Professor Reinaldo Duque é coordenador do NAGÔ (Foto: Dante Rodrigues)

Você já comeu um bolo de oiti? Já tomou um suco da polpa da chuva de ouro? Já provou o gosto do filémigNoni?

Os ingredientes citados acima são plantas facilmente encontradas em Governador Valadares e que podem ser utilizadas na preparação de uma série de alimentos, mas que ainda assim são desconhecidas por grande parte da sociedade.

Facilmente encontrados em GV, com os frutos do oiti pe possível fazer bolo, farofa e pudim (Foto: Dante Rodrigues)

As Plantas Alimentícias Não Convencionais, chamadas de PANCs, foram tema de uma atividade realizada pelo Núcleo de Agroecologia da UFJF-GV (NAGÔ), na manhã desta quarta-feira, 05, no bairro Ilha dos Araújos. Às 07h30, os integrantes do grupo se reuniram para apresentar aos participantes da caminhada PANC uma série de espécies de plantas que podem ser consumidas nas refeições e que são encontradas na orla da Ilha. A atividade fez parte da programação da Semana do Meio Ambiente, promovida pela prefeitura de Governador Valadares.

Com a polpa da chuva de ouro é possível fazer geleia, mousse e suco (Foto: Dante Rodrigues)

De acordo com Reinaldo Duque, professor do Departamento de Ciências Básicas da Vida e coordenador do NAGÔ, um levantamento preliminar identificou mais de 60 espécies de PANCs na Ilha dos Araújos. “Muitas dessas PANCs, como o cariru, beldroega, tirica, damiana, assa-peixe, dentre outras, que são tratadas como ‘ervas daninhas’ ou até mesmo chamadas de ‘pragas’, podem ser encontradas em calçadas e lotes vagos na cidade inteira. Especialmente na orla da Ilha também encontramos muitas espécies frutíferas, nativas e exóticas, e plantas ornamentais comestíveis, como as flores do ipê e do hibisco”, afirmou Duque.

Com os frutos do Noni é possível fazer o filémigNoni. A polpa pode ser utilizada em mousse (Foto: Dante Rodrigues)

O professor ressalta que algumas PANCs foram alimentos consumidos cotidianamente no passado, como o ora-pro-nobis, araruta, caratinga, cará-roxo, mas caíram em desuso ou foram “esquecidas”. “Com as mudanças culturais nos hábitos alimentares durante o processo de industrialização da alimentação, tais plantas muitas vezes foram tratadas de maneira pejorativa como se fosse ‘mato’ ou ‘alimento de pobre’ e que ‘chique’ seria comprar verdura com agrotóxicos nos supermercados”.

Há, por outro lado, PANCs que podem ser alimentos tradicionais em alguns lugares e não serem sequer reconhecidas ou apreciadas em outros locais. “Por exemplo, o pequi é um alimento tradicional no cerrado brasileiro, mas é uma planta alimentícia não convencional na Mata Atlântica e na nossa região”, destacou Reinaldo Duque.

Aos interessados em consumir as PANCs, o professor faz alguns alertas. “Logicamente para a colheita e consumo de PANC deve-se tomar alguns cuidados, como evitar a coleta em locais com riscos de contaminação por poluição ou em jardins onde se usa herbicidas tóxicos como o glifosato. E como todo vegetal que utilizamos na alimentação deve-se lavar e higienizar antes do preparo para o consumo”.