Pesquisa fornecerá uma série de resultados relacionados à conservação e gestão das populações de baleias, caçadas na região por cerca de 300 anos (Foto: Carlos Olavarria)

Pesquisa fornecerá uma série de resultados relacionados à conservação e gestão das populações de baleias, caçadas na região por cerca de 300 anos (Foto: Carlos Olavarria)

Para realizar o primeiro estudo desde o fim da caça às baleias-francas na região, uma equipe de pesquisa internacional viajou, no início deste ano, até a ilha subantártica da Geórgia do Sul. Entre os pesquisadores envolvidos, o único brasileiro é o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Artur Andriolo. Especializado na área de comportamento e ecologia de mamíferos, Andriolo é um dos responsáveis por descrever, pela primeira vez na história, a trajetória de migração das baleias Jubartes, que se reproduzem na costa brasileira.

“Devido ao meu conhecimento de acústica e telemetria de mamíferos marinhos na Antártica, há dois anos atrás, fui convidado a integrar o projeto para estudar as baleias-francas na região das Geórgias do Sul, coordenado por Jennifer Jackson, do Programa Antártico Britânico. O projeto foi aprovado para dois anos de cruzeiros para estudos das baleias nessa região e, portanto, agora é primeiro cruzeiro que fazemos juntos”, esclarece Andriolo.

O estabelecimento de parcerias e convênios internacionais permitem que a UFJF e, consequentemente, o Brasil, participem ativamente das discussões e decisões sobre as estratégias para o futuro do planeta”
Artur Andriolo

A ecologista Jennifer Jackson ressalta o quanto as baleias da região da expedição científica ainda são pouco conhecidas, além da expectativa dos pesquisadores para entender o motivo por trás da aparição de filhotes de baleia mortos na região marítima próxima à Argentina. A perseguição a esses animais no Atlântico Sul aconteceu por cerca de 300 anos e, desde o seu fim, na década de 1970, é esperado que a população local das baleias apresente um quadro de recuperação. “Nós queremos saber quantas baleias passam por essas águas, onde e como estão se alimentando, e o quão saudáveis elas estão. Em última instância, queremos compreender como a população de animais está se recuperando depois de séculos de caça. Além disso, nos últimos 10 anos foram encontrados filhotes mortos na costa da Argentina e, nesse trabalho, pretendemos também desvendar o mistério dessas mortes.”

O canto das baleias é o segredo para conhecê-las
Os cientistas utilizam a acústica para encontrar os animais que, uma vez localizados, são fotografados — os padrões de manchas na pele da região das cabeças das baleias-francas são como nossas impressões digitais, servindo como uma maneira única de identificá-las. Se possível, os pesquisadores também etiquetam os animais, com o objetivo de rastreá-los por satélite, e coletam amostras de DNA. Neste, mediante a análise, estão armazenadas informações sobre a história da população à qual o animal pertence, além de pistas sobre as relações entre demais grupos de baleias.

Os cientistas utilizam a acústica do som emitido pelos animais para encontrá-los (Foto:  M. M., Suíça)

Os cientistas utilizam a acústica do som emitido pelos animais para encontrá-los (Foto: M. M., Suíça)

Andriolo explica que serão analisados os possíveis efeitos das atividades humanas sobre as características biológicas e ecológicas que envolvem as baleias. “O projeto fornecerá uma série de resultados relacionados à conservação e gestão. Os dados satelitais, acústicos e oceanográficos serão integrados para identificar áreas-chave de uso do habitat da baleia e dos padrões de forrageamento no ecossistema marinho da Geórgia do Sul. Um relatório que sintetiza esses achados será apresentado à primeira revisão científica da Área Marinha Protegida (AMP) em 2018 que avalia se os limites de MPA e se os períodos de fechamento da pesca são apropriados para a área de alimentação da baleia franca.”

O Brasil também é envolvido na pesquisa. “As conexões migratórias entre as águas da Geórgia do Sul e as áreas reprodutivas na Argentina e Brasil serão investigadas usando fotografias e genética, ligando indivíduos a registros de avistamentos de longo prazo e histórias reprodutivas, coletando dados biológicos sobre saúde e condição corporal para inferir a qualidade do habitat durante a o período de alimentação e melhorar a compreensão das causas da mortalidade de filhotes associadas a este local de alimentação.”

Enriquecimento para a UFJF e para o país
O contato com novas metodologias e diferentes pesquisadores vão nos permitir ampliar e aprofundar nossa forma de trabalho nas pesquisas, mas também vão abrir oportunidades para os estudantes através de novas cooperações que poderão ser estabelecidas para sua formação”, avalia Andriolo, sobre como o seu papel na pesquisa internacional impacta o trabalho que é realizado na UFJF. “As principais questões relacionadas ao equilíbrio entre o crescimento das atividades humanas e a conservação da natureza, atualmente, só podem ser bem compreendidas a nível global. Sabemos que os processos são sistêmicos e estão relacionados globalmente. Portanto, o estabelecimento de parcerias e convênios internacionais permitem que a UFJF e, consequentemente, o Brasil, participem ativamente das discussões e decisões sobre as estratégias para o futuro do planeta.”

Baleia-franca vista durante mergulho na região da Geórgia do Sul. Local é conhecido por sua diversidade ecológica (Foto: Dave Rootes)

Baleia-franca vista durante mergulho na região da Geórgia do Sul. Local é conhecido por sua diversidade ecológica (Foto: Dave Rootes)

Expedição multidisciplinar
A equipe é composta por oito pesquisadores e três tripulantes, que passarão cinco semanas no navio de pesquisa batizado de “Song of the Whale”. Além de Andriolo, único sul-americano da expedição, e de Jennifer Jackson, pesquisadora central do projeto Whale:SWIM, o grupo de pesquisadores é formado pela ecologista molecular e modeladora estatística, Emma Carroll; pela especialista a nível mundial sobre a acústica de baleias azuis, Susannah Calderan; pelo cientista marinho do International Fund for Animal Welfare, Russell Leaper; pela cientista do Instituto de Estudo da Atmosfera e dos Oceanos da Universidade de Washington, Amy Kennedy; pelo pesquisador do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, Matthew Leslie; e pela mestranda em bioacústica e ecologia comportamental da Universidade do Sul da Dinamarca, Emilie Stepien.

Outras informações:

Whale:SWIM

British Antarctic Survey: Expedition to ‘health-check’ Southern Right Whales