Comissão avaliou que os estudantes ocupam as vagas legitimamente (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

Comissão avaliou que os estudantes ocupam as vagas legitimamente (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) promoveu uma reunião nesta quarta-feira, 15, com estudantes cotistas que tiveram processos de denúncia de suposta fraude em cotas arquivados pela comissão de sindicância. Das 92 denúncias recebidas, 51 foram consideradas improcedentes, uma vez que a comissão considerou que esses alunos ocupam legitimamente as vagas. O encontro contou com a presença do reitor Marcus David, da vice-reitora Girlene Silva e do diretor de Ações Afirmativas da Universidade, Julvan Moreira de Oliveira.

O diretor de Ações Afirmativas agradeceu a presença dos estudantes, reconheceu a tensão por trás do processo investigativo, ressaltando a necessidade do sistema de cotas. “A maioria dos alunos investigados são calouros. Sei que o processo foi difícil e doloroso, mas houve denúncia e precisamos esclarecer. As cotas são importantes para garantir o acesso de todas as camadas da sociedade à Universidade pública. Vamos trabalhar para aprimorar o processo.” Assista ao vídeo.

Para recepcionar os estudantes, o reitor Marcus David enfatizou a importância da participação coletiva e o motivo que levou à promoção do encontro. “Houve um desconforto da comissão ao perceber que o processo foi desgastante para aqueles com denúncia improcedente, por isso a sugestão para que organizássemos essa reunião. A UFJF adotou o sistema de cotas antes mesmo da lei federal, porque é uma política fundamental para garantir diversidade, pluralidade, democracia e tentar corrigir um pouco da dívida histórica. Justamente por isso, não podíamos deixar as denúncias sem apuração. Vocês estudantes são muito bem-vindos e a UFJF está orgulhosa de cada um aqui presente.”

A vice-reitora Girlene Silva afirmou que o encontro “fortalece o compromisso com a Universidade pública, gratuita e de qualidade”. Após ouvir sugestões de aprimoramento e de evolução em eventuais processos como esse, Girlene afirmou que todas elas serão consideradas. “Não é um assunto fácil, ainda mais para nós que temos um histórico de escola pública. Nossa primeira reação é de não acreditar que alguém possa ter a coragem de tentar burlar um sistema de cotas. Fico feliz em saber que nenhum de vocês se enquadra nessa questão. Cabe à instituição tomar providências para que as cotas não sejam banalizadas. Mesmo sendo difícil, temos que investigar a fim de que os direitos conquistados não sejam perdidos.”

Uma estudante do segundo período de Engenharia Civil conta que, apesar de considerar o processo difícil, ficou tranquila por não ter dúvidas de sua identidade e parabenizou a condução adotada pela comissão. “Precisei correr atrás de provar algo que eu nem sabia como fazer. Minha prova é minha pele, minha mãe negra. Mesmo assim, entendo que é algo novo e parabenizo a comissão pela ótima postura. Eu me senti à vontade e a entrevista foi muito bem conduzida.”

Outra aluna, do segundo período de Pedagogia, acredita que o motivo da denúncia contra ela tenha sido vingança. “Levei as provas até a comissão, como fotos e testemunhas, porque eu me considero parda, se dissesse que sou branca, estaria mentindo. Agora, estou aliviada e posso curtir esse momento de conquista por estar na UFJF, com muita felicidade e estudos.”

Sobre a comissão

A comissão de sindicância, composta por três docentes e dois técnico-administrativos em educação, criada pela UFJF para apurar os possíveis casos de fraude no sistema de cotas raciais, concluiu em meados de julho a análise das denúncias. Do total de casos denunciados à Ouvidoria Geral da instituição, 68 estudantes foram entrevistados, 51 são pardos, ocupando de forma legítima as vagas do sistema de cotas. Outros 17 casos foram acolhidos e encaminhados à Reitoria, para abertura de processos administrativos, que podem resultar em perda do direito à vaga na UFJF. Os trabalhos foram presididos pelo diretor de Ações Afirmativas da Instituição e pesquisador da temática étnico-racial, Julvan Moreira de Oliveira.

Campus Avançado de Governador Valadares

Entre as denúncias de possíveis fraudes nove casos eram referentes ao campus de Governador Valadares. Após análise da Comissão de Sindicância cinco destas denúncias foram consideradas improcedentes. Durante visita ao campus avançado na última terça-feira, dia 14, o reitor Marcus David se reuniu com os estudantes denunciados que tiveram os processos arquivados. “A Universidade valoriza muito o sistema de cotas e entende que esta política é fundamental para criar condições de acesso ao ensino superior e para atuar de forma concreta na diminuição da desigualdade em nosso país. Porém, com o bombardeio de denúncias, o próprio sistema de cotas foi ameaçado.  Então tivemos que abrir este processo para dar uma resposta. O resultado desta sindicância demonstra que vocês estão resguardados e que não há nenhum tipo de privilégio”.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Graduação, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo; o diretor de ações afirmativas, Julvan Moreira de Oliveira; e o secretário geral, Rodrigo de Souza Filho.

Outras informações: Comissão conclui apuração de 92 denúncias de fraude nas cotas