O professor de Educação Física e especialista em psicologia do esporte, Renato Miranda, aponta que a rapidez do torneio é um dos aspectos que aumenta a expectativa dos jogadores (Foto: Iago de Medeiros)

O professor de Educação Física e especialista em psicologia do esporte, Renato Miranda, aponta que a rapidez do torneio é um dos aspectos que aumenta a expectativa dos jogadores (Foto: Iago de Medeiros)

São 32 seleções, 64 jogos, um mês de competição. A Copa do Mundo é um torneio curto, intenso e de grande repercussão. Os atletas, portanto, precisam estar preparados para lidar com situações adversas e, diante da pressão, o fator decisivo na disputa pelo título pode estar fora de campo: o psicológico.

O professor de Educação Física e especialista em psicologia do esporte, Renato Miranda, que lançou livro sobre o assunto no dia 7 de junho, aponta que a rapidez do torneio é um dos aspectos que aumenta a expectativa dos jogadores. “São só sete jogos para o time que chega na final, mas emocionalmente é um torneio muito intenso. Eu costumo dizer que essa é a chance de um atleta entrar para a história do futebol jogando apenas sete jogos”, afirma o pesquisador.

Na primeira fase, as seleções são divididas em oito grupos, nos quais duas se classificam para as oitavas de final. A partir da segunda fase, os confrontos passam a ser decididos em jogo único e, em caso de empate, há prorrogação e disputa de pênaltis para determinar qual delas se classifica para a etapa seguinte. Miranda defende que, embora haja pressão desde a primeira fase, é no mata-mata que está a tensão maior.

Como controlar o psicológico na Copa?

A psicologia aplicada no esporte tem como preocupação principal a melhoria do desempenho do atleta, com foco no desenvolvimento de habilidades psicológicas do jogador. “É mais um elemento de treinamento, como é a preparação física, técnica e tática”, explica o professor.

Durante a Copa do Mundo, as habilidades psicológicas dos jogadores serão testadas com frequência e é preciso foco para manter a concentração em todos os instantes da partida, além da preocupação em manter a boa atmosfera do grupo. Miranda conta que a Copa é um momento dramático para o atleta, mas que tirar a tensão do torneio significaria também tirar a graça. “O atleta tem que aprender a conviver com isso. É o que eu sempre digo: o atleta que reclama da pressão da mídia, da torcida e do adversário, é um atleta destreinado. Ele não pode reclamar de algo que, na verdade, é o grande baluarte do divertimento no esporte, que é a tensão”.

O segredo, segundo Miranda, é as seleções manterem a emoção equacionada, alto índice de concentração, ótimo índice de motivação, ansiedade e estresse controlados, além de pensarem em um jogo de cada vez e estarem preparadas para o pior sempre. “Vencer a Copa é uma tarefa com uma cara muito mais psicológica do que física, porque os atletas são bons e sabem jogar. Então o que pesa é se eles estão saudáveis e psicologicamente fortes”, diz Miranda.

– De que maneira as seleções podem controlar a parte emocional?

– A Copa é a competição em que o psicológico é mais decisivo, por ser um torneio muito intenso e muito rápido. Você não tem tempo para se reabilitar, não tem uma segunda chance. A Argentina quase empatou com o Irã e a Alemanha quase perdeu para Argentina. Imagina! México quase eliminou a Holanda, o Brasil quase caiu para o Chile. Então, é preciso cuidado com a parte emocional, não pode exagerar na emoção, tem que ter harmonia. Muita alegria, muita festa, muita tensão, muito choro. Não pode ter nada disso. E na parte cognitiva tem que ter um plano de ação, tanto na parte tática quanto na emocional.

“A Copa é a competição em que o psicológico é mais decisivo, por ser um torneio muito intenso e muito rápido. Você não tem tempo para se reabilitar, não tem uma segunda chance”

– Como é trabalhada a psicologia do esporte no Brasil?

-Tradicionalmente o atleta brasileiro tem uma certa resistência à psicologia no esporte porque, por um motivo ou por outro, os trabalhos organizados, não tiveram uma repercussão muito positiva. Às vezes esse trabalho era realizado por especialistas que não entendiam de futebol e o atleta odeia quando o especialista vai falar de emoção e de ansiedade, mas não entende nada de futebol. Enfim, é uma situação que o Brasil tem que amadurecer ainda.

Nós já passamos por isso em outras áreas como na fisioterapia e preparação física. Não existia preparador físico, nem auxiliar técnico ou analista de desempenho. As coisas só vão se sofisticando. Agora, por outro lado, os atletas que estão na seleção brasileira têm trabalho psicológico nos grandes clubes da Europa onde atuam, o que ajuda muito.

– Como grandes decepções sofridas em edições anteriores da Copa do Mundo, como o caso do 7×1, podem afetar as habilidades psicológicas dos atletas?

– Até uma seleção que teve sucesso pode ser prejudicial, tudo depende da exacerbação e de você usufruir da experiência negativa ou positiva. O que o atleta tem que pensar? Primeiro, que ele pode ter outra decepção. Talvez não tão exacerbada como essa mas pode ter. O atleta tem que crer que ele pode ser eliminado na primeira fase, que pode perder para um time que não era considerado favorito, porque quando ele pensa nessa situação, a mente vivencia e projeta o tanto o aspecto negativo que isso pode trazer até para a carreira dele. Então ele pensa o que precisa fazer para evitar aquela situação.

O 7×1 influencia tanto os jogadores que estavam em campo quanto os que não estavam. Obviamente, aqueles envolvidos podem ser mais afetados negativamente ou positivamente. O atleta tem que saber usufruir da experiência, negativa e positiva, até na nossa vida. Quando você tem uma experiência muito negativa, se tiver um aprendizado, você vai em frente. Senão você vai cometer o mesmo erro. É sofisticado o assunto, mas não tem muita dificuldade não.

Outras informações: (32) 2012-3281 – Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid)