Ananda Martins e Roni Duque palestraram no evento desta quarta. (Foto: Maria Clara Leite)

Tradicionais entre os estudantes e professores da área da saúde em Governador Valadares, as ‘Quartas científicas’ são eventos que reúnem profissionais e acadêmicos na discussão de temas comuns à vivência clínica e ao universo da profissão. O encontro desta semana teve como tema a Espiritualidade na prática clínica, e foi promovido pela Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Liase) em parceria com o Hospital São Lucas de Governador Valadares.

Evento reuniu profissionais e estudantes da Saúde. (Foto: Maria Clara Leite)

“Os convidados ministraram palestras que abordaram evidências científicas sobre essa influência da espiritualidade em estudantes e pacientes, através de estudos publicados em todo o mundo”, explicou o vice-presidente da Liase, Lucas Sena. Palestraram no evento a presidente da Liga, Ananda Martins, e o médico egresso da UFJF-GV, Roni Duque. A atividade contou com a presença da professora do Instituto de Ciências da Vida, Fernanda Ferreira, de estudantes de diferentes instituições e também da comunidade valadarense.

De acordo com Roni Duque, muitos profissionais de saúde têm dificuldade em tratar da espiritualidade na prática da profissão, por isso os palestrantes desenvolveram uma abordagem mais prática, clínica, dividida em três temas: as evidências sobre a importância da saúde na espiritualidade, as maneiras e motivos de se abordar o assunto, e a distinção entre experiências espirituais e transtorno mental. O debate, segundo ele, buscou reforçar a importância da crenças na conduta do tratamento clínico, dado já comprovado pela literatura científica: “fomentar a discussão do tema nas universidades, acabar com preconceitos que existem ao se abordar as crenças dos pacientes e sua importância no tratamento”, pontuou.

Como legado do evento, Lucas Sena destacou, também, as mudanças no olhar dos profissionais para os pacientes. “Eles têm se preocupado em enxergar o paciente de uma forma mais ampla, global, não apenas como uma pessoa em condição de saúde, mas visualizando o paciente nos aspectos físico, mental e espiritual”. O estudante explica que artigos e trabalhos relacionados ao tema comprovam como é importante abordar questões de espiritualidade com o paciente: “se queremos ser profissionais completos, é preciso se preocupar com essas abordagens”, finalizou.

O interesse e o estudo sobre a espiritualidade nos meios acadêmicos têm aumentado nas últimas décadas, e o mesmo crescimento tem sido acompanhado pelo Brasil, embora ainda menor em relação aos grandes polos científicos do mundo. Segundo dados da Liase, em 1999, a Organização Mundial de Saúde incluiu o item “Dimensão espiritual” como sendo um dos componentes para a saúde integral do indivíduo, o que despertou o interesse de pesquisadores para quantificar e qualificar essa dimensão na prática clínica. “Espiritualidade não significa religião, e não depende necessariamente de uma religião para existir. No Brasil, como temos muitas crenças, as pessoas costumam desenvolver a religiosidade a partir das instituições religiosas, porém esse não é o único meio de se desenvolver a espiritualidade do indivíduo”, finalizou Roni.