundo ele, é que o discente “sabe que todo mundo vai ver e não quer fazer feio” e, assim, “tem que pesquisar muito mais porque não pode passar qualquer coisa para quem está ouvindo, muito menos para os professores”. Por isso, Borges defende que a experiência seja adotada por outras disciplinas do curso.

Lisa Morais e Suéllen Siqueira defendem que o clima descontraído da avaliação favorece o desempenho do estudante. Foto: Sebastião Junior)

As duas colegas de classe dele tiveram a mesma percepção. Lisa Morais integrou a equipe que fez uma paródia da dupla Maiara e Maraisa para convencer os avaliadores de que o instrumento odontológico que desenvolveram era inovador. Para “Maralisa”, a experiência “é uma forma de canalizar tudo o que aprendeu no período de uma forma mais suave”, já que “aprende e, ao mesmo tempo, descontrai”. O mesmo pensa a outra componente do grupo, Suéllen Siqueira.“Não acho que uma prova prática como temos em outras disciplinas seja a melhor forma para avaliar, porque está todo mundo muito nervoso e acaba errando, não por não saber, mas por nervosismo mesmo. E dessa forma sai todo mundo leve”, afirmou.

E é justamente essa leveza que os organizadores do “PerioGame” querem disseminar para as demais disciplinas de Odontologia e para os outros cursos da UFJF-GV. Por ser uma proposta recente, Bello reconhece que as metodologias ativas ainda encontram certa resistência entre alguns professores, mas ela defende que “é preciso colocar as pessoas para pensar, refletir e sair da zona de conforto”. O desejo da docente é que o aprendizado seja trabalhado de uma maneira mais participativa, tendo o estudante como protagonista desse processo.